Nesta terça feira, o advogado Rafael Rafic nos traz a última coluna antes da escolha de samba da Portela, a se realizar na próxima sexta feira. Pretendia ir à semifinal mas o caos que se instalou no trânsito da cidade me deixou literalmente “ilhado”.

Aproveito para declarar minha preferência pelo samba da parceria de Luiz Carlos Máximo e Tuninho Nascimento. É a melhor composição do concurso e a que mais fielmente representa a tradição da Ala de Compositores da escola, sendo o samba finalista intrínseco a ela. Passemos ao relato.

Disputa da Portela, Semana 7 (Semifinal)

No último dia 11, a Portela realizou a semifinal do concurso para escolha do samba-enredo para o desfile de 2014. A quadra, apesar de cheia, ficou com uma lotação bem aquém do que eu imaginava, principalmente se comparando com as eliminatórias anteriores. A provável causa foi o trânsito caótico que se alastrou por toda a cidade do Rio de Janeiro nesse dia, fazendo com que deslocamentos que duram normalmente 2 horas no máximo, mesmo considerando a hora do rush, terem sido feitos em inacreditáveis 5 horas (ou seja, daria para chegar em São Paulo no mesmo tempo).

Com o caos do trânsito, tudo ficou atrasado porque a quadra da Portela estava praticamente inacessível por meios automotores. Eu só cheguei no horário marcado porque decidi caminhar 30 minutos ao invés de entrar em um ônibus. Ainda sim, ao chegar no Portelão, não deveria haver nem 100 pessoas e não parecia que uma semifinal de samba estava marcada para aquele espaço em menos de 20 minutos.

Assim, já passava um pouco das 23h15 quando o grupo de pagode Sedusom começou a tocar (normalmente eu chego na quadra as 22h40 com o grupo já realizando sua apresentação)

Antes do palco oficial abrir os trabalhos, Boca (locutor da Portela) lembrou que já era dia de Nossa Senhora Aparecida (afinal já passava da meia-noite) e puxou a reza de um Pai Nosso e uma Ave-Maria, pedindo a proteção dela para a escola e a nova Diretoria em sua difícil caminhada. Logo após passou o microfone para o presidente Serginho Procópio fazer um rápido discurso.

Após essa curta “cerimônia”, o palco oficial fez a sequência de 2 passadas do Hino da Portela e 7 do samba de 2013 para a apresentação no nosso primeiro casal de Mestre Sala e Porta-Bandeira, Diogo Jesus e Danielle Nascimento.

Depois da abertura, começaram as apresentações dos sambas semifinalistas que tiveram direito a 2 passadas sem bateria e 6 passadas com bateria.


A primeira parceria foi a de Celso Lopes/Charlles André/Vincius Ferreira (acima, em vídeo de apresentação anterior gravado pelo site Carnavalesco). Eles entraram com grande torcida, tendo a participação de pessoas conhecidas da quadra, e que cantava bem o samba puxado por Wander Pires. Uma apresentação correta, mas sem brilhos. Diferentemente da semana passada, até que a torcida manteve o canto em todas as passadas, mas só ela também. Como já deixei claro em colunas anteriores, eu não agüento mais do que 2 ou 3 passadas deste samba que se torna chato depois disso. Não foi diferente desta vez, parecia que o tempo não passava.

O segundo samba a se apresentar foi o de Davi Correa/Canário/Matos/Ricardo. Com sobras, essa parceria levou a menor torcida da noite. Não obstante, foi uma ótima apresentação. Alias, no meio da 5ª ou 6ª passada eu me peguei já cantando o samba e fazendo com a mão a marcação da bateria. Não fui o único a ser contagiado pelo samba, que conta com 2 refrões bastante “felizes”, parafraseando a famosa tirada de Monarco, apesar dos problemas de letra que o mesmo tem.

Foi uma apresentação gostosa e, até pelo espaço vazio no fundo da quadra deixado pela pequena torcida, alguns aproveitaram para se espalhar um pouco mais e sambar com a boa melodia.

Em seguida veio a parceria de Luiz Carlos Máximo/Toninho Nascimento/Waguinho/J. Amaral/Edson Alves. A parceria trouxe uma grande torcida, mas que facilmente poderia ser dividida em 3 partes. A primeira e a última cantavam bem o samba e pareciam realmente envolvidas na apresentação, tendo inclusive alguns rostos bem conhecidos de quem freqüenta constantemente o Portelão. Porém o meio, justamente em frente onde estava minha mesa, ficou a apresentação inteira calado, só cantando o forte refrão principal do samba. Nessa parte da quadra quem sustentou o canto foram justamente alguns portelenses de fora da torcida que são apoiadores abertos deste samba (mais uma vez, eu incluso).

Samba bom consegue se fazer sozinho, ainda mais quando o número de passadas já está em quantidade elevada. Foi exatamente isso que ocorreu aqui: o samba se vendeu sozinho e a medida que as passadas se acumulavam, ele ia melhorando, sustentando uma boa apresentação. Um efeito parecido com o ocorrido com o samba de Davi Correa.

O último samba a se apresentar foi o de Noca da Portela/Darcy Maravilha/Alexandre Fernandes/Prof. Sonia Pedro/Eli Penteado. Também com torcida numerosa, de onde assisti tive a impressão de um samba que passou mal, voltando aquele estágio de “reação zero” que este samba sempre proporcionava nas apresentações anteriores à boa apresentação passada, apesar do show dado por Gilsinho no palco.

Fiquei com a impressão de que este foi o samba que apresentou o menor canto da quadra por toda a noite. Até porque o barulho que eu ouvia vindo da torcida não parecia ser do samba cantado, mas algo indecifrável (algo como apenas gritos e urros).

Porém, durante o encerramento da noite com o palco principal, conversando com pessoas que assistiram esta apresentação de outros pontos da quadra, foi-me dito por alguns que a impressão deixada pelo samba de Noca foi de uma boa apresentação, com o samba passando bem e o canto sendo bem sustentando. Outros concordaram comigo. Ou seja, não houve um consenso.

Diferentemente das últimas semanas, não comentei nada sobre a bateria por dois motivos:

1) minha mesa nesta semifinal estava a léguas de distância dela

2) Antes das apresentações, o mestre Nilo Sergio solicitou o microfone para reclamar do fato de que estavam comentando que a Tabajara do Samba estava cantando mais este ou aquele samba, salientando a unidade e a imparcialidade da bateria da Portela. Em respeito ao grande Nilo Sergio e a fantástica Tabajara do Samba, me absterei de qualquer comentário sobre a reação dela a partir daqui, até para evitar polêmicas desnecessárias nessas dias tensos que precedem a final, salvo se ocorrer algo de bastante relevo.

Para mim, a melhor apresentação da noite foi a de Davi Correa/Canário/Matos/Ricardo. Já que não houve nenhuma grande apresentação mais uma vez e a quadra, descontada a torcida, semana após semana não demonstra nenhuma reação mais intensa para nenhum samba, fico com o clima alegre deixado por esta apresentação. Mas tudo o que foi dito neste parágrafo de nada servirá porque este samba foi o cortado da noite.

Minha opinião antiga é que este samba era o segundo melhor da disputa e não tinha como ficar fora da final. Apesar das apresentações erráticas de Preto Jóia (que errou o samba de novo nesta semana), o samba estava crescendo na quadra. Ou seja, o quadro do ano passado se repetiu, com o samba que cresceu bastante durante a disputa sendo cortado na semifinal (exatamente o que aconteceu com o “Morada do mercado popular de JK” de Edson Batista em 2013).

Assim, os sambas finalistas são os seguintes:

– Luiz Carlos Máximo / Toninho Nascimento / Waguinho / J. Amaral / Edson Alves

– Celso Lopes / Charlles André / Vinicius Ferreira

– Noca da Portela / Darcy Maravilha / Alexandre Fernandes / Prof. Sonia Pedro / Eli Penteado

Fazendo uma rápido comentário desta final, posso dizer que não tem nenhum bobo e todas as 3 parcerias tem bastante experiência em finais na Portela sabendo muito bem o que estão fazendo.

Para começar, Noca da Portela é simplesmente hexa-campeão na Portela (1976, 1985, 1995, 1998, 1999 e 2005). A parceria ainda conta com o parceiro de Noca nas últimas 3 vitórias, Darcy Maravilha, e o vencedor do samba de 2003, Alexandre Fernandes. Noca fez parte da chapa Portela Verdade durante a eleição e sabe muito bem o que tem que fazer para ir bem na final.

Luiz Carlos Máximo é o atual tri-campeão e ao todo também já tem 4 vitórias em concurso de samba-enredo na escola (2009, 2011, 2012 e 2013). Também sabe muito bem as particularidades da Portela, que não são poucas, e qual a melhor forma de se adequar a elas em uma final. Toninho Nascimento também acompanhou Máximo em suas duas últimas vitórias.

Por fim, apenas falando em títulos, pode parecer que a parceria Celso Lopes/Charlles André /Vinicius Ferreira é novata em relação às duas parcerias anteriores, mas é só impressão. Apesar de nenhum dos três ter qualquer vitória na Portela, eles já participaram da disputada final do ano passado e tem ao lado deles o aparato que fez outro compositor da escola ser penta-campeão. Eles também sabem direitinho o que devem fazer para ganhar.

Ainda acredito que, conforme venho escrevendo aqui semana a semana, Luiz Carlos Máximo/Toninho Nascimento/Waguinh/J. Amaral/Edson Alves ainda entrem na final como favoritos, mas longe de terem o gigante favoritismo que eu achava que teriam a esta altura do concurso. Ainda não dá para descartar nenhum dos três da briga.

Minha opinião quanto aos sambas, suas qualidades, defeitos e apresentações, já está bem descrita nestas seis colunas escritas sobre todo o concurso, não preciso ficar repetindo.

A grande final será na próxima sexta-feira, dia 18/09, com a abertura dos portões marcada para as 20h. Para quem pretende ir à quadra recomendo que chegue cedo, porque final sempre lota e depois para entrar e se movimentar é bastante difícil.

Para quem não puder ir à final, mas tenha acesso a uma conexão com a internet com um dispositivo de som, recomendo fortemente que acompanhe a transmissão ao vivo da quadra da Radio Arquibancada. Nela se acompanha na íntegra a apresentação de todos os sambas concorrentes além das apresentações de sambas antigos que costumam haver antes e depois dos concorrentes.

Para quem não puder ter um dispositivo com som, o twitter do site Carnavalesco costuma fazer uma cobertura ao vivo da final. Caso eu consiga, também pretendo fazer uma cobertura ao vivo do meu twitter assim como fiz em todas as eliminatórias até aqui.

Fatos rápidos;

– Simone Fernandes, Marquinhos de Oswaldo Cruz e Nilo Sérgio foram chamados pela primeira vez para a comissão julgadora nesta semifinal.

– Playlist do encerramento com o palco oficial: Hoje tem Marmelada (Portela 1980), Portela na Avenida, Foi um Rio que Passou em Minha Vida, Tributo a Vaidade (Portela 1991), Canto das Três Raças e Contos de Areia (Portela 1984).

– Admito que é na hora dessas apresentações é que sinto um pouco a falta de Gilsinho, que tinha um repertório de músicas mais vasto do que o apresentado pelo palco oficial nas eliminatórias deste ano.

– Participei na últiima 5ª feira do Cineclube promovido pelo Departamento Cultural da Portela que mostrou o filme “O Mistério do Samba”, narrando um pouco a tentativa de resgatar algumas pérolas da Velha Guarda da Portela que haviam sido esquecidas pelo tempo sem gravação. Foi uma excelente iniciativa, um evento muito bem realizado e tivemos a honra de receber na quadra, debaixo de calorosos aplausos, a lendária Tia Surica, um dos personagens do filme.

– A próxima sessão do Cineclube será em novembro e exibirá o filme “Meu Tempo é Hoje” sobre Paulinho da Viola.

– Por fim, como aperitivo para a grande final, segue uma lista dos maiores vencedores de samba-enredo na Portela:

Davi Correa (1973, 1975, 1979, 1980, 1981, 1982, 2002) 7
Ary do Cavaco (1969, 1971, 1986, 1992, 2006, 2008) 6
Candeia (1953, 1955, 1956, 1957, 1959, 1965) 6
Noca da Portela (1976, 1985, 1995, 1998, 1999, 2005) 6
Waldir 59 (1954, 1955, 1956, 1957, 1959, 1965) 6
Carlinhos Madureira (1987, 1988, 1989, 1991, 1992) 5
Júnior Escafura (2006, 2008, 2009, 2010, 2011) 5
Naldo (2002, 2006, 2010, 2011, 2012) 5
Ciraninho (2007, 2008, 2009, 2010) 4
Colombo (1976, 1995, 1998, 1999) 4
Diogo Nogueira (2007, 2008, 2009, 2010) 4
J. Rocha (1985, 1998, 1999, 2005) 4
Luiz Carlos Máximo (2009, 2011, 2012, 2013) 4
Manacéa (1948, 1949, 1950, 1952) 4
Norival Reis (1972, 1975, 1980, 1984) 4
Paulo da Portela (1936, 1938, 1939, 1940) 4
Wanderley Monteiro (2009, 2011, 2012, 2013) 4