Na última semana a revista Forbes divulgou o ranking das equipes esportivas “mais valiosas” no mundo. É um cálculo feito a partir de uma série de variáveis como dados financeiros, hábitos de consumo, tamanho de mercado, força de suas ligas, sucesso esportivo e outras.

Chama a atenção, entre os 50 componentes da lista principal, a concentração de equipes da NFL, a liga de futebol americano. Das 32 franquias que compõem a NFL, nada menos que 30 fazem parte da lista – e as duas equipes que ficaram de fora ocupam respectivamente, a 51ª e a 52ª posições. Sem dúvida alguma, a força da NFL, sua penetração no imenso mercado americano e sua recente expansão para outros mercados (ampliando o público consumidor) levam as equipes da liga a terem esta posição privilegiada.

Porém, as três primeiras posições do ranking são ocupadas por times do nosso futebol, o soccer: Real Madrid (no alto do post, a foto de seu estádio), Manchester United e Barcelona. Eles foram valorados respectivamente em 3,3 bilhões de dólares, 3,2 e 2,6. Na quarta posição aparece o New York Yankees, da MLB (a liga americana de beiseball) e somente depois vem o primeiro time da NFL: o Dallas Cowboys.

Completando os dez primeiros temos mais três times da NFL (Patriots, Redskins e Giants), uma da MLB (Dodgers) e o Arsenal da Inglaterra. Comprovando também que a NBA, a liga de basquete profissional americana, é uma liga de menor tamanho nos EUA, apenas três equipes aparecem entre os 50 mais valiosos: o New York Knicks, o Los Angeles Lakers e o Chicago Bulls.

Fora dos clubes da NFL, MLB, NBA e do futebol europeu há apenas outras três marcas: o Toronto Maple Leaf (da liga de hóquei americana, a NHL) e as equipes de Fórmula 1 Ferrari e McLaren. Outra curiosidade é que três dos quatro times da mesma sub-conferência da NFL estão entre as dez mais valiosas: Cowboys, Redskins e Giants.

O Real Madrid obteve o primeiro lugar especialmente devido ao seu incremento nas receitas (62% nas últimas três temporadas), à sua receita de US$650 milhões na temporada 2011-12 e ao lucro antes dos impostos e transações com jogadores de US$ 134 milhões – menor apenas que o Dallas Cowboys, da NFL.

Apesar da força da NFL, há uma série de motivos que explicam o fato de clubes de futebol ocuparem o pódio desta listagem. O primeiro deles é a internacionalização da marca: por mais que a NBA e a mais recentemente a NFL estejam se expandindo para o mundo, não possuem a penetração que os três clubes (Real Madrid, Manchester United e Barcelona) possuem. Isso se reflete em consumo global do seus produtos e, consequentemente, mercados ampliados.

Basta ficar apenas aqui no Brasil: é muito mais fácil comprar uma camisa destes três clubes que uma da NBA ou da NFL – desta última, então, é virtualmente impossível, somente mandando trazer dos EUA.

O segundo motivo é o que blog Trivela chama de “concentração de renda”: os times maiores de futebol são mais ricos e possuem condições de terem sempre as melhores equipes, mantendo-se no topo por longos períodos. Nos esportes americanos o sistema de “revenue sharing” e o draft para recrutamento de novos valores acabam tornando os times mais equilibrados e impedindo a formação do que se chama de “dinastia”, com uma mesma equipe dominando a liga e seu campeonato por muitos anos.

No futebol europeu as grandes equipes, além disso, são muito mais ricas que as demais, o que leva a uma polarização entre elas. O que não ocorre nas ligas americanas, onde se procura o equilíbrio entre as equipes. Embora as três primeiras equipes do ranking sejam do futebol europeu, há diversos times considerados médios da NFL na lista dos 50 mais valiosos, o que seria impensável no futebol.

A NFL é um bom exemplo disso: se pegarmos o Superbowl nos anos 2000, do lado da “Conferência Nacional” apenas o New York Giants conseguiu chegar à grande decisão mais de uma vez, com três oportunidades e dois títulos. Todos os demais chegaram à grande final apenas em uma ocasião neste século. Na “Conferência Americana” o equilíbrio é um pouco menor dado o domínio do New England Patriots e do Pittsburgh Steelers, mas ainda assim cinco franquias chegaram ao Superbowl por este lado. Foram oito campeões diferentes desde a temporada 2000/01.

Como comparação, o Campeonato Espanhol, por exemplo, no mesmo período teve apenas três campeões: Real Madrid, Barcelona e o Valencia. Ainda assim desde 2004 que Barcelona e Real dividem sozinhos os títulos. Na Inglaterra foram quatro – mas com o Manchester United levando sete títulos neste período e o Chelsea, três – e na Alemanha cinco, entretanto o Bayern de Munique conquistou sete taças.

Com uma concentração maior de títulos torna-se mais fácil “fidelizar” o consumidor global e aumentar a sua retenção, o que se traduz em maior audiência global destas equipes, maior exposição e maior potencial tanto de contratos de patrocínio como de licenciamento e venda de produtos.

Mais um fator a se considerar é o tempo de exposição. As temporadas das ligas americanas, somando-se os playoffs, não duram mais que oito meses no máximo, enquanto o futebol tem atividade praticamente o ano todo. Ou seja, globalmente os clubes de futebol estão mais tempo na mídia e com isso tem maior potencial de atração de recursos.

Para fins de comparação, publico abaixo tabela (clique para ampliar) com pesquisa semelhante feita pela BDO Auditores Independentes para os clubes de futebol brasileiros, publicada recentemente pelo blog “Teoria dos Jogos”. O Corínthians, considerado a marca mais valiosa brasileira, tem US$ 496 milhões de valor (pelo câmbio do dia 17/07, R$ 2,2366 por dólar). O Flamengo, segundo colocado, foi valorado em US$ 382 milhões e o São Paulo, terceiro, US$ 379.

Fig-01

A fim de que o leitor tenha uma ideia, o 50º colocado da lista da Forbes, o Oakland Raiders (NFL), foi valorado em US$ 785 milhões, ou seja, 58,2% maior que o do clube brasileiro considerado mais valioso. Descontando-se as diferenças de metodologia (não há uma descrição exata dos métodos utilizados pela Forbes e pela BDO), é um bom retrato do quanto nosso futebol ainda tem a avançar em termos de gestão, exposição e receitas.

Ainda que se saiba que o mercado brasileiro em si é menor que o americano e o europeu, nossos clubes possuem potencial para agregarem valor nos mercados sul americano, asiático e africano, especialmente. O pensamento da gestão deveria ser no sentido de internacionalizar a marca e assim ampliar seu mercado consumidor – e, consequentemente, as receitas.

Uma curiosidade da pesquisa para 2014 é qual será o efeito do contrato de fornecimento de material da Adidas ao Flamengo na valoração da marca do clube. O clube foi colocado como um dos “Top 5” da marca, com distribuição de material por todas as partes do mundo. Teoricamente isso aumentaria a penetração do “Mais Querido” nos mercados globais, suas receitas e consequentemente seu valor percebido, refletindo no ranking.

Amanhã, na segunda parte, vamos analisar dois fatores abordados pela Forbes: os estudos de casos dos times novaiorquinos e as equipes que, mesmo sem ganhar nada há bastante tempo, só aumentam o seu valor. Além do curioso caso do Green Bay Packers, da NFL.