Cada ano para quem assiste ao carnaval do Rio de Janeiro é uma experiência diferenciada. Tanto pela emoção de ver diante dos olhos, ao vivo, ou na Marquês de Sapucaí, o trabalho de aproximadamente um ano sendo executado em alguns minutos. Nesse curto espaço de tempo, tomando como refrência a elaboração do carnaval, todas as agremiações são avaliadas de maneira técnica por jurados aparentemente aptos para exercer essa função.

E como não deixar o andamento da escola de samba ser prejudicado ou que as eventualidades não ocorram por falhas na elaboração do desfile? Investir na técnica como os quesitos de chão que dependem somente da força da comunidade, aliado a um bom samba enredo ou no espetáculo visual? O segundo prezando a mecânica de alegorias em um mix de adereços completamente articulados, com foliões executando uma coreografia ao lado delas e alas de passo marcado que deem vida e sentido à suas fantasias. O investimento altíssimo superaria a técnica e o luxo?

Analisando retrospectos de quatro carnavalescos muito identificados com o carnaval carioca, bastante conhecidos e seus enredos a partir de 2003 e tendo como base o retorno ao Desfile das Campeãs, sem levar em consideração o fator financeiro, será possível aprofundar o assunto: Mauro Quintaes, Max Lopes, Paulo Barros e Rosa Magalhães.

20150217_050028Dois deles descendentes diretos de Fernando Pamplona, O Mestre do carnaval no Brasil, que trabalham de forma mais técnica e investem nos menores detalhes de cada alegoria e fantasia, Mauro Quintaes que deu seus primeiros passos com Max Lopes e Joãosinho Trinta e Paulo Barros com seus toques que se assemelham aos de Fernando Pinto e valoriza mais as coreografias, a vida sobre suas alegorias (com a técnica de Parintins) mais que outros carnavalescos e os próprios foliões sendo as suas alegorias na qual denominaram alguns jornalistas e especialistas de “Alegorias Humanas”.

Mauro Quintaes iniciou sua carreira solo em 1995 após ser auxiliar de Max Lopes e Joãosinho Trinta nos anos anteriores. Em seu quinto carnaval já foi sucesso no Salgueiro em 1999, garantindo o quinto lugar para a agremiação da Tijuca com o enredo Salgueiro é Sol, É Sal nos 400 anos de Natal. Dentre os carnavalescos que serão analisados foi o que mais teve jornadas duplas e até triplas, assinando carnaval de até três escolas de samba em somente um ano.

Conseguiu por quatro vezes retornar ao sábado das Campeãs do Rio de Janeiro. Três delas elaborou somente um carnaval e somente em 2015, sendo carnavalesco da Unidos da Tijuca, Tom Maior e Unidos de Vilã Alemã conseguiu o feito de estar entre as seis primeiras colocadas no Rio de Janeiro assinando mais de um desfile. Em 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2010, 2012, 2013, desenvolveu o carnaval de mais de uma agremiação – e só conseguiu um campeonato no Rio com a São Clemente em 2010 pelo antigo Grupo de Acesso A. Mauro é simples, investe muito na leitura visual dos desfiles. Em concepção e execução faz um ótimo trabalho com seus componentes.

20150216_023155Max Lopes assinou seu primeiro carnaval com 1976 pela Unidos de Lucas. Ficou conhecido como o Mago das Cores pelo contraste que conseguia fazer entre as fantasias e tem como principal característica o “pompom”, em suas fantasias. No seu terceiro carnaval conseguiu o vice campeonato com a Imperatriz com o enredo Vamos Brincar de Ser Criança. Foi autor do histórico desfile da União da Ilha do Governador com um dos sambas mais conhecidos e cantados do Rio de Janeiro É Hoje, mas conseguiu somente o quinto lugar.

Outros carnavais que também marcaram época e o nome de Max Lopes foram Yes, nós temos Braguinha (Mangueira campeã de 1984), Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós! (Imperatriz campeã de 1989) e Brasil com “Z” é pra cabra da peste, Brasil com “S” é nação do Nordeste em 2002 que rendeu seu último campeonato como carnavalesco e o último da Mangueira até então. Em 2003, 2004, 2005, 2006, 2007 e 2011 retornou às Campeãs, sendo o último ano com a Imperatriz e os anteriores com a Mangueira, colecionando seis sábados das Campeãs. Ultimamente tem sofrido duras críticas e dizem que seu estilo está ultrapassado para o carnaval carioca.

Paulo Barros, o nome do carnaval, iniciou sua carreira na Vizinha Faladeira em 1994. Era um nome desconhecido fora do meio especializado até 2003, quando assumiu o carnaval da Tuiuti com o enredo “Tuiuti desfila o Brasil em telas de Portinari”. Quem assistiu a esse desfile no Grupo de Acesso A ficou encantado com o luxo e beleza de fantasias e alegorias. Mas já ficava a sua marca no carnaval com “alegorias humanas” e toda a inovação para aquela época.

20150216_013911A Unidos da Tijuca foi sua escola no ano de 2004 e não havia muitas expectativas quanto ao desfile da escola do Borel pois em 2003 ela havia conseguido somente a nona colocação. Da comissão de frente até o último componente foi um espetáculo, ao estilo Paulo Barros. E ficou marcado com a alegoria do DNA. A agremiação ficou com o vice campeonato daquele ano e repetiu a mesma colocação em 2005, mas somente por um décimo de diferença. Em 2006 elaborou o carnaval também da Estácio de Sá com a reedição Quem é você?, com as mesmas características que o fizeram um sucesso nos anos anteriores, garantindo a ascensão da escola para o Grupo Especial.

Retornou ao Desfile das Campeãs 10 vezes no período de 2003 até o momento. É um carnavalesco novo, com um estilo diferente que pareceu agradar ao público e jurados no inicio da sua carreira no Grupo Especial. Porém, os anos foram se passando e a inovação passou a ser algo repetitivo aos olhos do público; apesar de muitos que acompanham carnaval ainda acharem seu estilo genial.

Rosa Magalhães deu inicio à sua carreira no carnaval em 1971, no Salgueiro com Fernando Pamplona, Maria Augusta, Lícia Lacerda e Joãosinho Trinta. E somente em 1982 assinou integralmente seu primeiro carnaval pelo Império Serrano com o inesquecível enredo Bumbum Praticumbum Prugurundum que lhe rendeu o campeonato. Também foi autora de enredos históricos, assim como Max Lopes. O principal após 1982 foi O Ti-ti-ti do Sapoti pela Estácio de Sá que foi a quarta colocada. Deu o tri campeonato do carnaval para a Imperatriz em 1999, 2000 e 2001. Desde 2003 retornou sete vezes ao Desfile das Campeãs e foi responsável em 2015 pelo melhor carnaval da São Clemente desde 1990, com o enredo sobre Fernando Pamplona, O Mestre dos carnavalescos.

20150217_045932Numericamente pode-se afirmar que o “Carnaval Espetáculo” supera o “Carnaval Técnico” e até o carnaval do povo. Isso significaria que Paulo Barros é o cérebro a ser batido. Entretanto temos duas vertentes, mas quem vence realmente é o público, o torcedor. Ganhamos em questão cultural, conhecimento. Tudo na vida se moderniza ou perde a essência. E é essa a crítica que fazem ao carnaval ultramoderno de Paulo Barros e a fuga da cultura nacional. Esse julgamento talvez não caiba a nós, mas aos próprios jurados no dia do desfile.

Vamos comemorar que o carnaval não há mais contrastes tão notórios entre uma agremiação e outra. O duelo na criatividade é o que mais tem atraído o público. Então que deixem a vida os levar e que muitos carnavais técnicos, luxuosos, com plotter, luzes, dinossauros, e fumaça, sejam realizados.

3 Replies to “O Carnaval espetáculo, o carnaval técnico e a sobrecarga de um carnavalesco: como se vence? Quem vence?”

  1. Bom dia!

    Prezado Thiago Nabuco:

    Embora eu discorde do quarto parágrafo, quando ao resumir cada carnavalesco, diz que Paulo Barros se utiliza da técnica de Parintins, o grande trunfo de seu texto está no encerramento de tudo, e merece um longo texto à parte (Sim, é um pedido!) pelos motivos que tentarei expôr a seguir.
    Particularmente não entendo os discursos sobre manutenção de cultura e o que seria ou não Escola de Samba.
    Historicamente as agremiações foram capazes de negociar com diversos segmentos da sociedade, e incorporando estes “bons negócios” à sua tradição (?). Definitivamente não são uma manifestação fechada como é possível observar na comparação com outras tantas em diversos lugares do mundo.
    É incrível como se cobra delas uma constante renovação com o mesmo fervor que se fala em manter as raízes, o verdadeiro samba e blá, blá, blá!

    Ao que parece, a verdadeira essência destas Escolas é saber negociar, arriscar, inovar, tudo isto para agradar o público, proporcionando aquela catarse característica, o transe, a loucura que todos nós que acompanhamos a festa de perto conhecemos e ansiamos para que aconteça pelo menos uma vez em um ano de desfiles.
    Assim sendo, viva a criatividade! Não permitamos que discursos retrógrados engessem esta festa que sempre primou pela inovação já há bastante tempo.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

    1. Fellipe Barroso,
      Obrigado pelo comentário. Tenha certeza que seu pedido será atendido. A questão cultural do carnaval é um ponto muito interessante. Ao mesmo tempo que pedem que as raízes do carnaval sejam mantidas, anseiam por inovações que não quebrem a tradição. É uma dicotomia que pode render horas de debate. E muito saudável por sinal. Elaborarei o texto com muito prazer. E o melhor de tudo no carnaval é que tudo isso sai da cabeça de algumas pessoas. Toda a festa é realizada somente com ideias, seja com a representação do mundo real em resumo, ou um mundo completamente surreal que entra na nossa mente e nos deixa perplexo. A criatividade é o maior trunfo do carnaval em comparação aos outros espetáculos!

  2. O texto promete uma comparação entre carnavalescos e estilos, mas da forma q foi escrito ficou sem pé nem cabeça. Impossível entender qual era a ideia do autor com ele. Abs.

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