Em data diferente da habitual, a coluna do estudante Leonardo Dahi traça semelhanças e diferenças entre o Corínthians e o São Paulo.

O Soberano e o Todo-Poderoso

Embora não façam o maior clássico da capital paulista, São Paulo e Corinthians sempre foram os opostos no cenário futebolístico da Terra da Garoa.

O primeiro sempre foi visto como o time da elite, dos ricos, consagrado internacionalmente, de torcedores que falam bem e compram cadeiras cativas no Morumbi. O segundo sempre foi dos operários, dos menos abastados, de gente que tropeça no português e que deixa de dar leite aos filhos para ir ao Pacaembu. Além do mais, era um time considerado “estadual” até 1990, quando conseguiu seu primeiro título brasileiro (em cima do próprio São Paulo).

Entretanto, por ironia do destino, esses times sofreram uma curiosa inversão de papéis que, agora, ganha contornos cada vez mais inesperados.

Dois de dezembro de 2007. O Corinthians empata com o Grêmio no Olímpico e cai para a Série B do Campeonato Brasileiro. Enquanto isso, na Arena da Baixada, o São Paulo perde para o Atlético/PR, mas nem se importa, visto que já havia garantido o título cinco rodadas antes – o bicampeonato, somado a três anteriores, três Libertadores e três Mundiais.

O Presidente corinthiano Andrés Sanchez, ainda em Porto Alegre, é categórico: “quem quer rir do Corinthians, que ria hoje porque, a partir de amanhã, não vai rir mais”.

O resto é história. O São Paulo foi caindo (embora ainda tenha levado o Brasileiro de 2008 e disputado até a última rodada o de 2009), o Corinthians foi crescendo e as equipes entraram em 2013 em um cenário completamente diferente daquele de cinco anos antes. O São Paulo, apesar de ter vencido a Sul-Americana, via o Corinthians ganhar a Libertadores e o Mundo. Via seu outrora motivo de orgulho, o Morumbi, virar um estádio ultrapassado, enquanto seu maior rival construía a moderníssima Arena que abrirá o Mundial de 2014.

E 2013 começou mais ou menos como terminou 2012. O São Paulo foi humilhado pelo Atlético/MG na Libertadores, enquanto o Corinthians parava no Boca em um jogo em que foi claramente prejudicado pelo árbitro, ficando com um gosto (que mais tarde se provaria falso) de que o bi viria – não fosse Amarilla.

Meses depois, as duas equipes se encontraram na Recopa – competição que reúne o campeão da Libertadores e da Sul-Americana do ano anterior – e o Corinthians levou a melhor com certa facilidade.

O ano foi passando e o São Paulo se viu mergulhado na pior crise de sua história. Afundado na zona de rebaixamento do Brasileirão, não conseguia manter um treinador no seu banco de reservas.

Engana-se, porém, quem pensa que a Fiel Torcida tinha muito que comemorar. O Corinthians até brigava pelo título, mas a apatia do time já incomodava a torcida. As contratações milionárias não surtiram efeito e a equipe fazia boas atuações esporádicas. Via de regra, a principal reclamação de seus seguidores era que o escrete alvinegro perdera aquele “sangue corinthiano” de comer grama para vencer.

Torcida que, aliás, foi ganhando uma apatia surpreendente. Aquele time onde “não existia ontem”, onde nada no passado justificava uma má fase no presente, passou a tolerar empates em casa contra times muito mais fracos apenas pelas lembranças daquele dourado 2012. Agora, a Fiel deu uma despertada e encontrou o time em 11º lugar, completamente fora da briga pelo título e com muitas chances de não ir à Libertadores de 2014.

Mas e o São Paulo?

Bem, o São Paulo começou a jogar de um jeito que eu pelo menos não me lembro de ter visto no Morumbi. Com a volta do consagrado Muricy Ramalho, a equipe tricolor largou a “soberania” e, ainda que inconscientemente, assumiu sua inferioridade perante a maioria dos times do torneio. Não sou fã do Muricy, acho o pior dos treinadores de ponta do país, mas é inegável que ele mudou a cara desse São Paulo. De um time ainda mais apático que o Corinthians, e muito inferior tecnicamente a uma equipe que ainda é muito fraca, mas que, agora batalha até o fim pelos três pontos.

Sua torcida, apesar de toda essa pompa de “time grande não cai” tem, por dentro, o claro sentimento de que o São Paulo, em 2013, briga para ficar na Série A. Com ingressos mais baratos, passou a colocar bons públicos no Morumbi e “abraçou” esse time. Passou a roer as unhas, passou a pedir para os santos, desceu do salto (com o perdão do trocadilho, acreditem, involuntário).

Nesta semana, começa para ambas as equipes a chance de dar outra reviravolta nessa história. O Corinthians, agora longe de ser o melhor time do país, precisará de muita luta para passar pelo Grêmio na Copa do Brasil. O São Paulo, terá a chance de recuperar sua soberania internacional, agora somada a esse espírito guerreiro, a partir desta quinta, quando enfrentará a Universidad Católica pelas oitavas da Sul-Americana.

Independente do que aconteça, 2013 já serviu para mostrar que esses eternos inimigos, que sempre se orgulharam das suas diferenças, têm muito mais em comum do que poderiam imaginar.

(Foto: Uol)