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Neste domingo a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, retoma o tema do domingo passado analisando a sociedade do espetáculo a partir do Big Brother Brasil – que já foi tema neste blog em janeiro.

O Grande Irmão na Sociedade do Espetáculo

Bem, decidi voltar na coluna de hoje ao tema da sociedade do espetáculo, até porque ela sempre cria fatos novos.

Na próxima terça começará o ano de 2013. Antigamente a gente dizia que o ano começava quando acabava o carnaval; agora é quando acaba o BBB.

Hoje saem os finalistas e quatro são os candidatos ao título de um milhão e meio de reais. Fernanda, Nasser, Andressa e Natália.

Quem você acha que ganha?

Não sei quem você acha e também não se trata do tema dessa coluna analisar as chances de cada um. Para isso têm os sites da Uol, Ego, Terra e etc pra informar.

Falaremos do BBB, mas por outro ângulo.

Não vai nenhum elogio e nenhuma crítica ao fato de falar que o ano começa quarta. Basta ver os fatos. O ano inicia-se oficialmente dia 1 de janeiro e logo depois já começa o BBB. Este é o principal produto da Globo, recebendo todas as atenções até sua final e só depois dela se inicia a programação do ano da emissora.

Qual a graça do BBB?

O programa é a mesma coisa que você pegar a família e ir domingo ao zoológico achar graça de ver os macacos comerem banana ou nos primórdios do mundo reunir a rapaziada de casa e ir ao Coliseu ver um cristão virar comida de leão.

Entretenimento da curiosidade com a vida alheia.

O temo Big Brother vem do livro “1984” de George Orwell. A história contada é a de Winston, que vive aprisionado em uma engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado. Onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho – e ninguém escapa da vigilância do “Grande Irmão”.

O programa virou sucesso pelo mundo e chegou ao Brasil no final de 2001, no SBT, sendo chamado de “Casa dos Artistas”. Um monte de subcelebridades reunidas em uma casa durante meses. A Globo, que comprara o formato da empresa holandesa que o criou, tentou tirá-lo do ar e não conseguiu. O programa foi um grande sucesso.

Em 2002 a Globo finalmente estreou o formato brasileiro, chamando de “Big Brother Brasil”. O programa já tem onze anos, fez alguns milionários e transformou anônimos em famosos esporádicos. Alguns realmente se tornaram pessoas famosas até hoje como o deputado federal Jean Wyllys, a atriz Grazy Massafera e a apresentadora do Pânico Sabrina Sato.

Programa polêmico. Muito debatido e criticado por ser vazio com pessoas vazias em um ambiente vazio. Mas faz sucesso, muita gente gosta e assiste.

Eu mesmo, que me considero uma pessoa com alguma cultura e abrangência no conhecimento, assisto mesmo dizendo que não vou assistir. Por quê?

É a sociedade do espetáculo, amigos.

Uma das características da sociedade do espetáculo é colocar o produto na sua mente, porque tudo é produto para ela: seja um BBB, o novo papa argentino, a chuva provocando desastres ou o novo técnico do Flamengo.

E nesse caso juntam a sociedade do espetáculo e seu jeito agressivo de divulgar o produto com aquele sentimento que é o mais humano que existe.

A curiosidade.

O buraco da fechadura. O macaco no zoológico e o cristão no coliseu. Curiosidade, morbidez. Vibrar com a briga no BBB, como quando um piloto bate na F1. A novela da vida real. O brasileiro adora novela, se puder orientar através de seus votos como a novela prosseguir, melhor ainda.

A Globo é mestre no entretenimento e com sua campanha maciça nos faz deixar de assistir a fim de fazer parte do programa. Nos envolvemos com aquelas pessoas que nunca vimos na vida e três dias depois nem lembraremos quem é. Chamamos de falsos, jogadores, cretinos quem nem conhecemos direito, esquecendo que aqueles ratinhos de laboratório estão ali brigando por um milhão e meio de reais. Grana que muda a vida de qualquer um.

Elegemos mocinhos e vilões da vida real, quando tudo ali é fake. A Globo nos chama como o canto de uma sereia “Vem, ame esse, odeie esse”. Faz o pobre manipulado como eu assistir coisas editadas como verdadeiras e se quiser ver mesmo como é de verdade, compre o PPV. É baratinho e você poderá passar a noite vendo os ratinhos dormindo.

Os BBBs não acrescentam nada à nossa vida, à nossa realidade. Na maioria das vezes são realmente pessoas vazias em um programa vazio como citei acima. Pessoas “guerreiras” e que ganham a “idolatria nacional” mesmo não sabendo soletrar “possessivo” ou dizendo que a capital de Rondônia é Roraima. Amamos fulana porque é verdadeira e queremos que vença o programa. Verdadeira? Como você sabe se ela é verdadeira se consegue muitas vezes ser traído por amigo de uma vida inteira?

Sua audiência vai caindo ao longo dos anos. Perdeu a aura da novidade, mas ninguém cogita tirar do ar – e nem vai tirar. Por quê? Porque TV não é necessariamente audiência, é muito mais anunciante.

Tudo no programa tem um merchandising, um anunciante, um produto. Empresas se digladiam pra ter seus produtos na casa e a Globo (que oferece um milhão e meio pra quem vence) fatura pelo menos cem vezes mais.

Vai acabar com um programa assim? Evidente que não.

A sociedade do espetáculo precisa do BBB e seus ratinhos e precisa de nós assistindo esses ratinhos e não percebendo que os ratinhos manipulados somos nós.

Que compramos aquela novela como verdade. Que achamos que com o voto decidimos algo. Compramos seus produtos, compramos suas idéias. Compramos para nossa vida algo que é apenas entretenimento, como um filme ou qualquer programa de TV.

O BBB é forte porque a sociedade do espetáculo consegue manipular os sentimentos bons e ruins. Existe devido aos fanáticos que acompanham e os intelectuais que criticam. Nessa guerra toda de gente que se acha superior por não ver e gente que vê e se acha superior por votar muitas vezes em site e por telefone contra os falsos, quem vence é a emissora e seus anunciantes.

Terça sai um novo milionário da casa. Alguém que desperta paixões, que ficaremos felizes ou irritados por vencer, mas daqui a pouco esqueceremos porque um novo produto da sociedade do espetáculo surgirá.

Até que um dia descobriremos que somos Winston, vigiados pelo “Grande Irmão” ou Jim Carrey em show de Truman (foto).

Será que um dia pegaremos a liderança?

Não. A sociedade do espetáculo já pegou e estamos no paredão.

Vai, trinta segundos pra sua defesa.

2 Replies to “Orun Ayé – “O Grande Irmão na Sociedade do Espetáculo””

  1. Ótima análise. Encontro-me numa minoria da minoria, sou indiferente ao BBB – não sou fã nem chego a odiar, quase nunca vejo mas não fico indignado com o sucesso do citado programa. Foi uma das melhores explicações a respeito da longevidade de um programa tão vazio cujo ibope decai feito massa de elemento radiativo mas o efaturamento continua na estratosfera dos fenômenos comerciais.

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