A coluna de hoje do jornalista esportivo Fred Sabino trata dos recentes acidentes do esporte a motor e questiona até onde o risco é inerente e até quando é a falta de cuidados de segurança adequados.

Esporte a Motor: Até onde vai o risco?

Que o esporte a motor é arriscado, todos nós sabemos. Os casos de fatalidades e lesões graves ligadas às corridas de carros, motos e caminhões são inúmeros. Quem não se lembra do acidente fatal do tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna, há 19 anos? Desde então, muito se avançou em segurança e ninguém mais morreu na categoria – Felipe Massa escapou da morte graças a uma evolução nos capacetes decorrida da morte de Ayrton.

Mas a sombra da morte sempre ronda, não tem jeito. E este ano vem provando isso.

O ano começou com um acidente de grandes proporções na prova da Nationwide Series, uma das divisões nacionais da Nascar, em Daytona. Na ocasião, o carro de Kyle Larson foi arremessado na tela de proteção (foto) e destroços atingiram 28 torcedores (ninguém morreu).

Larson saiu inteiro do carro graças a um rigoroso padrão de segurança nos carros da Nascar. A categoria sediada em Charlotte tem um avançado centro de pesquisa onde os técnicos sempre buscam aumentar a resistência dos carros, já que os acidentes fazem parte do show. Desde o grande Dale Earnhardt, em 2001, ninguém morre na divisão principal.

Outro fator que ajuda na segurança da Nascar são as chamadas ‘safer barriers’, proteções de fibra de carbono que absorvem impactos que antes aconteciam diretamente nos muros de concreto dos circuitos ovais.

No entanto, no acidente de Larson, percebeu-se pela primeira vez que o portão que dá acesso da arquibancada para a pista era frágil. Então, a Nascar, sempre zelosa, refez a grade para a corrida da Sprint Cup do dia seguinte e, de emergência, elaborou imediatamente novos padrões para estas instalações em todos os circuitos. Mas este rigor e reação rápida infelizmente não vemos nos nossos autódromos.

Este ano, em Tarumã, houve uma série de acidentes no fim de semana da Stock Car. Ao contrário de qualquer lugar no mundo, os pneus das barreiras não são presos, tampouco recebem uma lona na parte frontal. Como resultado, os carros de Marcos Gomes e Wellington Justino desfizeram as barreiras quando bateram. Já Nonô Figueiredo, numa escapada banal, acabou capotando porque havia um trecho pequeno, mas pessimamente posicionado, de caixa de brita.

Recentemente, em Ribeirão Preto, Helio Castroneves levou um grande susto depois que os freios de seu carro falharam. O mesmo Helio que antes havia alertado a necessidade de se recuar a barreira de concreto e pneus da mesma curva em que acabou batendo. Depois da colisão, finalmente recuaram a barreira e outros pilotos que escaparam no mesmo ponto nem sequer bateram.interlagos_chicane_curvadocafe_22031993_EduSilva_AE_600E o que dizer da Curva do Café em Interlagos? Desde abril de 2011, quando Gustavo Sondermann perdeu a vida numa prova da extinta Copa Montana, que se promete a ampliação da área de escape no local. Nada foi feito até hoje no local, apesar da promessa de dirigentes e políticos. Apenas fizeram uma chicane-gambiarra no local (acima) para as corridas de turismo, já que a F-1 não exige uma área de escape maior ali. Patético e revoltante.

Por outro lado, avançou-se na segurança dos carros da Stock, com a adoção de um novo banco que protege mais a cabeça do piloto e melhores proteções contra incêndios depois do susto vivido por Tuka Rocha em 2011, no Rio. Nos dois casos, méritos para os pilotos, que formaram uma associação e passaram a cobrar melhorias. Bom que eles tenham sido enfim ouvidos.

Mas engana-se quem acha que problemas existam apenas no Brasil. Este ano, nas 24 Horas de Le Mans, o dinamarquês Allan Simonsen pereceu quando seu Aston Martin se chocou contra um guard rail. Isso mesmo, em um local onde não havia barreiras de pneus. Alega-se que o traçado de Le Mans é grande demais (13 km) e que não daria para reforçar toda a pista, já que durante o ano parte do circuito fica numa estrada. Pura preguiça de se fazer direito.

Muito se avançou também no motociclismo. Os autódromos também passaram a ter padrões mais elevados de segurança e as vestimentas dos pilotos também evoluíram bastante. Mas neste tipo de modalidade a situação é muito mais complicada porque o que absorve o impacto de um acidente é o próprio piloto…

Dois anos depois da tragédia que ceifou a vida do promissor Marco Simoncelli na MotoGP, duas mortes muito parecidas ocorreram. Numa corrida de Supersport na Rússia, o italiano Andrea Antonelli caiu durante uma prova na chuva e acabou atropelado por quem vinha atrás. Aqui no Brasil, em Interlagos, Cristiano Ferreira caiu no S do Senna e, no chão, foi atingido.

Em Brasília (um circuito ultrapassado, diga-se de passagem), uma outra morte, mas desta vez por falha no equipamento de segurança: a piloto Vanessa Daya não resistiu a uma queda quando seu capacete rachou no impacto.

Em todos esses casos, fica uma lição: o risco sempre existiu e sempre vai existir, mas, justamente por isso, nunca pode haver descanso na tentativa de se aumentar a segurança de autódromos, veículos e vestimentas.

Infelizmente muitos que poderiam estar vivos ainda pagaram pela ineficiência e descaso de autoridades.

(Fotos: Globoesporte.com e Agência Estado)