Semana passada ocorreu um fato curioso. Foi divulgada uma sinopse como sendo da Porto da Pedra para o carnaval 2016. A mesma foi “bombardeada” pelas redes sociais e a escola tratou de vir a público dizer que a sinopse era “fake”, ou seja, era falsa. Era apenas um esboço entregue aos compositores e divulgada por uma assessoria de imprensa que não podia responder pela agremiação.

Enfim, o samba do crioulo doido (se preferirem por questões politicamente corretas, do afro descendente com transtornos mentais). Alguns acreditaram na história contada pela Porto da Pedra, outro acharam que foi um jeito da escola acabar com a repercussão ruim.

Eu acho nada. Só que não é a primeira sinopse fake da história do carnaval.

Sou compositor desde 1997 e digo: se uma sinopse mal escrita, com problemas, é fake mais de 50% das que peguei são. Fiz 99 sambas na vida, então podem ver que a quantidade é considerável.

uniaodailha13Peguei sinopses maravilhosas, tendo no começo de minha vida como compositor a felicidade de escrever em cima das sinopses de Milton Cunha na União da Ilha com os extraordinários Fatumbi e Barbosa Lima Sobrinho e com Guilherme Alexandre no Boi da Ilha – que de 1998 a 2001 emendou quatro enredos sensacionais, culturais, importantes e que davam alegria em escrever.

Costumo dizer que aprendi tanto com enredos quanto com livros na escola.

Peguei nos últimos anos sinopses divertidas, caprichadas como de Alex de Souza para a União da Ilha, mas também já peguei cada coisa…

Sinopses com exigências como botar nome do enredo todo no samba, sinopses como a vida de Narcisa Tamborideguy ou mosquito da dengue, sinopses em que tínhamos que enfiar o nome do patrocinador na letra ou de carnavalescos que faziam textos para a imprensa, para seu show, não para compositores que tinham que decifrar o que os mesmos queriam. Até tendo que falar sobre bola na primeira pessoa.

Problema é que no carnaval de hoje alguns carnavalescos se sentem as “vedetes”, os artistas do espetáculo e fazem sinopses e enredos para brilharem – esquecendo o resto. Fazem seus nomes e quesitos como “samba” caem de produção.

20150213_221953Por isso costumo brincar (ok, nem sempre é brincadeira) dizendo que sinopses me cansam e só leio as mesmas obrigado não entendendo quem lê apenas porque quer.

Uma vez no Boi da Ilha, já várias vezes campeão na escola, carnavalesco recém chegado na agremiação começou a ditar palavras que deviam estar no samba. Nesse ano fiz parceria com um consagrado compositor e na décima palavra dita pelo carnavalesco falei “esquece isso tudo, vamos fazer do nosso jeito”. Fizemos, ganhamos o samba e ele foi 10 na avenida.

No começo da carreira fiz sobre a ditadura militar e a letra começava com “Caminhando contra o vento”. O carnavalesco perguntou o que significava aquilo, respondi que era de “Alegria, alegria” de Caetano Veloso e ele me perguntou se a música tinha a ver com o enredo. Ali vi que iria dançar no concurso.

Teve um ano numa escola também que só ganhamos o samba, ele foi 10 na avenida e até hoje é cantado nos ensaios porque não entendemos o enredo.

20150216_005623Isso tudo que falei acima são apenas exemplos de que assim como o samba tem que servir para uma engrenagem maior que é o desfile. Enredo e sinopses também têm que servir para isso e um samba bem feito parte de enredo e sinopses de qualidade. Adianta nada fazer um enredo fraco, esboço de sinopse, entregar aos compositores e esperar milagre.

Carnavalescos e compositores tem que ser parceiros para que a escola flua. Não adianta vaidade ou enigmas para dificultar respostas. Sinopse não é prova de colégio. Se o aluno tirar zero é pior para a escola.

Mesmo que a Porto da Pedra esteja certa e fosse apenas algo para consumo interno não podem dar esboço para o mesmo se transformar numa tentativa de 30 pontos pra escola. É risco demais.

Esperamos por sinopses verdadeiras para 2016.

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Facebook – Aloisio Villar