Eu e o colunista Luiz Antonio Simas escrevemos para a Folha de São Paulo deste sábado de carnaval dois artigos sobre o protagonismo das escolas de samba no carnaval. Eu a favor e ele, contra. Publicarei aqui, em dois posts, respectivamente o meu texto e o dele. Os artigos originais podem ser vistos aqui. Comecemos pelo meu texto.

Quando o Carnaval acabar…

Se você estiver no Rio de Janeiro e circular pelas ruas da cidade, perceberá que de cada dez pessoas usando camisetas de Carnaval, nove serão de escolas de samba e uma de algum bloco de rua.

Aliás, se você estiver na cidade, já percebeu que ela está repleta de turistas que viajaram justamente para curtir a festa carioca, atraídos pelo espetáculo que fez a fama do Rio, o espetáculo no sambódromo da Marquês de Sapucaí.

Já os blocos de rua são difusos, pouco articulados entre si –seriam incapazes de estruturar uma festa de tamanha dimensão.

Neste 2014, o renascimento de três grandes agremiações atualiza particularmente o protagonismo das escolas de samba. Portela, Mangueira e Mocidade acabam de trocar suas diretorias. Chegaram dirigentes (na primeira) ou integrantes (nas demais) jovens que, se por um lado, se inspiram na experiência dos mais velhos, por outro, vêm com gás para arejar as escolas e arrastar uma nova massa de apaixonados.

A Unidos da Tijuca é o melhor exemplo dessa renovação. As surpresas preparadas pelo carnavalesco Paulo Barros a cada ano são sempre aguardadas pelos foliões, torcedores e desfilantes. Que, ademais, se diversificaram: à população do morro somaram-se outros contingentes da classe média.

O grupo de acesso carioca também ganhou importância nos últimos dois anos, com a ampliação dos desfiles para dois dias (sexta-feira e sábado) e transmissão da maior rede de televisão carioca para o Rio.

Em São Paulo, a presença da Mancha Verde no grupo de acesso trouxe um atrativo especial. Aliás, o desfile no domingo de Carnaval no sambódromo do Anhembi é uma boa alternativa para se curtir a festa sem grandes gastos. As escolas têm bons sambas e o ingresso é mais barato.

Em Salvador, até mesmo trios elétricos famosos como o da cantora Claudia Leitte tiveram dificuldades para vender seus abadás. Não seria possível, portanto, dizer que as escolas de samba têm perdido espaço para a festa que se faz por lá. O telejornal de maior audiência do país dedicou espaço nesta semana à preparação da Portela. Que bloco ou trio teve a mesma exposição?

Obviamente, em termos de envolvimento direto de público, as escolas possuem uma limitação: são apenas 72 mil lugares por noite na Marquês de Sapucaí e cerca de 30 mil no Anhembi e aproximadamente 90 mil desfilantes nos principais palcos no Carnaval carioca e em torno de 60 mil em São Paulo. Um único bloco carioca, como o Bola Preta, pode reunir quatro vezes esse contingente somado.

Ainda assim, aqueles que não podem participar dos quatro dias de desfiles nos palcos principais têm como opção os ensaios técnicos na Sapucaí ou apresentações das escolas de grupos menores, que chegam a reunir 40 mil pessoas por noite na avenida Intendente Magalhães, subúrbio carioca. O fato é que Carnaval não é quantidade, é qualidade.

O protagonismo das escolas de samba é consolidado. Fora do dia de desfile, há toda uma estrutura e uma agenda orgânicas, que facilitam a formação de novos músicos, cantores e compositores. Nomes como Martinho da Vila, Paulinho da Viola e Monarco se projetaram a partir de escolas de samba.

Na nova geração, Diogo Nogueira, filho de João Nogueira, um baluarte portelense, ganhou quatro sambas-enredo pela Portela. Arlindo Cruz despontou na Império Serrano. André Diniz na Vila Isabel.

Pergunto ao leitor da Folha: quando o Carnaval acabar, você abrirá o jornal para se informar sobre o quê? Que bloco se apresentou para mais gente, que trio soteropolitano galvanizou a massa ou qual escola de samba foi a campeã?

Foto: Extra

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