No dia 20 de dezembro de 2013, escrevi neste espaço um texto comentando a temporada dos clubes cariocas naquele ano: “Até quando, Rio?” era o título do artigo no qual critiquei a sequência de erros cometidos pelos dirigentes de Botafogo, Flamengo, Fluminense e Botafogo. Mas, um ano depois, dá pra dizer que 2014 foi ainda pior…

Como sempre, deixo claro que sou torcedor do Flamengo, mas tenho o pensamento de que um futebol carioca fraco é péssimo para todos os clubes, e que times fortes engrandecem o espetáculo e fortalecem não só todos os adversários, mas o clube pelo qual se torce.

botafogo2014Comecemos pelo clube que mais sofreu em 2014, o Botafogo: poucas vezes na vida testemunhei um descalabro tão grande num clube de futebol como o que ocorreu com o Alvinegro. De carioca mais consistente em 2013 à humilhação completa em um ano.

Mas por quê isso ocorreu? O ponto de partida, que na verdade já havia começado em 2013, foi a interdição do Engenhão. O Botafogo, que já teria uma perda de receita importantíssima pelo uso contínuo do Maracanã por parte de Fla e Flu, passou a correr atrás de outra casa, o que gera gastos. Para piorar, as dívidas não foram equacionadas e a debandada começou com o craque do time, Seedorf.

Outro erro foi a efetivação de Eduardo Húngaro como técnico para a Libertadores. Ora bolas, numa competição tão importante é preciso um treinador com experiência e não alguém que jamais havia treinado uma equipe profissional – que fique claro que não estou criticando o treinador, que deve ter qualidades. É claro que o Botafogo caiu na fase de grupos, o que impediu o clube de ganhar mais dinheiro e, claro, de chegar mais longe.

No Brasileiro, a coisa já parecia feia e o clube, na tentativa de obter receitas, passou a rodar pelo o Brasil como cigano. Isso acabou gerando outro problema: a falta de uma identificação com algum estádio. Mesmo que fosse alugada, uma casa fixa seria fundamental para o Botafogo na questão esportiva. No começo, até que o Botafogo conseguiu aproveitamento razoável como mandante. Mas depois…

Com o Brasileiro já em andamento e a situação difícil na tabela, ocorreu mais um grande erro: a dispensa por parte do perdido presidente Maurício Assumpção de Bolívar, Edílson, Júlio César e Emerson Sheik. Para tentar impor alguma autoridade ou não sei o quê, o presidente fez essa “limpa”, mas na verdade o que ele fez foi tirar de uma vez só quatro jogadores experientes que poderiam ter ajudado na reta final.

Faltaram duas vitórias para o time escapar da degola. Com jogadores mais tarimbados, talvez fosse possível o Botafogo evitar o pior, já que naquela parte de baixo da tabela o nível era péssimo realmente. Agora, outros jogadores estão saindo. É, o novo presidente terá muito trabalho em 2015.

flamengoleon2014O Flamengo teve mais um ano de altos e baixos. Foi novamente eliminado cedo na Libertadores, conquistou um título, ou melhor, levou de graça um título, o carioca, devido a um erro da arbitragem na final contra o Vasco, fez um tenebroso início de Campeonato Brasileiro, renasceu com Luxemburgo, escapou com tranquilidade da “zona da confusão” e perdeu por pouco uma passagem à final da Copa do Brasil.

Louve-se a diretoria por seguir na cruzada para reduzir as dívidas do clube, apesar de manter uma, no mínimo, polêmica política de preços de ingressos. Houve ainda alguns equívocos claros na gestão de futebol e no planejamento, tanto que o primeiro semestre foi muito fraco, e que só não passou em branco pelo título carioca.

Jayme de Almeida foi mandado embora de uma forma extremamente deselegante e Ney Franco foi contratado no que se revelaria um desastre absoluto. Com o Flamengo na lanterna e ridículos sete pontos marcados, a diretoria chamou Vanderlei Luxemburgo, que fez um milagre.

Luxa tornou um time desinteressado e apático em competitivo e brigador, mesmo com limitações evidentes. É claro que as chegadas de dois jogadores ajudaram muito: a do argentino Canteros e a do croata-brasileiro Eduardo da Silva.

O técnico ainda cunhou uma engraçada expressão para minimizar a pressão aos jogadores: “zona da confusão” em vez de “zona de rebaixamento”. No fim das contas, o Flamengo até que saiu da confusão com mais facilidade do que se pensava.

Por isso, pôde se concentrar na Copa do Brasil, na qual despachou o Coritiba, com ajuda da arbitragem, e o América-RN. Contra o mais forte Atlético-MG, venceu bem o jogo de ida, mas as esperanças do tetra se esvaíram com uma atuação sufocante e brilhante do Galo.

Um ano de sustos e decepções, mas que poderia ter sido muito pior…

fluminense2014O Fluminense por sua vez foi aquele time que sempre que parecia pronto para arrancar, decepcionava sua torcida. No Carioca, acabou com a invencibilidade do Flamengo ao atropelar o rival por 3 a 0, com direito a gol do estreante Walter, que deitou e rolou… Mas nas semifinais, o velho algoz Vasco eliminou o Tricolor.

No Brasileirão, o Fluminense se manteve sempre entre os primeiros colocados, mas, quando precisava emplacar uma sequência de vitórias, os grandes nomes do time, como Fred, Conca, Rafael Sobis e Wagner apagavam, bem como todo o restante do time. A derrota para a Chapecoense, por exemplo, iniciou a derrocada tricolor no campeonato.

No fim, a quinta colocação que garantiu a passagem direta para as oitavas de final da Copa do Brasil acabou sendo um magro consolo para quem pretendia, e tinha totais condições de pelo menos conquistar uma vaga na Libertadores de 2015.

Pior do que isso foi a patética e humilhante eliminação para o América-RN ainda nas fases iniciais da Copa do Brasil. Depois de vencer por 3 a 0 o jogo de ida, o Flu conseguiu a incrível proeza de perder por 5 a 2 no Maracanã, com direito a jogador perguntando ainda durante o jogo se aquele placar eliminava o time…

Mas o pior golpe para o Tricolor aconteceu no fim do ano: depois de 15 anos de parceria, a Unimed de Celso Barros rompeu com o clube dirigido por Peter Siemsen. Resta saber o Tricolor estará preparado para conviver com a falta da polpuda verba que a cooperativa de médicos injetava anualmente no futebol do clube.

vascoavaiJá o Vasco, a despeito de ter atingido o grande objetivo do ano, que era o de voltar para a Série A do Brasileiro, teve um ano que deixou seus torcedores de cabelo em pé do início ao fim. Foram tantos problemas, que a sensação é de alívio por 2014 ter acabado…

No Carioca, até que o Vasco se comportou bem. Com um elenco formado por alguns jogadores experientes como Douglas e Rodrigo, o time da Cruz de Malta fez bons clássicos e só não foi campeão porque a arbitragem errou feio e o Flamengo fez um gol irregular nos acréscimos.

Na Copa do Brasil, o time foi avançando, avançando, mas parou diante do fraco ABC, o que aumentou ainda mais a responsabilidade do time na Série B, que já estava em andamento.

Na verdade, a previsão de uma Série B tranquila ficou pelo caminho logo no primeiro turno. Uma derrota humilhante e inaceitável para o Avaí por 5 a 0 derrubou o sempre criticado Adilson Batista. Veio Joel Santana e o Vasco conquistou no campo a subida de divisão “na conta do chá”. O sofrível empate contra o Icasa garantiu o acesso, mas a torcida vaiou com razão. O Vasco é grande demais para aceitar uma situação dessas…

As finanças do Cruzmaltino também não vão bem, e o pleito do fim do ano levou o polêmico Eurico Miranda de volta à presidência do clube. Eurico já mandou Joel embora e contratou Doriva, campeão paulista pelo Ituano. Vamos ver no que dá…

Como vocês leram, poucos bons momentos e inúmeros dissabores. Aliás, nos últimos anos é o que mais acontece no combalido futebol carioca. Pergunto de novo: até quando?

Trevas pra que te quero…

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