Desde pequeno ouvi falar de uma expressão chamada “jeitinho brasileiro”. No começo, eu achava um termo interessante, positivo, mas infelizmente ao longo dos anos fui percebendo que na verdade o tal “jeitinho brasileiro” é uma das piores coisas que existem na nossa sociedade. Bem, na teoria não era para ser algo ruim.

Na verdade, originalmente o “jeitinho brasileiro” servia para descrever a capacidade do nosso povo de improvisar diante de problemas endêmicos do nosso dia a dia, como a falta de recursos e estrutura para lidar com certas situações. Como usar uma peça X para consertar um problema que teoricamente seria resolvido com a peça Y…

Em resumo, assim como os animais da fauna do nosso planeta, o brasileiro seria capaz de se adaptar às agruras da sua vida, sempre conseguindo seguir o seu rumo, mesmo contra tudo o que houvesse de mais hostil e problemático.

ferrarivagaMas o tal “jeitinho brasileiro” desgraçadamente virou sinônimo de malandragem no mau sentido da palavra. É o cara que fura a fila do caixa, para o carro na vaga de deficiente quando não deveria, ou que faz uma conversão irregular no trânsito, ou que falsifica uma carteira de estudante para pagar menos, ou que cria algum subterfúgio para levar alguma vantagem.

“Levar vantagem”, taí outro termo que foi extremamente desvirtuado da mesma forma como aconteceu com o “jeitinho brasileiro”. Nos anos 70, o craque Gerson foi o garoto-propaganda dos cigarros Vila Rica e proferiu a seguinte frase “Gosto de levar vantagem em tudo, certo?”

Errado foi o jeito com o qual as pessoas interpretaram essa frase. Gerson quis dizer que ao comprar o Vila Rica, mais barato do que os concorrentes, ele conseguiria um fumo de ótima qualidade por um preço mais baixo. Ou seja, levar vantagem na situação, TIRAR O MÁXIMO da situação. Não passar a perna em ninguém…

A propaganda que inventou a “Lei de Gerson”
http://www.youtube.com/watch?v=J6brObB-3Ow

Mas o Canhotinha acabou muito criticado por segmentos da sociedade porque teoricamente estaria querendo dizer que ele sempre passava por cima de qualquer coisa para levar vantagem. Criou-se a “Lei de Gerson” para definir mutreta, sacanagem, malandragem…

Na verdade, foram críticas infundadas de uma sociedade hipócrita, a mesma que desvirtuou para o negativo o inicialmente positivo “jeitinho brasileiro”. A mesma sociedade que fura fila e nos dá diariamente exemplos de anti-civilidade e tomam atitudes absolutamente deploráveis.

Que atire a primeira pedra quem nunca errou na vida. Eu já cometi erros no meu dia a dia, você, leitor, já errou na vida. Mas fico muito preocupado em perceber no dia a dia que erros propositais, para passar por cima dos outros efetivamente, estão cada vez mais presentes nas nossas vidas.

No nosso jeito brasileiro do “roubado é mais gostoso”…