O Editor Chefe escreveu artigo mais cedo sobre a “morte” da música brasileira, com o qual discordo quase que integralmente.

A razão principal de eu não ter gostado e, portanto, discordar é que dizer que a música que se fazia antes é melhor do que se faz hoje em dia é simplesmente posicionar em patamares diferenciados o gosto pessoal – como se o do autor do texto fosse superior aos dos que gostam de outro tipo de música. Uma atitude, enfim, arrogante e elitista.

Além disso, se o conceito de música brasileira for, simplesmente, aquela que é feita no Brasil por brasileiros, é óbvio que ela não morreu, não está nem perto disso. Ao contrário, ela hoje em dia é muito mais consumida pela população do que era, por exemplo, nos anos 80, quando eu era adolescente. O problema é que para paladares pretensamente refinados é duro admitir que uma música como o Rap das Armas seja capaz de ser um sucesso universal, admirada por jovens do mundo inteiro exatamente porque tem uma sonoridade que vai além do gosto tipicamente brasileiro; enquanto Disparada, que o Migão cita no texto, não é consumida sequer por brasileiros que tenham menos de 50 anos (eu, por exemplo, tenho 46 e odeio essa música), o que dirá por estrangeiros que não compreendem nosso dialeto.

Às críticas de que basta juntar uma carinha bonitinha e entoar versos como tchrurerê tchurerê, podem reparar, são muitíssimos parecidas com as críticas feitas na sua época, por exemplo, aos Beatles (também conhecidos como os Reis do Iê Iê Iê, uma rima rica para tchurerê), que, passados 50 anos, são reconhecidos como artistas de refinada qualidade e os mais importantes do século XX.

Por óbvio, não estou comparando Gustavo Lima a John Lennon, o que seria uma heresia. Só estou mostrando que o estranhamento da geração do início dos anos 60 a um estilo musical que soava inteiramente descartável e desalinhado com o que se considerava musicalmente artístico.

Desprezar a música contemporânea – e aqui não vai qualquer ironia ou agressão velada, apenas um posicionamento – é um sintoma claro de envelhecimento, como se as coisas boas todas fossem aquelas “do meu tempo”. Além disso, essa forma de enxergar o fenômeno tem um componente elitista muito exacerbado, porque ataca sempre as preferências dos brasileiros mais populares, que gostam de sertanejo, sambas do dia-a-dia, músicas para dançar e se divertir. É como revisitar a frase do Joãozinho Trinta adaptada para a cena musical, porque se pobre gostava de luxo e intelectual de miséria, aqui pobre gosta de música alegre e intelectual gosta de música chata, porém engajada.

Eu sinceramente gosto de muitas músicas atuais. De vários estilos. Brasileiras e estrangeiras. E sou velho, hein?

Beijinho no ombro, pro recalque passar longe.