Nesta sexta-feira, a coluna Sabinadas, do jornalista esportivo Fred Sabino, aborda mais um caso de violência no futebol brasileiro, no caso, a briga entre integrantes de uma facção organizada do Atlético Paranaense com membros de outra facção do Vasco.

Não vai mudar nada

No último domingo foi notícia em todo o mundo (e até hoje é) o incidente em Joinville durante a partida entre Atlético Paranaense e Vasco. Não dá para dizer que seja uma surpresa, dado o histórico recente de episódios dessa natureza, mas muita gente ficou chocada pela brutalidade das imagens.

Antes de tudo, deixo claro que não tenho pena ou sinto dó algum dos que se machucaram na briga. São bandidos que sabiam muito bem o que estavam fazendo e não têm nada na cabeça a não ser selvageria, covardia e maldade. Animais desprovidos de qualquer sentimento positivo, em resumo.

A priori, esses caras são os maiores culpados de tudo, porque  não existe briga se as pessoas não quiserem brigar. Então, esses caras foram lá para isso, estavam defecando (para usar um termo mais ameno) para o jogo, que, diga-se de passagem, era importantíssimo para as duas equipes.

Se os estádios não tivessem absolutamente nenhum segurança e nenhum policial, os jogos transcorreriam sem confusões simplesmente se não existissem esses marginais. Mas como eles existem aos montes, aí vem a responsabilidade generalizada.

Atlético Paranaense, Ministério Público, Polícia, Governo, CBF, todos foram coniventes, negligentes e responsáveis pela briga, em conjunto com os bandidos, devido a vários equívocos. Erros que deixaram a segurança do estádio de Joinville ficar como um queijo suíço. Foi uma assinatura em conjunto de um recibo que referendou as confusões.

Depois de consumada a arena romana que já se esperava, começou o costumeiro e patético jogo de empurra entre as partes. Porque todos foram omissos e, como sempre acontece neste país, não tiveram coragem e decência para assumir as responsabilidades.

Para começar: Ministério Público, o que estavam fazendo no estádio vários cretinos que já haviam se envolvido em brigas neste mesmo ano? Até um cafajeste acusado de homicídio estava em Joinville. Omissão número 1.

O próprio Atlético, que já fora obrigado a jogar em Joinville por causa de outros incidentes causados pela facção organizada, corrobora com a violência ao não tomar providências para impedir a mesma de cometer crimes. Omissão número 2.

O clube também errou ao menosprezar o potencial de risco deste jogo e não reforçar a segurança. Afinal, como já escrevi no começo do texto, o Atlético brigava por uma vaga na Libertadores e o Vasco, para não cair. Omissão número 3.

A CBF já deveria há tempos ter acabado com essa babaquice de o clube jogar a 400 quilômetros da sua sede, mas com torcida, em caso de punição. Para esses bandidos, 400 quilômetros saem na urina. A CBF deveria punir os clubes com portões fechados e por um número de jogos exemplar, para que se sentisse na pele o prejuízo técnico e as diretorias se coçassem para afastar esses caras. Omissão número 4.

A segurança contratada pelo jogo não fez um plano para contornar o contingente reduzido ou mesmo não confrontou o Atlético quando este absurdamente pediu um número menor de profissionais. Aceitou fazer a segurança do jogo mesmo sabendo que o risco de confusão era enorme. Omissão número 5.

A polícia demorou a agir quando a confusão começou de fato. É sabido que, mesmo com segurança privada contratada para um evento, a polícia sempre deve agir em caso de risco iminente. E a reação foi demorada, até porque o contingente que estava do lado de fora já era pequeno dada a periculosidade do jogo. Omissão número 6.

O Governo também foi, ou melhor é, negligente ao não fazer funcionar o Estatuto do Torcedor, que já tem dez anos e não resolveu praticamente nada das mazelas do nosso futebol, para não dizer do nosso esporte. Omissão número 7.

Olha que interessante! Sete erros! Jogo dos sete erros! Está bem de acordo, já que essas autoridades (sic) estão brincando de trabalhar. Como dizem por aí, parabéns aos envolvidos!

E, cá entre nós, vocês acham que isso vai mudar algum dia? Vocês acham mesmo que vão encarcerar esses marginais e os outros que andam por aí? Vocês acham mesmo que clubes envolvidos em confusões serão punidos como devem? Vocês acham mesmo que a polícia, historicamente mal remunerada e mal estruturada, terá como segurar o rojão?

Ano que vem tem mais, pessoal. Se você é de bem e ainda frequenta estádios, tente se proteger ou fugir das confusões. Nada vai mudar.

Foto: Abril

One Reply to “Sabinadas: “Não vai mudar nada””

  1. Pior que não muda nada mesmo. E cenas absolutamente semelhantes serão notícia no ano que vem, um script tão óbvio quanto saber que vai ter especial do Roberto Carlos no fim de ano ou mais uma edição do BBB no primeiro trimestre.

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