É, meus amigos. Estou quase chegando aos quarenta e queria dizer aos mais novos que já houve um mundo sem internet. Já houve dias em que ouvir os sambas de enredo só era possível depois que os LPs eram lançados e as rádios começavam a executá-los. LP? Rádio tocando samba de enredo? Hã? Como?
Nada de ouvir os concorrentes nos sites especializados. Nada de baixar os áudios. Nada de bate papo virtual sobre carnaval. Nessa mesma época o jornal “O Globo” publicava, na edição do domingo de Carnaval, um caderno especial sobre os desfiles (hoje este material vem encartado na Revista do Globo, como vinha na Revista de Domingo, do saudoso JB).
Neste caderno, uma prévia do que cada escola do Grupo 1-A (claro que a nomenclatura também mudou) levaria para a avenida. E, na última página, uma planilha de julgamento. Você é o jurado, era a ideia da tabela. Eu acho que essa tabela ainda existe. Até hoje. Eu é que não guardo mais o jornal para dar as notas ao assistir aos desfiles pela TV.
Mas havia uma época em que eu não tinha como ir ao Sambódromo e via tudo pela TV. De catorze polegadas. E dava as minhas notas. Notas baseadas somente no gosto pessoal, em alguns quesitos. E no que diziam os comentaristas da TV, em outros. O resultado daquilo, obviamente, não coincidia em quase nada com o júri oficial.
Em parte porque era impossível para uma criança avaliar todos os quesitos de um desfile de escola de samba. Em parte porque a televisão não é capaz de dar essa dimensão completa de um desfile. E em parte também, é verdade, porque o júri oficial, muitas vezes, não expressa mesmo a vontade popular.
Mas tudo isso é para dizer que o Bar Apoteose já julgou os sambas da Série A e fará o mesmo com as obras do Grupo Especial. E eu tive a honra de ser convidado para dar notas para três sambas de domingo. Depois eu prometo publicar aqui as notas completas, para todos os sambas. Para tanto eu vou tentar seguir o modelo oficial de julgamento, levando em consideração letra e melodia.
Minhas notas serão baseadas nesse princípio. No entanto, como o que eu disser/escrever não vai, de fato, para os envelopes deixarei o meu gosto pessoal, minha análise subjetiva, influenciar de alguma maneira.
Enfim, alguns poderão concordar. Outros discordarão. Nada diferente do que acontece na quarta-feira de Cinzas. Para mim será como voltar no tempo. Ao tempo do LP e das rádios. Dos encartes de jornal. Ao tempo em que eu era jurado do Carnaval.
N.E.: assista hoje ao Bar Apoteose a partir das 20h30 ao vivo no canal do Youtube.
Caro Xará rs,
Ouvi ontem suas notas e comentários sobre as 3 ultimas escolas de domingo e peço apenas q vc abra mais seu coração pra esse grande samba da Tijuca ( logo a Tijuca q a mais de uma década não apresenta sambas dignos de uma nota 10, no ano q vem com um samba q a imensa maioria de crônica especializada o destaca como um dos melhores desta grande safra, você procurou com uma lupa potente pequeníssimas imperfeições pra julgá-lo rs ). Se não me engano você deu 9,7 pros sambas da Grande Rio e Mocidade e deu 9,8 pro samba da Tijuca, ou seja, praticamente os equiparou o que data vênia, acho uma comparação um pouco distorcida rs.
No mais deixo aqui meus parabéns e registro q acompanho seu trabalho no jornalismo da Rede Globo e sou um grande fã seu
Abraços e fica com Deus
Gil Fonseca
Oi xará, obrigado pelo comentário. De fato o 9,8 pode ter sido rigoroso. Mas há uma razão. Eu escalonei os sambas por grupos. É uma maneira de julgar. Elegi aqueles que são merecedores de 10. Depois, os que não são 10 por um pequeno detalhe de letra ou melodia. A Tijuca, para mim, não tem um samba que gabarite em letra. E parte (pequena) da melodia não me agrada tanto. Daí o 9,8. Dei 9,7 para Mocidade, Grande Rio e Beija-Flor. De alguma forma, seja por penalizações em letra ou melodia, eles acabaram se equivalendo pelos meus critérios estritamente pessoais. Pelo mesmo motivo Estácio e Ilha ficaram ainda mais abaixo, com 9,6. prometi ao Migão uma coluna com as justificativas. Só esperarei o Bar Apoteose da segunda que vem para não revelar as notas antes da hora. Mas, pode ser que eu tenha tido uma lupa um tanto superpotente diante da obra do Borel. Diante de tantos apelos, vou abrir meu coração sim! A Tijuca merece. Abs
Então primeiramente quero agradecer por ter se dado ao trabalho de me responder e fico muito grato pela consideração. No mais, me atrevo a dizer q na minha modesta opinião considero q seu julgamento deste samba da Tijuca, ficou bastante rigoroso o q se sobressai mais ainda quando adotamos o critério comparativo de notas entre as 12 agremiações como eu anteriormente explanei. Entendo q vc considere q há alguns outros sambas melhores do q o da Tijuca q merecem a nota 10, mas ao dar nota 9,8 pra Tijuca e 9,7 pra Grande Rio e Mocidade principalmente, essa diferença ínfima de 1 décimo não retrata a grande diferença q há tanto na letra como principalmente na melodia entre os sambas da Tijuca e da Grande Rio e Mocidade. Eu considero q esse ano há 2 grupos de sambas bem delineados com uma substancial diferença de qualidade, q no mínimo, ao meu ver, deveriam ser separados por 2 décimos, quais sejam: os 6 melhores : Imperatriz, Mangueira, Tijuca, Salgueiro, Vila e Portela; e o segundo grupo com os outros 6 sambas restantes. Enfim, são debates salutares e proveitosos que fazem parte desse mundo tão fascinante q é o Carnaval. Mais uma vez agradeço sua atenção e o respeito e admiração por vc só aumentou. Um forte abraço e fica com Deus.
P.S. Só o fato de vc dizer q irá abrir seu coração generoso pra esta grande obra da Tijuca já fez valer minha ¨ousadia ¨ em escrever estas linhas rs.