Hoje o advogado Rafael Rafic inicia sua série de colunas sobre a disputa de samba da Portela, com o primeiro dia da Chave Azul (com 18 sambas dos 35 inscritos). Ressalto uma vez mais que o exposto aqui é a opinião pessoal do colunista e que até a semana da final não irei me manifestar publicamente sobre o assunto.

Disputa da Portela: Chave Azul, Dia 1

Após o ‘recall’, o concurso de samba-enredo da Portela começou na última sexta-feira, dia 23, no Portelão com a apresentação da chave azul. Antes de começar a falar da disputa em si, preciso comentar que apesar de muito ter sido dito a boca miúda sobre esse recall (eu inclusive achei estranho), devo admitir que a Portela jogou limpo e realmente não percebi qualquer estranheza na forma como a escola o conduziu. Apenas parece ter havido um erro de timing de divulgação do mesmo, o que gerou toda essa confusão.

Agora, falando da noite de sexta em si. Como é tradição, a noite começou com Rixxa e Rogerinho cantando sambas antigos da Portela. Alias, sambas não. Samba. Esse foi o fato mais desgostoso. Apesar da Portela ter samba-enredo bom o suficiente para ficar 1 hora sem repetir sambas, por motivos indecifráveis apenas se cantou, logo após uma rápida passagem do sempre presente Hino da Portela, durante 15 minutos e oito passadas o samba desse ano.

Mesmo sendo um ótimo samba, a meu ver não precisava ser tão repetido. Assim que terminou essa apresentação inicial reclamei isso com várias pessoas, fossem da diretoria, da harmonia ou do palco oficial. Disseram que tentarão melhorar isso para as próximas disputas.

Em tempo: isso tem sido uma das melhores coisas dessa Nova Portela. As pessoas que realmente decidem na escola estão sempre presentes no evento, disponíveis para conversa, interessados em ouvir as opiniões dos portelenses e se acharem que a sua ideia é boa, não há qualquer vaidade em acatá-la se realmente ela for melhor.

Logo após começou a longa apresentação dos 18 sambas que compunham a chave azul. Cada samba teve direito a 3 passadas, 1 sem bateria seguida de 2 com.

Essa chave ficou parecendo a ‘chave da morte’, enquanto na branca, apesar de de ter ficado com os favoritos Máximo e David Correa (alias, David foi quem melhor se aproveitou do recall e transformou um samba tenebroso em possível finalista), ficou apenas com eles, enquanto os outros 5 ou 6 bons sambas da safra ficaram na chave que se apresentou.

Não foi uma noite de grandes passagens, tendo apenas dois sambas que passaram realmente bem.

Inicialmente, o samba de Noca da Portela se aproveitou do fato de contar com o ‘D. Sebastião’, Gilsinho, no microfone e passou redondo. Como ponto fraco o fato de, apesar da boa passada, a quadra não ter esquentado e a própria torcida do samba (apenas 2 sambas levaram torcida) balançava muito o bracinho, mas não cantava uma vírgula.

A outra boa apresentação foi do samba de Celso Lopes. Com Wander Pires no palco, a parceria conseguiu levar bem o samba, apesar de já sentir o problema do som alto demais que assolou todos os sambas da segunda metade da noite, após a quadra ter esvaziado. O mais interessante é que apesar de contar com o rei das disputas no palco, a voz que mais se ouvia era a do Serginho do Porto.

Mesmo com a quadra mais vazia, houve certo entusiasmo entre os poucos ainda presentes.

Também ficou nítido que Celso Lopes como ex-parceiro de Neyzinho do Cavaco (que oficialmente se retirou da disputa por ser conselheiro), herdou dele toda a estrutura de palco e os apoios extra-quadra que sempre foram de Neyzinho (não importando muito a qualidade do samba). Isso para mim explica o apoio explicito que verifiquei por parte de algumas pessoas (não da Diretoria) nos camarotes a esse samba.

Mesmo não sendo o melhor samba desta chave na minha opinião, em minha opinião ele deverá ser o grande candidato ao prêmio maior dos 18 que se apresentaram, disputando com a obra de Máximo e David, ambos na outra chave.

A última boa apresentação foi a surpresa da noite. Apesar do samba que considero ruim, com uma letra que flerta com o trash (“Ser carioca é ser Portela, sou Portela”) o samba de Marcos Glorioso passou bem e, acreditem, Nino do Milênio não comprometeu (mas não ajudou também).

Esse foi o outro samba que levou torcida. Além de numerosa e paramentada com bandeiras piscantes, a torcida tinha ao menos o refrão na ponta da língua e já o cantava antes mesmo de começar a apresentação.

Nino foi esperto e não quebrou o momento com aquele alusivo sertanejo chato que desanima qualquer um. Logo depois do “Essa é a parte que me emociona” partiu direto para o samba. Por causa de sua baixa qualidade numa guerra de titãs, acredito que não deverá ir longe mesmo que continue passando bem.

Depois desses três, eu coloco dois sambas: o de Juan Espanhol/Sylvio Paulo e samba de Edson Batista.

Ambos são sambas que estão um tanto esquecidos mas que tem alto potencial de crescimento na quadra a medida que continuar a disputa. Ambos também teriam feito uma boa passagem ontem se não fossem os problemas emfrentados no som ao fim da noite (Espanhol foi o 14º samba e Edson o 16º).

Assim como ano passado, mais uma vez não gostei do samba do Edson na fita mas muito me agradou na quadra.

Já quanto a Espanhol, não ficarei nem um pouco surpreso se eu vê-lo na final. Se não é o melhor samba dessa chave, é o segundo melhor, disputando com o próximo samba a ser citado.

A parceria do dono do fim de semana deste blog, o Aloisio Villar, teve uma passagem irregular demais. Após uma passagem sem bateria primorosa (talvez a melhor da noite), o palco se perdeu com a entrada da bateria na segunda passada e a terceira caiu ainda mais.

Ao conversar com o ótimo Marquinhos do Boi e o Cadinho (que cantaram o samba sem a presença de Igor Sorriso) houve a reclamação de que após a entrada da bateria ninguém mais ouvia nada no palco, sequer conseguia ouvir sua própria voz. Detalhe: eles se apresentaram com a quadra deserta pois foram os penúltimos.

Isso explica os problemas nas duas últimas passadas, inclusive as duas atravessadas de samba na terceira passada. Mas não explica o assassinato de uma das melhores tiradas do Aloisio na letra do samba. Marquinhos, como primeira voz, abusou do direito de cantar “um rio de amor, te fiz poema” quando o certo é uma bela passagem que diz “flechado de amor, te fiz poema”.

Ainda na seara dos sambas favoritos, a grande decepção foi o samba de Waldir 59. Passagem ruim pela segunda vez seguida (já não havia passado bem antes do recall). O samba na fita parece ser bem melhor, tem condições de se recuperar. Mas dos grandes nomes desta chave foi facilmente a pior apresentação.

Ainda merece menção o samba de Zezé do Pandeiro, do qual também tive boa impressão na fita. O samba também me pareceu ser bom na quadra, mas foi prejudicado pelo palco da parceria que não estava muito inspirado.

Ao final foram cortados 5 sambas: Claudinho Menezes & cia, Bruno Lima & cia, André do Cavaco & cia, Celso da Paixão & cia e J. Salles & cia. Cortes justíssimos. Pode-se discutir se ao invés de um samba poderia entrar um outro, mas são discussões normais dentro dos parâmetros subjetivos de uma competição de sambas. Os possíveis sambas que se salvariam nesse caso invariavelmente cairiam na próxima eliminatória desta chave, no dia 4 de setembro, 4ª feira, às 20 horas.

Fatos rápidos:

– Apesar de defender apenas o oitavo samba na noite, Gilsinho chegou antes das 23h na quadra e ficou até as 3h. Foi bastante requisitado em toda sua estada por diversos portelenses – e não-portelenses. Estava bastante descontraído, parecia estar em casa e estava muito solícito. Conversou bastante com vários seguimentos e fez a social com todos (até comigo, a quem ele não conhece). Ainda aposto minha ficha preta na volta dele à Portela em 2015.

– Wantuir mais uma vez não estava. O palco oficial da escola ficou a cargo de Rixxa (não sei como se escreve atualmente o nome dele), Rogerinho e Cremilson.

– No final das apresentações, a playlist do trio acima já foi bem melhor: Portela na Avenida, Gosto que me Enrosco (Portela 95), “Madureira sobe o Pelô” (Portela 2012), Ser de Luz e Eu sou o samba.

– É impressionante como ninguém consegue ficar parado com a pancada de 2012. Samba foi passado 3 vezes e mesmo após longas 5 horas de eliminatórias não havia quem ficasse parado na quadra. Até a harmonia se esbaldou fazendo a “subida do Pelô”.

– Presenças notáveis: Alexandre Louzada, Serginho Procópio, Marcos Falcon, Paulinho do Ouro, Wagner Tavares (diretor de carnaval da Imperatriz, mais uma vez prestigiando a disputa portelense como fizera por todo ano passado), Squel (porta-bandeira da Mangueira) e a lendária Wilma Nascimento.

– 1ª apresentação da chave branca: dia 30, 6ª feira, as 23h na quadra da Portela.

(Foto: Facebook oficial da Portela)

3 Replies to “Made in USA – “Disputa da Portela: Chave Azul, Dia 1””

  1. antes de postar uma porção de besteiras sobre os nossos sambas concorrentes , procure informar-se melhor ou apurar os seus ouvidos, tente saber tbmos nomes de todos os autores do samba ok, vc como achista deve ser um bom advogado

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