dm2_1031Abrindo nossa programação especial de carnaval, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar, traça um panorama de tendências para os desfiles do Rio de Janeiro.

Até a quarta de Cinzas teremos aqui análises dos desfiles, fotos, áudios e tudo o mais que envolve carnaval. Acompanhe.

A foto é uma homenagem aos anônimos do carnaval, mostrando as trabalhadoras do barracão da Imperatriz Leopoldinense com a cantora Fafá de Belém, em foto do site Ego.

Hora das Apostas

“É, mais um dia de carnaval, a avenida é o palco principal, mais um desfile vai começar”. 

Assim começa um samba que fiz em homenagem às escolas de samba no carnaval de 1998, o meu primeiro como compositor de samba-enredo e como a letra diz, mais um carnaval chegou apesar de já ter rolado desfile em Vitória e no momento em que escrevo estou assistindo a esse desfile. 

Mas na viagem do tempo, essa coluna é publicada na sexta que começam os desfiles em São Paulo, Rio de Janeiro e diversos pontos do país. Hoje a brincadeira fica séria. 

Para muita gente o carnaval são só esses quatro dias de folia e brincadeira, mas às escolas de samba esse é o ápice, o grand finale, a hora da onça beber água, a hora de separar os meninos dos homens, quem tem mais garrafa pra vender, enfim: todos os clichês possíveis. 

Um trabalho que começou pouco depois do carnaval de 2012, com escolhas de enredos, depois elaboração de sinopse, disputa de samba-enredo, trabalho de barracão, ateliê, ensaios, ensaios de rua, ensaios técnicos na avenida, ensaios de comunidade, ensaios, ensaios e mais ensaios, martelada em carros alegóricos, mão na máquina de costura, perda de sono, gasto de dinheiro, esquecer de comer, beber, viver, tudo isso… 

… Para ver a sua escola de samba na avenida. O trabalho bem feito, seja na Marquês de Sapucaí ou no mais humilde carnaval do mais humilde município. Não importa se é uma super escola de samba do especial do Rio de Janeiro ou de um pequeno município do interior. Hoje é dia de carnaval, hoje é dia de emoção. 

O Brasil respira carnaval e, por consequência, os desfiles de escolas de samba. Como eu já disse hoje tem desfile nas principais praças de nosso carnaval, tem grupo especial de São Paulo e a nova série A do Rio de Janeiro. 

A Lesga afundou em seu mar de lama e daí surgiu a Lierj na qual, até que mostre o contrário, depositarei confiança. Uniram o antigo grupo A com o antigo grupo B fazendo a Caprichosos de Pilares de boba  – já que ela venceu o grupo B, gastou, se esforçou para isso e todo mundo subiu. 

São dezenove escolas nesse grupo, divididas em dois dias, sexta e sábado e transmitidas pela Rede Globo para o Rio de Janeiro e afiliadas que escolherem essa opção. 

E quem vence? 

Não sei.. Mas assim como todo mundo sou palpiteiro e darei meus pitacos sobre o que vejo mais de perto. Série A, especial e escolas da Ilha do Governador. Não há nenhuma base científica: tudo “achismo” por coisas que ouvi falar – e sexto sentido. Se eu errar cobrem do Pedro Migão, ele que é dono do blog e publicou a coluna. 

Na série A tenho uma expectativa de vitória do Império Serrano, mas a escola não tem o favoritismo que teve a Inocentes ano passado. Aposto na escola por sua força, seu nome e por já ter desfilado muito bem ano passado. O Império me parece vir num crescente com o mestre Átila em sua presidência.

Vamos ao Especial agora. 

Aposto numa briga entre Vila Isabel, Beija-Flor e Tijuca pelo campeonato. Tijuca tem o fator Paulo Barros, grande nome do carnaval atual, Beija-Flor é a grande escola de samba desse século por sua organização e profissionalismo e a Vila Isabel se junta a esse grupo depois de fazer um grande desfile – e para muitos injustiçada – em 2012. 

Vem com aquele que para a maioria da crítica e público é o samba do ano e uma comunidade muito empolgada. O Salgueiro poderia estar nesse grupo de favoritos, mas se deu mal no sorteio sendo a segunda de domingo  – e essa posição é terrível, mas tem presença certa nas Campeãs. 

Essas quatro, para mim, estão nas campeãs com as três primeiras brigando pelo título e não necessariamente o Salgueiro ficando em quarto, ele pode ficar na frente de algumas dessas. Só não acredito no título. 

Pra completar as campeãs aposto em três escolas brigando por duas vagas. 

A Grande Rio que virou uma freqüentadora desse desfile, mas vejo a escola perdendo um pouco de sua força nesses últimos anos. Em 2012 mesmo a agremiação não merecia ter voltado. Vejo a Imperatriz Leopoldinense ressurgindo com um bom enredo, pra mim o terceiro melhor samba do ano e notícias boas vindas de seu barracão. 

A outra que briga por essa vaga é a minha União da Ilha e daí não vem parcialidade nenhuma, porque muitos especialistas dizem isso. A escola mais uma vez foi a primeira e encerrar seu trabalho de barracão. Vem com carros bonitos, grandes sendo o abre alas o maior carro do desfile desse ano com 64 metros, a bateria voltou ao seu toque de antes com a volta do lendário mestre Odilon e a comunidade vem cantando muito nos ensaios. 

De 2009 para cá a escola vem crescendo muito. Recuperou sua auto-estima, tem hoje uma das melhores quadras de samba do país e pode sim voltar ao desfile das campeãs depois de 19 anos. 

Na zona da marola vejo a Portela e a Mangueira, duas das principais escolas de samba de nossa história, muito por causa de seus problemas internos. A Mangueira teve uma eleição confusa e que chegou aos tribunais, além de parar nas manchetes de forma nada bacana. A Portela mais uma vez tem um samba maravilhoso, um dos grandes sambas do ano, mas é complicado para sua aguerrida comunidade todo ano ter que lutar contra seu presidente. 

A Portela tem eleição esse ano, a Mangueira também e o horizonte para as duas tradicionais escolas é bem melhor que o de 2013. Acho inclusive que os torcedores das duas agremiações nesse momento pensam mais em 2014 que 2013.

[N.do.E.: imediatamente após o carnaval teremos novidades sobre as eleições portelenses neste blog.]

Um pouco abaixo São Clemente e Mocidade. São Clemente por causa do preconceito que rola com a escola. Em 2012 já era para agremiação ter lutado por uma vaga entre as seis e mesmo assim ficou em décimo primeiro; acho que pela fama de “escola io iô” ela ainda sofrerá esse preconceito. Seu trabalho será árduo e para mim sua prova de fogo vem em 2014, caso tenha o Império Serrano no grupo. 

E a Mocidade pode até vir a surpreender, mas o cenário não é bom. Barracão atrasado, falta de dinheiro com a não vinda da grana do Medina, o presidente da escola bateu de frente algumas vezes com a Liesa e o samba infelizmente também não ajuda muito (como 90% dos sambas, diga-se de passagem). Dizem que a bateria voltou aos bons tempos e isso pode lhe impulsionar, mas pelo menos a princípio olho com desconfiança. 

E por mim a Inocentes, que terá uma batalha hercúlea pela frente. Não tem o nome de um Império ou Viradouro e vai abrir o desfile de domingo onde de 98 para cá apenas a União da Ilha em 2010 conseguiu subir, desfilar nessa posição e ficar. 

Então ficaria assim: 

1° ao 4° Tijuca, Beija-Flor, Vila e Salgueiro com as três primeiras brigando por vitória; 

5° ao 7° Grande Rio, Imperatriz e União da Ilha; 

8° e 9° Portela e Mangueira; 

10° e 11° Mocidade e São Clemente;

12° Inocentes;

Agora as escolas da Ilha na Intendente: 

As duas escolas vivem momentos distintos. O Acadêmicos do Dendê vem de um grande desfile em 2012, onde teria vencido o seu grupo se não perdesse pontos em penalidades. Acho que a escola aprendeu a lição e conta com um fator a seu favor: não irá desfilar no mesmo dia da União da Ilha pela primeira vez desde 2009.

Acho que a escola briga para subir e desfilar ano que vem no grupo B.

Situação inversa vive o Boi da Ilha. A escola sentiu muito a morte do presidente Eloy Eharaldt, tentou se manter  com o Cadu Zugliani, mas o mesmo enfrentou problemas até em seu lado pessoal e teve que se afastar. 

O Boi ainda não se encontrou na Intendente. Fez dois desfiles razoáveis no grupo, mas mesmo assim quase caiu ano passado devido às penalidades. Esse ano conta com o agravante de desfilar não só no mesmo dia como na mesma hora da União da Ilha. Caem cinco escolas nesse grupo e o Boi terá que ser guerreiro como foi algumas vezes em sua história para ficar no B. 

Isso tudo que escrevi acima são suposições e não há nada de concreto. Graças a Deus ainda existe a magia do desfile como, por exemplo, a esquina da Presidente Vargas com a Marquês de Sapucaí que fazem sonhos acontecer ou mesmo serem destruídos. 

Quem viu Vila Isabel 1988 e Estácio e Viradouro 1992 não pode contar com nada antes dos desfiles se encerrarem. 

De coração desejo boa sorte a todas agremiações carnavalescas do país. Que tudo o que planejaram nesses meses seja executado na avenida e no fim exista o sentimento de felicidade e dever cumprido. Campeãs só algumas, mas vencedoras todas serão pra mim. 

Boa sorte especial para as escolas de samba do meu coração União da Ilha, Boi da Ilha e Acadêmicos do Dendê. Não estarei fisicamente em todas, mas minha alma se dividirá e estará um pouco com cada uma empurrando carro, ajudando em harmonia, batendo na bateria e cantando a plenos pulmões. 

É… Hoje é dia de carnaval. 

Quem dera que a vida fosse assim. Sonhar, sorrir, sambar, cantar e nunca mais ter fim…

4 Replies to “Orun Ayé – “Hora das Apostas””

    1. Aliás, a Renascer pensou que eu era o Rei Momo do carnaval, haja visto o tamanho da calça que me deram… gargalhadas

      1. Pô… Os caras leram lá na ficha: PEDRO MIGÃO… Como é que eles iriam imaginar que se trata de Pedro Miguinho, que veste calça tamanho 38? rsrsrsrsr

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