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Embora já há algum tempo não escreva sobre política aqui, o leitor mais antigo deste Ouro de Tolo sabe que sou eleitor do PT, embora não seja filiado ao partido. Na verdade, sou mais lulista do que petista, pois a ala comandada pelo ex-presidente é o mais perto que temos do que chamamos de “social democracia”.

Contudo não irei falar do PT nem do governo neste artigo, mas sim tentar entender os movimentos de reorganização da oposição brasileira.

Nos últimos anos, tendo o discurso de melhora social e econômica devidamente ocupado pelo governo petista, a oposição como resposta (em geral) apelou para um discurso mais conservador, dando uma guinada à direita em termos basicamente de costumes. Em um discurso influenciado fortemente por diversas matizes religiosas, optou-se pelo conservadorismo nos costumes – e o destaque obtido por bispos ultraconservadores e pastores evangélicos do naipe de Malafaia nas recentes eleições de 2010 e 2012 é um bom exemplo deste fenômeno.

Por outro lado, o velho discurso udenista de combate à corrupção, em tabelinha com a imprensa e parte do judiciário foi ressuscitado. Os últimos números eleitorais mostram que tal estratégia não teve muito sucesso: apesar  de se ter milimetricamente colocado o julgamento do Mensalão para a época eleitoral o PT ainda cresceu bastante no último pleito municipal.

Economica e socialmente a estratégia recente da oposição, em especial do PSDB, tem sido a de combater os programas sociais e de investimento do governo federal. Há um claro desconforto com questões como a queda de juros e a formação de um mercado interno amplo de consumo nacional. Além disso, há uma clara campanha de desestabilização da Petrobras, uma vez mais em parceria com setores da imprensa.

Contudo, não se vê o PSDB defendendo alternativas. O discurso é o mesmo dos tempos de Fernando Henrique Cardoso: aumento dos juros, compressão salarial e desmonte do Estado. A atual crise européia vem mostrando que esta ortodoxia econômica só aumenta a crise econômica – voltarei ao tema em outra oportunidade.

Mas deixemos de embromação e vamos ao alvo do post, que não é criticar a oposição e sim tentar entender os caminhos a serem seguidos. Com a guinada à direita do PSDB abriu-se um espaço de centro direita que, neste momento, não tem ocupantes.

O próprio PSDB, na figura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, já se apercebeu desta necessidade de trazer novamente o partido para o espectro de centro à direita. O discurso atual do partido encontra a mesma armadilha – no outro espectro ideológico – que havia com o PT em tempos idos: o seu discurso agrada sua parcela cativa de eleitorado, mas impede a adesão de setores mais moderados.

Historicamente posições extremas à esquerda ou a direita não são bem vistas pelo eleitorado, que prefere posições de centro, sem extremismo. O PT percebeu isso na campanha de 2002 e faz um governo tipicamente social democrata, com imensos avanços sociais. O PSDB precisa atentar a esta “armadilha do radicalismo”.

Contudo, apesar desta necessidade detectada pelo ex-presidente a prática do partido tem sido a de radicalizar o discurso. Até mesmo Aécio Neves, tido como moderado, vem guinando seus discursos – talvez para neutralizar a ala paulista do partido.

Ala paulista, aliás, que com a recente débâcle de José Serra caiu no colo do governador Geraldo Alckmin e sua mistura de radicais religiosos, elitistas demófobos e políticos paroquiais. As ligações do governador com entidades ultra conservadoras como a Opus Dei e a TFP (Tradição, Família e Propriedade) são mais que conhecidas, de forma que a tendência a meu ver é de radicalização ainda maior do discurso.

Ou seja, o caminho a ser traçado pelo PSDB dependerá muito de quem assumir o controle do partido. FHC lançou Aécio a Presidente para 2014, mas pessoalmente considero uma candidatura complicada: a vida pessoal do senador, bem como os reiterados episódios de cerceamento à imprensa ocorridos quando foi Governador constituem uma desvantagem bastante nítida.

Outro problema do PSDB é a ausência de novas lideranças. Nas últimas duas décadas não houve visão estratégica por parte dos líderes do partido no sentido de renovar as lideranças. Ao contrário, na disputa pelo poder acabou matando o surgimento de novos nomes.

Com isso, me parece que as eleições de 2014 seriam uma boa oportunidade para o partido buscar se renovar, tanto em pessoas como especialmente em discurso. Buscar um programa alternativo e construtivo – algo que não há hoje – visando 2018 já seria um bom começo.

Tentando ocupar este espaço de centro direita temos também o recém lançado partido da ex-senadora, ex-ministra e ex-candidata à Presidência Marina Silva, o “Rede Sustentabilidade”. A definição original é de um partido de centro típico, buscando a ética e “uma nova forma de fazer política’.

Na prática este novo partido é um balaio de gatos de ressentidos com suas legendas anteriores, apoiado por corporações empresariais como o Banco Itaú e a Natura. Em minha avaliação são contradições demais para dar certo – e este espaço de balaio de gatos já está ocupado pelo PSD.

Outra alternativa – mas aí somente após 2014 – pode ser o atual governador de Pernambuco Eduardo Campos, talvez um pouco mais ao centro típico. Ele sabe que não tem densidade eleitoral para 2014, mas pode se cacifar e tornar o nome mais conhecido para as eleições posteriores.

Também não ajuda ao projeto político da oposição como um todo a guerra que a grande imprensa move contra o governo e o partido no poder. Hoje para a população a face visível é a mídia de massa, que vem em campanha raivosa – e, a meu juízo, francamente golpista – contra a Presidenta Dilma Rousseff. O povo em geral olha o dia a dia, vê os telejornais e percebe que se trata de duas coisas totalmente diferentes.

Um bom exemplo disso é a cidade de São Paulo, que até dezembro era um “mar de prosperidade” – apesar dos visíveis problemas da administração de Kassab – e que com a posse do petista Haddad virou um “caos”. É este tipo de postura que mina a credibilidade destes veículos – e, consequentemente, gera a queda na audiência visível neste momento tanto em veículos televisivos como impressos.

Finalizando, a oposição a meu ver precisa reconstruir seu discurso, de forma propositiva e entendendo que o mercado brasileiro hoje é de 190 milhões de pessoas, não de 20 como até 2002.

Abandonar o discurso excludente e elitista, trocar o discurso hipócrita contra a corrupção por medidas concretas a serem propostas no Congresso (como o financiamento público de campanhas) e buscar o aprimoramento de boas políticas do governo ao invés de permanecer na política da negação já seriam um bom início.

Um país precisa de uma oposição construtiva – e isso que os pertencentes a estas correntes precisam entender. Não compactuo desta doutrina política das oposições, sou diametralmente oposto, mas o debate é necessário.

9 Replies to “Para onde vai a oposição?”

  1. Exatamente essa renovação propositiva que, como tucano, espero do PSDB em 2014.Agora, nunca espere que defendamos o financiamento público de campanhas, porque o hipócrita é aquele que vende isso como solução para o problema de caixa 2.

    1. Claro que o PSDB não defende o financiamento público, mas na minha opinião é o caminho para se diminuir a corrupção – além de uma legislação mais forte que coíba o Caixa Dois.

      1. Essa neura PTXPsdb um dia tem que acabar pelo bem do Brasil… Podemos ter uma oposição radical ou propositiva… mas esse mimimi de qualquer movimento critico contra o governo mata e asfixia a oposição… hoje o governo( todos desde 94) é um mastodonte incontrolável … Lamentável!

  2. Muito bom seu texto, Migão. Eu diria que o PSDB ainda pode representar a centro-direita, mesmo radicalizando o discurso moralista. O maior peso disso sobre o tucanato é que o eleitor sabe que, na prática, eles não representam uma proposta de governança baseada na honestidade, dados os tantos escândalos sobre governos do partido. Portanto, é tiro no pé. Por outro lado, perdem feio na comparação direta dos números sociais e econômicos. A menos que a crise mundial se intensifique e arraste a economia brasileira, estão perdidos e agonizantes. Resta à oposição se unir em torno de um projeto salvacionista, inventando um novo Collor em partido nanico. De toda forma, tanto a reeleição de Dilma parece certa, como também é provável que o PSDB deixe de ser a segunda força política do País.

  3. A oposição pode fazer — como tem feito — como o PT fazia: apostar na crise. Tem perdido sucessivamente, mas pode ser que leve alguma hora.

    1. Petróleo do pré sal vai entrar de forma ampla a aprtir de 2014, o que vai redinamizar a economia. O caos apostado será de novo aquela cantilena dos costumes, apelando ao conservadorismo cristão.

      abs

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