Desde a infância, as 500 Milhas de Indianápolis (que terão sua 98ª edição neste domingo) sempre foram um programa de família. Digo isso porque meu avô, um fã de esportes, via todos os eventos esportivos que passavam na televisão e eu ia na carona. Corridas de Fórmula 1, jogos de futebol, vôlei, tênis, etc… Com a Fórmula Indy não estava sendo diferente.

Graças ao trabalho de Luciano do Valle, a Bandeirantes passara a transmitir as provas e o grande Emerson Fittipaldi carregava a nossa torcida. Assim como outro ídolo da época, Ayrton Senna, Emerson tinha um carro com as cores e patrocínio da Marlboro. Em 1988, Fittipaldi foi o segundo colocado na Indy 500 e havia uma expectativa positiva para a corrida.

gridindy50089Nos treinos, o Rei dos Ovais Rick Mears, vencedor de 1988, cravou uma esperada pole position, seguido por Al Unser Senior e outro carro da Penske, e Emerson, que corria pela Patrick Racing mas também pilotava um Penske-Chevrolet. Já na largada, Emmo mostrou que não estava para brincadeira e passou os dois por fora para assumir a liderança.

Logo na terceira volta, o sempre instável Kevin Cogan sofreu um acidente espetacular e partiu o carro ao meio na entrada dos boxes. Depois de longa bandeira amarela, Emerson manteve a liderança na relargada e, melhor, abriu vantagem sobre os adversários. Além disso, ficaram pelo caminho os três carros da equipe Penske (Mears, Unser Senior e Danny Sullivan), e os sempre perigosos Michael Andretti e Bobby Rahal.

Naquele momento, Mario Andretti parecia ser uma ameaça mas a má sorte do veterano em Indianápolis voltou a atacar e ele ficou para trás. O único obstáculo para o que parecia um tranquilo triunfo de Emerson era o arrojado Al Unser Junior. De fato, Al Jr. quase estragou a festa brasileira. Basicamente tudo começou com uma falha da equipe Patrick, que no último pit stop exagerou na quantidade de combustível no reabastecimento e deixou o pesado o carro do brasileiro.

emerson1989bAos poucos, Unser tirou uma diferença que estava confortável e jantou Emerson a cinco voltas do fim. Mesmo com um carro muito equilibrado, Emerson sofria com o metanol extra, que era literalmente um peso. Mas na penúltima volta, Al Jr. se enrolou com os retardatários e Fittipaldi saiu melhor da curva 2. Todos prenderam a respiração, inclusive meu avô e eu em casa…

Emerson e Al percorreram a reta oposta lado a lado separados por poucos centímetros. Ninguém cedeu e uma ligeira, quase imperceptível, saída de traseira do carro de Emerson causou um toque que jogou Unser no muro. Bandeira amarela comemorada aos berros por Luciano do Valle e por nós em casa. Afinal, ninguém poderia mais tirar a histórica vitória de Emerson. Um clímax como poucas vezes se viu numa pista de corridas.

A transmissão da Band e a emoção de Luciano do Valle
https://www.youtube.com/watch?v=U5DiM3p-xsE

O detalhe que poucos sabem é que essa vitória de Emerson foi fundamental para que as transmissões da categoria no Brasil continuassem, como o próprio Emerson contou certa vez à ESPN –  a primeira etapa daquela temporada, em Phoenix, não foi exibida aqui.

Que bom, porque Fittipaldi venceria mais quatro corridas naquela temporada e se consagraria o primeiro brasileiro campeão na Fórmula Indy, um território desconhecido do nosso país até a chegada dele aos Estados Unidos. Um campeonato dos melhores do automobilismo mundial e que receberia outros grandes pilotos brasileiros, como os campeões Gil de Ferran (2000 e 2001), Cristiano da Matta (2002) e Tony Kanaan (2004).

Nas 500 Milhas, um campeonato à parte, o próprio Emerson venceria mais uma vez (1993) e Helio Castroneves ganharia outras três edições (2001, 2002 e 2009). Gil (2003) e Tony (2013) também teriam seus rostos esculpidos no emblemático troféu Borg Warner da Indy 500.

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Mas tudo começou com aquelas lágrimas de Emerson Fittipaldi. Outros tantos choraram nas suas casas e soube-se depois, que até Ayrton Senna, pronto para disputar (e vencer) o GP do México de Fórmula 1, também foi às lágrimas quando foi informado da vitória de Emerson por Reginaldo Leme. Aliás, cá entre nós, quem não se emocionou com Emerson naquele dia?

Dia que completa 25 anos na próxima quarta-feira…

[N.do.E.: Raul Boesel foi o terceiro colocado nesta ocasião. Al Unser Jr, apesar do acidente, ainda foi o segundo, porque os dois estavam voltas à frente dos demais.]

2 Replies to “Sabinadas: “Quem não se emocionou com Emerson?””

  1. Bacana demais, foi a primeira vez que ouvi falar em Indy e acho que Emerson não tem por aqui o tratamento que merecia

    1. Uma das pessoas mais simpáticas e educadas que tive a oportunidade de entrevistar na vida. Um gentleman, digno de qualquer homenagem pelo que fez nas pistas.

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