Neste domingo o compositor Aloisio Villar dá a sua visão sobre a recente prisão dos condenados no processo do Mensalão.

Presos políticos presos

E prenderam os mensaleiros (apesar da galera da esquerda não gostar dessa expressão).

Depois de oito anos do escândalo do mensalão, de trocas de acusações, julgamentos, recursos e embargos infringentes debaixo de muita polêmica o ministro do STF Joaquim Barbosa mandou que as sentenças fossem cumpridas e políticos e empresários foram presos em regime fechado e semiaberto.

Para quem não se lembra (impossível não lembrar) em 2005 o deputado do PTB do Rio de Janeiro Roberto Jefferson acusou alguns integrantes da base governista de pegar propinas mensais a deputados para que projetos do governo passassem no Congresso. Por isso, por essa propina ser mensal que foi dado o nome de mensalão.

Um grande escândalo que abalou as estruturas da República e respingou fortemente no presidente Lula. Lula disse que não sabia de nada, acusadores e acusados corroboraram a informação do presidente, mas mesmo assim respingou nele.

Era difícil acreditar que um presidente não soubesse do que se passava ao lado de seu gabinete. Quase ninguém acreditou. Com isso o presidente que era extremamente popular viu sua popularidade indo embora. A oposição tentava atrelar Lula ao mensalão, dia a dia caía um homem de sua confiança e o presidente começava a agonizar em praça pública.

Alguns esperaram por sua renúncia, o que não ocorreu.

A oposição calculou mal. Não partiu com agressividade para cima de Lula, não buscou o impeachment. PSDB e cia foram o boxeador que tem a chance de nocautear, mas não parte para o fim da luta. Coisa que o PT faria.

Em vez de tirarem o Lula preferiram deixá-lo fraco, agonizando na expectativa de humilhá-lo nas eleições de 2006. Mas mesmo com todos em sua volta caindo Lula é raposa velha e conseguiu se reerguer principalmente nos projetos sociais do partido e contando com o tão costumeiro esquecimento brasileiro. A tática oposicionista deu errada, Lula foi reeleito e o restante da história todos sabemos.

Dois nomes que caíram nesse escândalo são emblemáticos. Os Josés. Dirceu e Genoíno.

Dois outrora lutadores, guerreiros, que combateram a ditadura militar, pegaram em armas e sacrificaram parte de suas vidas buscando a volta da democracia. Considerados heróis nacionais até 2005 e caíram na vala comum da vaidade e da sede de poder.

Genoíno era considerado o boa praça, o político humilde, sem riqueza e honesto acima de qualquer suspeita, Zé Dirceu o grande líder, estrategista, uma espécie de primeiro ministro do Brasil e que se não fosse o escândalo fatalmente hoje seria nosso presidente, não a Dilma.

Por motivos diferentes foram denunciados. Pairam dúvidas para muitos – entre eles o Migão – sobre a atuação do Genoíno no caso; alegam que é a primeira vez que surge um corruptor pobre.

Sobre José Dirceu cai a pecha de “chefe da quadrilha”. O homem que tudo organizou, o inimigo número um do país.

Para alguns Zé Dirceu é o demônio, o maior corrupto de nossa história que comandou o maior esquema de corrupção dessa terra desde a chegada de Cabral. Festejam sua prisão dando a impressão que o Brasil agora é um novo país, sem corrupção e banditismo.

Para outros Zé Dirceu é um mártir. No twitter chegaram a igualá-lo a Nelson Mandela, o político preso porque queria uma condição melhor ao seu povo. Para a direita são monstros, para a esquerda guerreiros.

Para uns presos políticos em tempos de democracia, para outros políticos presos em tempos de mudanças.

O que são pra mim?

Presos políticos presos.

Evidente que nesse puteiro não têm virgens. Evidente que se em todos os atos de nossas vidas tem política no meio o STF também tem e nota-se claramente que além de tudo que essas pessoas são acusadas, aí também tem o peso da política.

Os corruptos do PT são tratados de maneira diferente dos corruptos do PSDB, que quase não se ouve falar de seus crimes e o mensalão mineiro, que é o mensalão do PSDB, está próximo de ficar impune. O escândalo da compra de votos para aprovação da reeleição na época de FHC ninguém fala. [1]

E me parece sim que o Joaquim Barbosa é uma pessoa vaidosa, autoritária e que quer para si o título de guardião da justiça e assim exercer sua vaidade exacerbada.

Mas isso faz deles mártires? Pobres coitados? Não.

Assim como a política tem peso nesse caso não dá pra negar que crimes foram cometidos, é cegueira ou interesse próprio pensar dessa forma. Eles foram julgados, condenados, tiveram recursos, essa história se arrastou oito anos e só agora foram presos. Que pessoa comum teria essa facilidade?

Criminoso tem que pagar por seu ato, não importa de qual bandeira esteja abaixo.

Aliás, me importa sim. Se eu já acho nojento alguém com poder na mão se aproveitar desse poder para benefício próprio acho pior ainda quando é de partido que eu voto e acredito.

Sim, porque eu votava, voto e continuarei votando no PT porque apesar de tudo acho a melhor opção; a vida do brasileiro melhorou com sua chegada ao poder, principalmente do mais pobre. Mas não compactuo com sacanagem, com safadeza, ainda mais de quem depositei minha esperança, minha expectativa. Acho errado querer proteger alguém só porque faz parte de seu partido, esses são os primeiros que quero punidos porque me traíram.

Sou petista e José Dirceu não me representa.

Vejo diariamente a briga entre petistas e antipetistas nas redes sociais por causa dessas prisões, opiniões das mais diversas  e eu não consigo concordar com ninguém. Vejo os dois lados defendendo apenas seus interesses e não pensando no país. O que importa é o projeto político.

A dívida do mensalão nunca será paga e nenhum lado quer que seja.

[N.do.E.: o colunista por esquecimento não cita escândalo ainda maior, que é o da corrupção nos trens de São Paulo. A empresa que pagou as propinas se acusou, deu nomes de corruptos do PSDB paulista e aqui no Brasil sequer investigação foi aberta.]