Nesta sexta, a coluna “Sabinadas”, do jornalista esportivo Fred Sabino, fala daquele que é o piloto brasileiro mais próximo de alcançar a F-1: Felipe Nasr.

A aposta brasileira

No último fim de semana foi disputada a terceira rodada dupla da temporada da GP2, principal categoria de acesso à Fórmula 1. Único representante do Brasil na competição, Felipe Nasr (foto) conseguiu mais dois pódios, com um segundo e um terceiro lugares, e ocupa a vice-liderança na tabela, com 76 pontos – 17 a menos do que o líder, o monegasco Stefano Coletti.

Com mais oito rodadas duplas, o brasiliense tem boas chances de se tornar o primeiro piloto do país a conquistar o título da categoria – Nelsinho Piquet (2006), Lucas di Grassi (2007), Bruno Senna (2008) e Luiz Razia (2012) bateram na trave e ficaram com o vice-campeonato. Sem pieguismo, Nasr vem reunindo todos os ingredientes para levar o caneco e dar o salto definitivo para a Fórmula 1.

Campeão em todas as divisões de monoposto das quais participou (Fórmula BMW Europeia e Fórmula 3 Inglesa), Nasr teve um duro ano de estreia na GP2. Sofreu com as particularidades da categoria e ainda viu a equipe DAMS o negligenciar em favor do italiano Davide Valsecchi, que disputava (acabou ganhando) o título contra Razia. Para este ano, com o aprendizado da estreia, haveria a necessidade de conseguir resultados melhores.

Nasr, então, decidiu voltar para uma velha conhecida, a equipe Carlin, com a qual foi campeão na Inglaterra. Houve desconfiança porque a Carlin nunca brigou para valer na GP2. Mas, além de voltar a um ambiente saudável, o piloto passou a contar com a ajuda de engenheiros oriundos de times vencedores na GP2. Primeiro ponto.

Ele sabia ainda que precisaria mesclar o arrojo natural dos jovens pilotos com um olhar mais aguçado e estratégico sobre as corridas, algo já requerido pelos chefões da F-1 aos aspirantes. E, num almoço com o próprio Felipe antes de uma gravação do Linha de Chegada em abril, ele me explicava que o segredo da temporada (assim como vem sendo na F-1) seria gerir o desgaste dos pneus durante a corrida para chegar ao fim das provas em boas condições. Segundo ponto.

Mas como poupar pneus e ao mesmo tempo ser agressivo a ponto de chamar a atenção da mídia, torcida e chefes da F-1? Nasr mostrou isso com sobras na última rodada dupla, em Barcelona. Na prova de sábado, depois de uma largada ruim (este vem sendo o único pecado de Nasr no ano), o brasiliense cresceu demais nas voltas finais (quando os pneus abrem o bico) e foi corajoso na dose certa. Passou um a um seus adversários e ficou num ótimo segundo lugar. Terceiro ponto.

E por que Nasr ainda não venceu na temporada? Além das más largadas do próprio piloto, as estratégias e os pit stops da Carlin ainda vêm deixando a desejar. E Nasr não é nada burro, muito ao contrário. Nas três vezes em que chegou em segundo lugar, o brasileiro cruzou muito próximo de quem estava na frente mas não foi tolo de tentar uma manobra suicida pela vitória.

Ah, então Nasr não vem sendo corajoso? Não, pelo contrário, como em diversas manobras de ultrapassagem na temporada. Mas, inteligente como é, Felipe sabe que neste momento, ainda não é momento de ir para o tudo ou nada numa disputa por vitória. Afinal, como já expliquei no começo do texto, ele está muitíssimo bem posicionado na tabela, com muitas provas pela frente – sem comparações ufanistas, é uma abordagem no melhor estilo Fittipaldi ou Piquet.

Minha aposta é que, pela forma como está encarando o campeonato, degrau a degrau, tijolo por tijolo, Nasr simplesmente está apenas esperando o momento certo de dar o bote. E, na oportunidade em que pude conversar longamente com Felipe, entre a primeira e segunda rodadas (Malásia e Bahrein), o senti bastante convicto. Tanto que nas quatro corridas seguintes, o brasiliense colocou em prática tudo o que disse naquele almoço.

Com Felipe Massa já tendo completado 32 anos de idade, ou seja, já estando na metade final de sua carreira, Felipe Nasr, com apenas 21 anos, desponta realmente como próximo representante regular do Brasil na Fórmula 1. É lógico que posso estar errado, mas sinto firmeza em Nasr como há muito tempo não sinto num jovem piloto brasileiro. E, inteligente do jeito que é, não o vejo cair em armadilhas como cobrança, oba-oba ou comodismo.

É esperar para ver.