O Rio de Janeiro vive mais um momento complicado de seus quase 450 anos. Cidade Maravilhosa, do samba, do Maracanã, da final da Copa do Mundo, das Olimpíadas e destino de turistas de todo o planeta, o município vive mais uma capítulo de sua guerra contra o crime. Mais do que isso: está perdendo a tal guerra.

Na verdade, essa é uma guerra que o Rio perde todos os dias há muito, mas muito tempo. Só que no dia a dia há um acordo de paz informal e essa derrota só é escancarada quando o lado vencedor quer. Em meio a todo esse turbilhão de problemas, uma instituição entra em xeque: a Polícia.

A Polícia não deu certo. A verdade é essa. Não consegue combater o crime, é truculenta, apavora demais a população e de menos os bandidos. Isso é fato quase que inquestionável. Talvez seja a hora, porém, de lembrar que a Polícia, antes de mais nada, é um reflexo da nossa sociedade.

Somos uma sociedade cansada de tanto descaso, de tanta violência e, ao mesmo tempo, uma sociedade dominada por uma lamentável filosofia: “bandido bom é bandido morto”. Uma frase que já transborda ignorância por si só fica ainda pior quando o conceito de bandido é bastante duvidoso, para não dizer preconceituoso. “Correu, atira”. Uma filosofia que cria algumas contradições que, vez ou outra, acabaram escancarados.

O caso do dançarino DG, por exemplo, é claro. Dançarino do Esquenta da TV Globo, ele foi encontrado morto em uma creche. Logo descobriram que foi assassinado a tiros pela polícia, provavelmente em uma perseguição. A população ficou revoltada. Que absurdo! A Polícia é despreparada! Crime! Só que aí a VEJA (sempre ela…) descobriu uma postagem do dançarino no Facebook lamentando a morte de um traficante chamado Cachorrão. Pronto…  Bem feito! Já vai tarde! Vagabundo! Parabéns, Polícia!

Em primeiro lugar, amigo de traficante não é traficante. Depois, perceberam a contradição? O que era um absurdo vira, devido à “sorte” (muitas aspas nisso) da Polícia, uma atitude digna de aplausos. Por fim, quem é que disse que pode matar bandido? Quem deu esse direito a Polícia, o de matar alguém de maneira tão covarde? A Constituição Federal eu sei que não foi. Isso sem entrar no mérito ético e religioso da coisa.

pmBandido bom é bandido preso e não morto. E não precisa ser nenhum gênio para notar que nem sempre a Polícia dará essa “sorte” (muitas aspas de novo). Amanhã ou depois teremos um novo Amarildo e a população voltará a se revoltar contra tudo, sem perceber que é o que ela própria apoia.

Não acho, de verdade, que os policiais sejam os grandes vilões da história. São treinados para matar nos morros, ganham mal, saem de casa todos os dias com a insegurança de quem não sabe se voltará. São Santos? Não, mas quem de nós que está aqui aplaudindo a morte do DG é? Antes de serem policiais, eles são um de nós.

A Polícia é você com uma arma na mão.

Quem tem culpa é quem está lá em cima. O Governo, que não consegue combater o crime e pouco se preocupa com a Polícia e com o resto da população. Que se apoia nessas barbaridades cometidas no Morro para se queimar um pouco menos com todos nós. Afinal de contas, tem muita gente que pensa não ter problema um inocente morrer se outros 20 “bandidos” forem mortos no período.

O Rio de Janeiro agoniza politicamente. O Rio precisa de alguém que chegue para fazer debates sérios no assunto segurança, de alguém que queira uma polícia que tenha a confiança da população, que tenha profissionais bem treinados e que possam combater o crime. E isso nem Pezão, nem Lindbergh, nem Garotinho e nem Crivella farão.

Uma semana depois dos festejos pelo Dia de São Jorge, é possível dizer que só com muita fé o carioca pode enfrentar essa guerra em que ele está, dia a dia, no meio do fogo cruzado.