Os polêmicos Estaduais chegam ao fim neste fim de semana.

Cada vez mais esvaziados, cada vez mais deixados de lado e desvalorizados por torcida e imprensa, mas não importa. Várias torcidas gritarão “campeão” neste fim de semana, e enquanto existir a zoação da segunda-feira, os Estaduais terão razão de ser.

Todos os clubes são o que são hoje graças aos Estaduais, que, pelo menos até o começo dos anos 90, eram tão importantes quanto o Brasileiro e mais que a Libertadores.

Para os torcedores mais velhos, um enorme pedaço de seus corações e lembranças é guardado para os Estaduais. Pergunte ao corintiano mais velho e ele lembrará imediatamente do fim da fila contra a Ponte Preta em 77, tanto quanto a Libertadores de 2012. Acredito que nada seja mais importante para o botafoguense quanto o gol de Mauricio em 89 e tenho certeza de que tricolores citarão o gol de Renato em 95 e rubro negros o de Pet em 2001, antes de citarem as últimas conquistas nacionais.

É evidente que não devemos viver apenas do passado e a fórmula dos Estaduais está defasada e tem de mudar. Sou totalmente contrário ao fim. Acho que em um formato mais enxuto ele ainda tem muito a dar. No Rio, por exemplo, o formato usado até 2013 com apenas 12 clubes eu acho ótimo.

A chama do Estadual ainda acende com força e, citando diretamente os quatro principais Estaduais, para pelo menos seis dos oito finalistas, a conquista é importante demais.

galocaldense2015Para o Atlético em Minas, não é; o clube vive a grande fase de sua história, mas para a Caldense é um título histórico. A equipe já foi campeã mineira, em 2012, mas sem a grande dupla da capital. A Caldense, que não toma gols há oito jogos, tem a chance de ser campeã invicta neste fim de semana.

Gre-Nal sempre é importante, até na bolinha de gude. Na minha opinião, é o maior clássico do Brasil em se tratando de tensão e rivalidade. Pro gremista é a chance de voltar a conquistar títulos. A equipe passa por um século difícil, sem grandes conquistas e viu o grande rival dominar o futebol gaúcho, ganhando quase todos os Estaduais e duas Libertadores. É importante para Felipão, que vem do trauma do 7 a 1, ganhar um título em cima do Inter. Ainda mais na casa do adversário.

No “eixo” Rio-SP, os Estaduais serão decididos pelos “patinhos feios”.

O Santos nem vem de uma sequência tão ruim de anos. Ganhou dois Brasileiros na década passada, ganhou uma Libertadores em 2011, vem revelando os melhores jogadores do futebol brasileiro e sempre presente nas finais do paulista. Mas passa por grave crise financeira, mesmo revelando e vendendo tantos talentos, e perdeu seus principais atletas para o começo de 2015.

Era considerada a quarta força de São Paulo. Mesmo assim se reinventou, fez um grande campeonato e agora tem a chance da volta por cima decidindo o título em casa.

Volta por cima que também pode ser dada pelo Palmeiras. Desde 1976 o clube vive de brilhos esporádicos como na era Parmalat e o torcedor vem sofrendo muito nos últimos anos. Rebaixado em 2012, quase caiu novamente em 2014. Mudaram o elenco todo, inauguraram uma arena linda e agora têm a chance de um título. Eliminaram o arquirrival Corinthians, que vem ganhando tudo, e chegam embalados para a partida final depois da vitória por 1 a 0 no jogo de ida.

vascobotafogo2015bNo Rio, o Botafogo precisa muito do título. Teve um 2014 tenebroso, sendo rebaixado antes mesmo da última rodada do Brasileiro. Afundado em dívidas, também teve, assim como o Santos, de se reinventar. Mexeu no elenco todo, contratou jogadores especialistas em Série B, contratou René Simões, mistura de treinador e psicólogo, e fez uma campanha surpreendente, ganhando a Taça Guanabara.

Para o botafoguense, tudo tem de ser dramático. Perdeu um de seus principais jogadores, Jóbson, devido a uma punição muito estranha por doping, e conseguiu a classificação para a final depois de uma dramática disputa por pênaltis com o Fluminense, num claro exemplo de como o Estadual ainda vale muito a pena e pode emocionar.

Mas, falando a verdade: ninguém precisa mais, em lugar nenhum do planeta, ser campeão nesse fim de semana quanto o Vasco.

O vascaíno, acostumado a ser dominante no fim do século passado, é o torcedor mais sofrido desses anos de século XXI entre os torcedores dos 12 grandes. Começou o século perdendo o Estadual de 2001 de forma traumática. Entrou numa fila de títulos estaduais em 2003, engatou uma série de vices-campeonatos para o maior rival. Sofreu dois rebaixamentos em cinco anos, voltou apenas sendo terceiro colocado da Série B, foi humilhado fora de campo, dentro, e, pra culminar, perdeu um título inacreditável ano passado, de forma escandalosa e torpe. Um título que era dele.

Mas, mesmo assim, o vascaíno não desistiu e cada vez mais mostra seu amor ao clube. Em meio a bobagens como “volta de respeito”, pegou o limitado elenco no colo e, criando uma simbiose com esse grupo que se superou, chega na final com favoritismo para finalmente acabar com a fila e voltar a ser feliz.

Final do Rio de Janeiro que mexe não só com vascaínos, botafoguenses, mas todo mundo que ama futebol.

garotinhoapolinhoQuem ligar na Rádio Tupi para ouvir a partida amanhã entrará em um túnel do tempo. Voltará aos anos 80 e 90. Quando o futebol era mais feliz, nós éramos mais inocentes e os Estaduais tinham o peso que mereciam.

O narrador José Carlos Araújo, o “Garotinho”, estreará na Rádio Tupi e 17 anos depois voltará a fazer dupla com o “Apolinho” Washington Rodrigues. Só quem foi criado por rádio e não por TVs a cabo e PPV sabe o significado disso. A emoção disso.

A dupla Garotinho e Apolinho em meu coração tem a mesma importância que Zico e Júnior, Bebeto e Romário, Juba e Lula, Bujão e J.Brito (torcedores da União da Ilha sabem do que falo), é, para mim, a maior dupla do rádio esportivo do Brasil e remete à minha infância e de todos os trintões.

Trintões que ouviam suas transmissões e depois ligavam no “Bola de fogo” com Kleber Leite, Apolinho, Celso Garcia, Áureo Ameno, Francisco Horta, Gerson, Afonso Soares, Sergio Noronha para ouvir as gozações, análises, quem ganharia a suíte champion de melhor jogador e iria para a “pensão da Cremilda” como o pior em campo.

E durante a semana ouvíamos o “Panorama esportivo” com Gilson Ricardo. Bons tempos e boa parte dessa turma junta faz esse colunista feliz e voltar a ser criança.

Que o eterno Garotinho seja vitorioso na Tupi e junto com o Apolinho faça muito ainda para o rádio esportivo brasileiro.

Principalmente. Que a Tupi não seja o Flamengo dos anos 90. Trate bem seus super astros, mas se lembre que os mais humildes precisam receber em dia.

Boa decisão a todos.

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