Neste domingo o compositor Aloisio Villar faz uma análise dos sambas escolhidos pelas agremiações do Grupo Especial para o carnaval de 2014.

Os sambas de 2014

Fim de papo. Já temos todos os sambas da Marquês de Sapucaí para 2014. Não só do grupo especial como do acesso. Mas como quase não conheço nenhum samba que desfilará sexta e sábado pela Lierj vou escrever sobre os sambas do grupo especial.

Por causa do Ouro de Tolo e do meu blog esse ano acompanhei mais do que o normal os concursos de samba. Para sempre poder opinar e colocar vídeos dos principais concorrentes. Por isso tive uma noção melhor dos que eram bons, dos favoritos (não necessariamente são os mesmos) e arrisquei vencedores. Acertei dez em doze; errei Grande Rio onde quase todo mundo errou e Unidos da Tijuca que não acompanhei de certo e chutei.

Meu lado pessimista diria que está muito fácil acertar não só os vencedores nas escolas (se quiserem já posso arriscar alguns de 2015) como as colocações das escolas no próximo carnaval (alguém acredita em Tijuca, Salgueiro e Beija-Flor fora das campeãs?). Mas também tenho lado otimista.

Meu lado otimista diz que não teve nenhum grande erro. Nada que a gente se lembre por anos como uma grande injustiça. Preferências todos nós temos e podemos nos irritar quando algum samba que gostamos não vence. Mas olhando friamente é uma boa safra.

Não tem um super samba como em 2010, 2012 ou 2013, mas também não tem um péssimo samba. Não existe um samba que gere unanimidade como melhor nem pior. Isso faz com que o Estandarte de Ouro, por exemplo, se torne imprevisível. Mas existe samba que se não é considerado pela maioria como o melhor é um que pode arrebatar a Sapucaí depois de tantos anos e se tornar tão famoso quanto o da Vila de 2013

E digo mais. Mesmo com todas as reclamações contra os sambas de enredo atuais eu peço que me mostrem um Cd produzido no Brasil esse ano melhor que o Cd das escolas de samba do carnaval 2014. São músicas de alto nível que não se tornarão famosas como merecem pelo péssimo marketing da Liesa.

Então vamos aos sambas.

Como eu disse, para mim não tem um super samba nem um péssimo samba (mesmo que tivesse um péssimo não diria aqui porque não sou maluco), mas sério: não tem mesmo. Então eu dividi os sambas em dois grupos. Os seis principais e os seis que também acho bons, mas inferiores a esses seis.

Os seis principais para mim contam, sem ordem de preferência, com União da Ilha, Portela, Imperatriz, Salgueiro, Mocidade e Império da Tijuca.

Algumas já estão se habituando a esse posto como o caso da Portela. Pelo terceiro ano seguido a escola de Madureira vai com um grande samba para avenida. Samba diferente, muitas vezes lembrando um partido alto, a parceria comandada por Luiz Carlos Máximo e Toninho Nascimento (autores do ‘Barcelona dos sambas’ em 2012) mostrou desde o começo do concurso ter uma obra superior, obra que foi abraçada pela comunidade e venceu com justiça.

O Império da Tijuca também vem desfilando com grandes sambas. De 2007 pra cá pelo menos três vezes ganhou o Estandarte de Ouro no acesso de melhor samba, a novidade que ela vem com uma grande obra agora no especial.

Novidade não só porque ela desfilará no grupo depois de muitos anos, mas pela ousadia, por correr riscos. Normalmente a escola que sobe esquece de tudo que fez certo para conseguir essa subida e chega no especial com enredos patrocinados, com medo. Aí está um grande erro porque, vamos ser francos, a escola que sobe é feita para descer no ano seguinte e se não ousar, não tentar marcar sua posição é isso o que ocorre.

Não sei se o Império da Tijuca ficará, mas está tentando, ousando, querendo se mostrar forte e fez isso na escolha do enredo e do samba. Muitos preferiam o samba do Samir Trindade, mas o escolhido tem sua força, principalmente no refrão principal com o seu “Vai tremer”.

Mocidade com uma super parceria de campeões da escola se juntando e trazendo ao grupo Dudu Nobre já tinha uma disputa delineada desde o começo, era previsível a vitória dessa parceria; mas fizeram por onde. A Mocidade vai para a avenida com um samba muito bonito que fala de Pernambuco, variações melódicas interessantes, um leve forró no refrão do meio (Chegue vem pra cá) e um refrão principal que conquistou o torcedor da escola principalmente no “Independente na identidade”.

Salgueiro escolheu um samba forte, afro onde tem algumas coisas muito interessantes como o refrão do meio todo afro e fazendo saudações a Orixás e o refrão principal que não existe, mas é uma excelente preparação para a cabeça do samba. Não é um tipo de samba que nos acostumamos a ouvir nos últimos anos na academia. É um samba pesado, difícil e por isso gosto. O Salgueiro é isso, as origens do Salgueiro são essas e chega dessa ‘busca pelo Ita perdido’.

A União da Ilha escolheu seu melhor samba nos últimos anos. Um samba que toda a comunidade quis desde o início e fez apresentações magistrais, inesquecíveis. Algumas vezes com Tinga, outras com Wander Pires (como no cd e na final) o samba sempre contou com uma grande e fiel torcida, mas não de torcida comprada, mas torcida de pessoas do dia a dia da agremiação. Que desfilam em alas, que frequentam a Ilha, que pegaram bandeiras e cantaram porque queriam.

O favoritismo desse samba era tão claro que dava medo devido às últimas escolhas da agremiação que geraram polêmica. Mas ganhou o que todos queriam e a Ilha vai unida e feliz para a avenida com um samba de letra simples e linda em sua simplicidade e melodia envolvente. O verso “Meu carnaval é o quintal do amanhã” é um dos grandes versos de 2014.

Por fim aquele samba que se não digo hoje que é o meu melhor vejo como o mais interessante.

A Imperatriz fugiu de suas características das últimas décadas. De sambas melodiosos e letra poéticas passando para um samba vibrante, refrão principal poderoso e que tem tudo para parar nas arquibancadas do Maracanã através da torcida do Flamengo. Não existe nada mais poderoso na Marquês em 2014 que o “Da lhe da lhe da lhe ô”.

Vai dar certo? Não sei. Enredos sobre clubes de futebol não costumam dar, mas esse é sobre Zico, um cara que todo mundo gosta e o samba é muito bom, empolga demais. É um samba que se tiver um desfile a altura pode marcar. Imaginem a Imperatriz campeã? Por quê não? Esse é o samba onde digo que dependendo do desfile pode ficar muito famoso.

Como eu disse foge das características dos últimos anos, mas pertence à velha Imperatriz: o “Da lhe Da lhe Da lhe ô” me lembra “La la la la Lamartine”. Eu como rubro-negro posso dizer que fico arrepiado, emocionado com esse samba. O Zicão merece.

Os outros seis sambas não são ruins, apenas aquém aos seis já citados. Os compositores da Beija-Flor e da Tijuca foram prejudicados pelas sinopses confusas, muitas vezes geradas por vaidade de carnavalesco. Mas fizeram trabalhos dignos, superiores aos enredos. São Clemente vem com um bom samba sobre favela, de uma parceria que vem se dando bem na escola nos últimos anos. Mangueira vem com mais um bom samba da parceria de Lequinho. Dizem que existiam outros do mesmo nível no concurso, não ouvi a fundo.

A Vila veio com grandes sambas em 2012 e 2013 disputando com a Portela a primazia dos sambas enredo. O de 2013 já é histórico, mas 2014 não manteve o nível. Natural já que a parceria vencedora é uma das melhores do carnaval da atualidade, mas não é formada por super heróis. Tiraram leite de pedra na sinopse de 2013, em 2014 não deu, mas é um bom samba. Só que dessa parceria esperamos sempre um “festa no arraial”.

E finalizando a coluna a Grande Rio que foi a grande surpresa das escolhas. Todos esperavam a vitória da super parceria comandada por Jorge Aragão e Péricles, mas essa não aconteceu e pelos comentários a escolha foi justa. A comunidade queria o samba da parceria comandada por Deré, muitas vezes campeão da escola e Rafael Ribeiro, uma das boas revelações entre os compositores de Caxias.

Aí estão os doze sambas de 2014. Devo voltar a eles perto do carnaval até porque as opiniões mudam, principalmente com as vozes principais das escolas e os ensaios técnicos.

A sorte está lançada e que venham as escolhas dos grupos da Intendente Magalhães.

Que venham vitórias nossas.