Semana passada escrevi uma coluna aqui sobre violência. Mais especificamente sobre a violência contra a mulher e a forma que ela ainda é tratada pela sociedade.

Quis o destino que eu continuasse no assunto essa semana por eu mesmo ser vítima de violência.

Domingo passado, uma da tarde, portanto em plena luz do dia eu esperava ônibus na Dutra, a principal rodovia fluminense, quando fui abordado por três adolescentes em bicicletas me pedindo o celular. Ignorei a eles e saí andando; me seguraram, começou um embate por eu não querer entregar o aparelho e um deles me deu um soco. Desequilibrei, caí no chão e acabaram pegando o telefone. Só me restou, ensanguentado, ir até a casa de minha noiva me limpar e ir à delegacia prestar queixa.

Não prestei queixa na esperança de recuperar o celular. Isso é idiotice, achar que a polícia da Baixada teria capacidade de fazer isso. Também não fui para aumentar as estatísticas do local e assim intensificar o policiamento (como também é recomendado) porque se eu que frequento o local há menos de dois anos sei que é perigoso, já ouvi várias histórias de roubos e violências e eu mesmo sofrera antes duas tentativas de assalto no mesmo local sei disso, tudo evidente que a polícia sabe.

Falta vontade deles.

via dutraAquela área que faz divisa entre São João de Meriti e Belford Roxo é abandonada pela polícia e pelos governantes. É uma vergonha a forma como o cidadão, que paga seus impostos e faz o correto, é tratado. Antes de conhecer minha noiva ela já levara uma mordida na mão de assaltante ali – que deixou cicatriz. Ninguém faz porra nenhuma.

Evidente que um caso desses dá revolta. Penso em como poderia ter evitado e como não confiei em meu sexto sentido e lamento por isso. Esses moleques passaram por mim antes de chegar à rodovia e algo não bateu bem. Deixei de lado por achar que fosse preconceito meu, já que eram adolescentes negros. Não confiei em meu instinto.

Passaram dois ônibus que serviam para mim e não peguei porque ainda estava pegando o dinheiro e gosto de entrar no ônibus já com o mesmo na mão. Fui por um caminho que sei que é mais perigoso sabendo que era acreditando que por estar de dia não seria tanto. Esquecendo que já ouvira casos desses ali no mesmo horário em fim de semana, quando fica mais deserto.

Mas como eu disse no caso da mulher em que falei que culpam sua roupa por sofrer violência mesmo com todos esses sinais é inadmissível que ocorram assaltos com luta corporal de tarde em uma rodovia tão intensa e ninguém faça nada, que nenhum carro pare ou mesmo jogue o veículo em cima para parar a confusão ou que não tenha ronda da polícia.

Revoltou, deu vontade de pegar uma arma, voltar lá e esperar esses moleques para encher de tiros. Mas graças a Deus essa revolta durou só alguns minutos.

Sou humanista, acredito no ser humano e em sua recuperação, mesmo desses moleques. Não sei o que levou a eles serem assim ou se ainda teriam jeito, sei nada sobre eles e eles nada sobre mim. Mas sei que a boca machucada está quase boa, daqui a pouco terei um celular de novo e continuei minha vida feliz cheia de vitórias nos últimos anos, com a mulher que amo, filhos maravilhosos e grandes projetos para o futuro.

E eles? Tiveram um dia chance de algo na vida? Não sei.

marin_1reutersNão sou santo; claro que estou irritado e se pudesse ainda daria uma porrada neles, mas não é um caso desses que me fez mudar o modo de pensar. Sempre fui contra redução da maioridade penal e adepto da tese que em local que tem mais escolas, mais cidadania tem menos presídios e respondiam “quero ver quando acontecer contigo”.

Pois bem, aconteceu e continuo com o mesmo pensamento. Esses moleques são bandidos, levaram meu celular, não me respeitaram, mas tem gente muito pior por aí que nos desrespeita a cada dia e nos leva muito mais que um aparelho telefônico.

Esses três moleques são mais bandidos que o José Maria Marin, que para ficar em prisão domiciliar em Nova York pagou quinze milhões de dólares? Como o senhor Marin, com serviços tão desprezíveis e nojentos prestados ao país desde os tempos da ditadura tem quinze milhões para dar assim?

Como eu posso colocar esses moleques como os maiores vilões quando governo e oposição acobertam o pilantra safado do Eduardo Cunha, um bandido com contas na Suíça, apenas por interesses escusos?

Amigo. O exemplo vem de cima. Para ter segurança, para que a gente possa pegar ônibus em paz tem que vir de cima.

Isso não vai ocorrer enquanto os colarinhos brancos nos derem soco na cara.

E esse soco é pior de aceitar.

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Imagens: O Dia e Reuters