A coluna do advogado Walter Monteiro traz uma outra perspectiva sobre o movimento “black bloc” e as recentes depredações ocorridas no Rio de Janeiro.

O Bloco Negro

O Brasil já conhece o Lobo Mau do ano, aquele que apavora as criancinhas, come a vovozinha e bota abaixo a casa dos 3 porquinhos: é o Black Bloc, aquela gente mascarada vestida de preto, que toca o terror nas manifestações de rua.

A grande vantagem dessa Bissexta é que não estou aqui para ser simpático a ninguém e menos ainda para engrossar o coro do senso comum e das percepções generalizadas. Por isso mesmo me dou o direito de dizer coisas surpreendentes. Dentre elas, revelar minha simpatia pelos Black Blocs.

Black Bloc não é um grupo, uma organização ou uma ideologia: é uma tática de mobilização, o radicalismo em estado bruto. Em tempos que as diferenças entre esquerda e direita haviam sido reduzidas no Brasil à querelas envolvendo o Mensalão e disputas por fatias do poder, a molecada botou o bloco negro na rua para lembrar que o sesquicentenário embate é movido a um enfrentamento muito mais sério.

Jovens esquerdistas sempre foram incendiários, não há nada de novo nisso. Montoneros, Tupamaros, Sandinistas. Ah, mas lutavam contra ditaduras….certo, mas e a Brigate Rosse, que mandou Aldo Moro, ex-Primeiro Ministro italiano, para o lado de lá? E o Baader Meinhof, que teve até música do Legião Urbana em sua homenagem, lembrando que a violência é tão fascinante, mesmo que as vidas sejam tão normais?

Não estou aqui defendendo atentados terroristas, sequestros de políticos ou coisas ainda mais sérias, entendam bem. Estou apenas lembrando que a violência, em maior ou menor grau, sempre esteve presente na vanguarda dos socialistas.

E toda a esquerda brasileira, inclusive os ultramoderados (que é o meu caso, afinal não pega bem um senhor de meia idade como eu achar correto quebrar vidraça de agência bancária), deve ao Black Bloc o resgate das ruas.

Faz pouco tempo, mas ainda assim a gente não entendeu por inteiro o que aconteceu em junho. O MPL – Movimento Passe Livre, resolveu se insurgir contra o aumento de R$ 0,20 na passagem de ônibus em São Paulo. A polícia reagiu muito mal às primeiras manifestações e andou dando uns cascudos até em alguns jornalistas em serviço.

Como não se bate em jornalista impunemente, rapidamente os meios de comunicação mudaram o tom e passaram a ser simpáticos à causa. E, de repente, já não era mais por vinte centavos. Estava todo mundo na rua, gritando, protestando, reclamando. Para piorar, começava a Copa das Confederações. O Brasil viveu uma catarse coletiva.

Mas a cada dia, as manifestações de rua assumiam um corte mais conservador. De repente, parecia que era o “Basta!” que estava dando as cartas. Narcisa Tamborindeguy foi para a rua, entusiasmada, bradar que o povo, unido, não precisa de partido. O MPL tirou o time de campo. A burguesia se agitou. A esquerda se assustou.

E quando tudo parecia perdido, o radicalismo Black Bloc apavorou quem não entendia do riscado e achava que passeata era uma espécie de micareta sem abadá. Meia dúzia de coquetéis molotov mandaram a playboyzada de volta para a rave e deixaram as ruas para os agitadores de sempre.

É correta essa tática? A meu ver, de jeito nenhum. É uma opção por estreitar a luta, afastando setores refratários às ações mais diretas.

Mas o movimento dos professores cariocas, com o Black Bloc na linha de frente, talvez sugira que eles vieram para ficar. E vão acirrar ainda mais as contradições, um caminho muito pouco usual entre os brasileiros, sempre adeptos da conciliação e da acomodação.

Eu sei lá o que nos espera…só sei que eu sinto uma certa simpatia de ver a energia pulsante dessa moçada que nada teme e que luta com raiva. Eu sei, isso não é bonito, não combina comigo, nem com ninguém que tenha mais de 30 anos…não quero explicar. Só quero dizer que se a causa é nobre, toda forma de luta vale a pena.

E para provar que nada é tão novo assim, me despeço bem clichê, com um poeminha dos anos 80:

“Não sei se tudo vai arder,
 como algum líquido inflamável.
O 
que mais pode acontecer 
num país pobre e miserável?

E ainda pode se encontrar
 quem acredite no futuro…
Quem quer manter a ordem?
 Quem quer criar desordem?”

Ousar lutar, ousar vencer.

2 Replies to “Bissexta: “O Bloco Negro””

  1. Walter,
    Discordo radicalmente dessa frase aqui, que resume o seu ponto de vista, na minha opinião: “Só quero dizer que se a causa é nobre, toda forma de luta vale a pena.”

    Se a causa é nobre, serve prejudicar de alguma forma (e pense na pior forma possível) você ou alguém querido da sua família? Não pense ou responda da boca pra fora, pense ou responda de forma sincera…

    Não preciso me alongar para esclarecer o meu ponto de vista, que vai de encontro a algo dito há muito tempo, e tão pouco compreendido, muito menos seguido: “Não faça com o outro aquilo que não gostaria que fizesse com você”.

    Óbvio que não consigo cumprir isso sempre, mas sempre tento, por acreditar que é a receita para vivermos bem nesse mundo.

    Black Boc? Um bando de marginais, simpáticos à violência, que provavelmente estão ali em sua maioria desfilando sua raiva contra algo que nem eles mesmos devem saber explicar a razão. Vemos isso em outros movimentos, como as torcidas organizadas de clubes de futebol, e até mesmo em outros movimentos políticos pautados pela violência e pelo desrespeito ao próximo.

    Deveriam ser exemplarmente punidos, de acordo com a lei. Mas isso se o País fosse sério…

    A violência não deve ser romantizada, deve sim ser evitada, a todo custo. E no meu ponto de vista, os fins nunca justificam os meios. Os meios adequados que devem ser utilizados para um correto fim.

  2. Fora a questão da violência — que deveria sim, ser punida conforme lei, mas não LSN — o que me diverte nessa história são os “Foras”.

    Fora Cabral? O cara foi reeleito no 1o turno, o governo não fez nada de muito diferente desde então, e agora é “Fora”?

    Fora Paes? Essa é mais divertida ainda. O cara foi reeleito NO ANO PASSADO com votação avassaladora no 1o turno. Nada fez de diferente desde então, apenas o feijão com arroz. E agora é “Fora Paes”?

    Seguramente não são representativos do grosso da sociedade.

    Não votei nas duas figuras e gostaria que não tivessem sido eleitas. Mas não vejo qq prática nos governos que enseje o impedimento abrupto.

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