A coluna do estudante Leonardo Dahi retoma o tema tratado pelo editor e pelo colunista Gustavo Cardoso na semana passada: Marina Silva.

O diapasão de Marina Silva

A história da nova democracia no Brasil me parece bem clara. Depois que o Governo Collor deixou o país de cabeça para baixo, os brasileiros resolveram, com alguma razão, apostar suas fichas em Fernando Henrique Cardoso para que fôssemos para frente. Até fomos e FHC foi reeleito.

Só que seu segundo mandato foi um fracasso e o povo brasileiro acabou ficando meio irritado. Foi então que percebeu que talvez fosse a hora de dar uma chance ao tal do Luiz Inácio Lula da Silva, que sempre foi meio temido por seu jeito meio esquisito. Lula ganhou a mesma responsabilidade que FHC em 1994, só que em dobro. Primeiro por tudo o que falou a vida inteira; depois, por ser a última ficha de que o eleitor dispunha.

Em suma: o eleitor viu naquele ex-metalúrgico a chance de tudo mudar no Brasil, foi para o tudo ou nada. Evidentemente, nenhum político do universo é capaz de mudar um país inteiro.

Nós podemos ficar aqui horas e horas discutindo se o Brasil melhorou ou piorou com o PT – eu acho que melhorou e muito – mas o fato é que, ainda que fosse impossível mudar tudo, o PT decepcionou. Além dos problemas na área econômica, escândalos atrás de escândalos mancharam aquele partido que, em outros tempos, lutava contra os tais 300 picaretas.

O problema é que, a partir daí, os brasileiros não tinham mais para onde correr. O Governo provou ser pouco diferente de tudo o que já havia sido visto e a Oposição não fazia – e continua não fazendo – ideia do que fazer para retomar o poder. Assim, nosso jogo político se tornou uma mistura de circo com um ringue.

Cansado de petistas e tucanos, o brasileiro está, há quase dez anos, em busca da terceira força. É bem verdade que antes disso o Ciro Gomes já havia feito certo barulho, mas, foi a partir de Heloísa Helena, em 2006, que isso – a necessidade de se criar uma alternativa ao cenário político – ganhou força. Sua votação não foi expressiva, mas a então Senadora falava a língua dos pseudo-engajados que achavam bacana não se posicionar de nenhum dos lados da batalha entre, à época, Lula e Alckmin.

Quatro anos depois, esses pseudo-engajados cresceram e se tornaram ainda mais pseudo-engajados, pois ganharam uma nova líder. Ela não era socialista como Heloísa Helena, mas defendia o meio ambiente, era a favor de plebiscitos para qualquer assunto polêmico de que pedissem sua opinião, tinha uma linguagem mais jovem, tudo o que esse povo mais quer. E o mais importante: era de um partido que sempre esteve no limbo da política nacional. Marina Silva e o PV começaram quietinhos, mas seu discurso vazio, que era mais pautado no meio ambiente que em qualquer outra coisa, conquistou o eleitorado – impulsionado pelos pseudo-engajados, mas que atingiu outros públicos – ainda mais cansado de PT e PSDB, fazendo com que ela alcançasse 20% dos votos válidos.

O problema de votar em alguém apenas por não gostar das outras opções, ainda que esta terceira quase nunca diga algo que fuja do óbvio (“devemos combater a corrupção”, “vamos salvar a Amazônia…”), é que, cedo ou tarde, ela vai mostrar sua verdadeira face – pois tentará de tudo para chegar ao poder.

Se Marina Silva tivesse o mínimo de comprometimento com o povo, não teria deixado o PV para fundar outro partido, a tal da Rede Sustentabilidade, correndo contra o tempo para terminar tudo no prazo para se candidatar. É impossível criar uma ideologia sólida o suficiente para merecer a Presidência em tão pouco tempo. Mas Marina se aproveita de um eleitorado cada vez mais desesperado e que já até desistiu de olhar a sigla em que está votando (exceto quando são PT e PSDB, claro).

O que Marina não contava é que a sua Rede não seria aprovada pelo TSE. Sem entrar muito nesse mérito, até porque não entendo do assunto, mas me pareceu que Marina errou feio na estratégia para conseguir as assinaturas. Não notou que não tem tanta gente assim querendo defender as árvores, ao contrário de evangélicos e sindicalistas, que conseguiram fundar algumas legendas recentemente.

Não bastasse largar o PV e tentar em vão fundar um partido (que teria o nome mais ridículo da história da humanidade), Marina ainda aplicou aquele que deve ser um dos mais inacreditáveis golpes recentes para tentar acabar com o bipartidarismo da política brasileira a nível presidencial: se aliou a Eduardo Campos, do PSB, novo candidato a terceira força, e se filiou ao partido.

Campos tem um histórico interessante para vir a ser uma boa terceira força. Não conheço muito de seu governo, mas foi bem aprovado pelo povo de Pernambuco e no Nordeste é bastante forte. Alguma coisa boa deve ter feito. Enfim, o que importa é que a fome se juntou com a vontade de comer e essa chapa vai com tudo para 2014.

Se você me perguntar o que eu acho que vai acontecer, digo que depende. Se Marina for candidata, a chapa vai para o buraco e daqui a quatro anos o Campos vai voltar desesperado pro Governo pernambucano. Se o candidato for ele, seria interessante para o próprio Eduardo que ele se desvencilhasse um pouco de Marina para “preparar o terreno” para 2018. Se ficar colado à ela, dificilmente chegará a algum lugar.

Só que o mais engraçado disso tudo é que a internet não perdoa. Logo que a chapa Campos-Marina (ou Marina-Campos, vai saber) foi anunciada, soltaram nas redes sociais uma notícia de 23 de março deste ano em que a própria Marina diz, sem imaginar as voltas que o mundo daria: “Dilma, Aécio e Campos estão no mesmo diapasão”, um modo mais bonitinho, como é de seu costume, de dizer que são todos farinha do mesmo saco.

Honestamente, não consigo discordar da ex-ministra. São, de fato, todos iguais. Mudam um pensamento aqui, outro ali, mas são todos como os times do Brasileirão: tão nivelados por baixo que hoje querem a Presidência, amanhã não conseguem nem Prefeitura.

O que a Marina não falou e boa parte do eleitorado brasileiro não quer enxergar, embora tenha ficado mais do que evidente, é que Marina também está nesse tal diapasão. Se você quer votar em alguém que fuja desse diapasão, vá para o porão da política e vote no PCO, no PCB. O resto, amigo, é tudo igual.

O perigo de tudo isso é que, à medida que essas terceiras forças fabricadas não encantam, elas ficam estacionadas nos mesmos 20%. Sobem um pouco, caem um pouco, mas nunca, enquanto não fizerem as coisas direito, assustarão petistas e tucanos. É uma espécie de União da Ilha do Governador da política.

Em breve, em outubro, Marina Silva terá mais uma mostra de que o diapasão pode ser o mesmo, mas sempre tem gente que fica eternamente mais abaixo.

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