Não, meus amigos, não é um título irônico após a eliminação espanhola da Copa do Mundo. Na verdade, trata-se de um título elogioso a uma geração que, de fato, mostrou muita competência ao longo dos últimos anos e dominou o futebol europeu, a ponto de levar duas Eurocopas (2008 e 2012) e um Mundial (2010).

Mas a vida mostra a cada dia que ciclos chegam ao fim. No esporte, então, nem se fala.

No boxe, o primeiro e único Muhammad Ali teve seu reinado findado quando a idade chegou, e ele, numa tentativa de um inédito quarto título mundial dos pesos pesados, foi massacrado por Larry Holmes, que até sentiu pena do antigo rei. Da mesma forma, Michael Schumacher ganhou, ganhou, ganhou e… surgiu uma nova geração com Fernando Alonso, Kimi Raikkonen e Lewis Hamilton. É a vida…
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Na NBA, o grande Los Angeles Lakers teve dois grandes ciclos nas últimas décadas. No primeiro, o time liderado por Abdul-Jabbar, Johnson e Worthy ganhou os campeonatos de 1980, 1982, 1985, 1987 e 1988, mas na final de 1989 foi abatido pelo Detroit Pistons e depois a franquia só chegaria a uma decisão em 2000. Era um novo ciclo formado por Bryant, O’Neal e Fisher, que venceria em 2000, 2001 e 2002, cairia diante do San Antonio Spurs em 2003 e perderia sumariamente a decisão de 2004 para, ironicamente, o Detroit. Agora, foi o Miami Heat quem perdeu a coroa. Normal…

No futebol, o grande Santos de Pelé, o brilhante Flamengo de Zico e o competitivo São Paulo de Telê Santana ganharam o mundo e depois foram sobrepujados em algum momento. Mais recentemente, Vasco, Corinthians e Fluminense tiveram seus ciclos vitoriosos e também acabaram sendo superados. Faz parte…

10358143_586015724849998_7354941537378883297_nÉ o que ocorre com a Espanha. Dizer que Xavi, Iniesta, Xabi Alonso, Fabregas e Busquets são maus jogadores é um comentário totalmente raso e despropositado. São jogadores de grande qualidade, que não têm mais o que provar a essa altura em suas carreiras.

Mas um time que vinha tendo excelentes resultados há seis anos sofreu com o tempo. Tanto no aspecto físico como psicológico. Claro que houve empáfia de alguns jogadores, mas é evidente que alguma coisa não estava bem ali no grupo. Para começar, os atletas chegaram em péssimo estado físico, isso era visível. Eles simplesmente não conseguiam alcançar bolas bobas. Além disso, manter a fome depois de tantas vitórias é mesmo difícil, a história mostra.

Por fim, ficou notória a desunião de boa parte do grupo. Depois de tanto tempo de vitórias espanholas, outras seleções evoluíram e, num país em que os regionalismos são exacerbados, quando as derrotas apareceram, a caça às bruxas começou. Xabi Alonso, do Real Madrid, deixou claro o descontentamento com os “companheiros” (sic) do Barcelona ao criticar o famoso “tic tac” oriundo do clube catalão e levado para a seleção.

A união desses fatores todos derrubou precocemente, e justamente, a Fúria de Vicente del Bosque. Holanda e Chile mereceram a classificação antecipada e o Brasil (se avançar de fase, é claro) terá um osso duríssimo de doer nas oitavas de final, seja qual for o adversário.
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Bem, voltando à Espanha, é claro que as piadas e críticas vão acontecer – eu mesmo já fiz algumas piadas e críticas – mas, falando sério: o fim do ciclo espanhol deve ser visto com naturalidade e essa geração merece os aplausos pelo grande futebol mostrado ao longo dos últimos seis anos. Eu escrevi seis anos, não seis meses.

Por isso mesmo, parabéns, Espanha!

2 Replies to “Copa do Ouro: “Parabéns, Espanha!””

    1. Mas, Mattar, enquanto a seleção de 58, 62 e 66 tinha a mesma base, 70 mudou radicalmente, ficando apenas Pelé da antiga geração.

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