O mercado de cervejas artesanais brasileiras está mudando consideravelmente nos últimos meses. Além de novas microcervejarias sendo inauguradas, “apesar da crise”, por todo o Brasil, as aquisições de cervejarias artesanais líderes de mercado pela Ambev, como a Wäls e, posteriormente, a Colorado, podem ser vistas como uma tentativa de minar ou ao menos dificultar o crescimento do mercado de artesanais.

Nos Estados Unidos, a empresa segue uma estratégia similar, iniciada em 2011 com a aquisição da Goose Island, de Chicago. O mercado americano, no entanto, está aproximadamente uns 10 anos a frente do mercado brasileiro, o que justifica esse movimento acontecendo em território nacional. Enquanto lá comprar uma cervejaria artesanal é visto como uma estratégia para se inserir num filão com 15% do mercado de cervejas – ainda em crescimento, no Brasil, a aquisição de pioneiros pode ser vista com outros olhos.

gooseislandtapsTomando como comparação o mercado de informática, é comum vermos aquisições de potenciais concorrentes para evitar problemas futuros ou mesmo melhorar produtos já existentes. A Google, mesmo com seu produto Google Maps, realizou a aquisição do Waze em 2013. É mais fácil inserir as informações provenientes do Waze no já consolidado Maps a criar todo um ecossistema para que os usuários do seu sistema enviem as informações desejadas – além de eliminar a concorrência em potencial.

Voltando ao mercado de cerveja nacional, o principal impacto que deve ser sentido pelas microcervejarias é em termos de mobilização. Tanto José Felipe (Wäls), quanto Marcelo Carneiro (Colorado), eram considerados líderes do mercado não só por volume de vendas, mas pela capacidade de mobilizar cervejeiros em defesas de pautas consideradas importantes pelo mercado, como a mudança de legislação pelo Ministério da Agricultura ou mesmo a aprovação do Simples para Microcervejarias, ainda em discussão na Câmara.

Com esses dois nomes do lado da Ambev, as microcervejarias perdem esses nomes de peso na luta. Movimentos que antes poderiam ser capitaneados por esses dois nomes, perdem seus líderes e assim o mercado de cerveja artesanal corre o risco de perder uma força que começava a se mostrar poder.

eisenbahnAntes que a Ambev seja considerada a vilã por essa estratégia, devemos lembrar que um movimento similar foi realizado pela Schincariol (hoje Brasil Kirim) em 2007, quando adquiriu a Baden Baden e a Eisenbahn na sequência. Juliano Mendes, antigo proprietário da cervejaria de Blumenau, atua até hoje como consultor da marca, enquanto paralelamente gerencia a Laticínios Pomerode.

Felizmente, a Abracerva, entidade representativa do setor que já foi presidida por Carneiro, está crescendo em participação no setor e se desvencilhando da necessidade de um nome de peso. Para a aprovação do Simples para Microcervejarias, foi organizada uma campanha onde diversas cervejarias doaram barris de chope. A renda proveniente da venda desses barris será aplicada na organização de uma comitiva que fará o lobby junto a congressistas para a aprovação do projeto de lei.

Sobre o futuro das duas cervejarias adquiridas, é difícil ter alguma certeza sobre o que acontecerá e como o mercado responderá à aquisição, mas exemplos vindos de fora são bastante promissores. A própria Goose Island, que esteve no Brasil recentemente para o lançamento de suas cervejas, declarou que recebeu muitos investimentos, além de uma melhoria significativa na qualidade de insumos e logística, mantendo a liberdade criativa para o lançamento de novos produtos. Resta ver esses resultados chegando às gôndolas de mercados e lojas especializadas…

One Reply to “Na hidra da Cerveja Artesanal, mais duas cabeças foram cortadas”

  1. Trabalho no setor e apesar da descrença , nas grandes redes a distribuiçao da Colorado vima ambev já melhorou e barateou ao consumidor. Não acredito que a empresa acabae … vão fazer o belo traalho que a Schin fez na Baden e na eisenbahn

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