Excepcionalmente nesta sexta feira, a coluna “Sabinadas”, do jornalista – e mangueirense – Fred Sabino, fala um pouco sobre os enredos do carnaval 2013 e sua característica “mercantilista”.
Enredo Complexo
Mais um Carnaval está chegando e, depois de um 2012 com alguns bons enredos, veremos na Marquês de Sapucaí temas com conteúdo duvidoso. Enredos que, para falar o Português claro, não acrescentam ou acrescentam pouquíssimo, ou mesmo nem sequer servem para proporcionar um desfile no qual o componente se divirta.
 
É evidente que cada escola tem liberdade para escolher seu próprio enredo e elas não precisam repetir uma fórmula todo ano. Entendo ainda que as agremiações precisam de recursos. Mas reflitamos: enredos sobre Alemanha, Rock in Rio, Cuiabá, Coreia do Sul, mangalarga marchador, novelas, petróleo são mesmo condizentes com essa festa popular?

Isso, como já foi amplamente explanado aqui no Ouro de Tolo, só confirma a mercantilização de muitos aspectos numa escola de samba: desde a escolha do tema em si (hoje, enredos de verdade são poucos), do samba-enredo e até dos profissionais (alguns, muitíssimo bem pagos).

Nos últimos anos, a Estação Primeira de Mangueira até que teve bons enredos sobre música, Nelson Cavaquinho e Cacique de Ramos, mas também temas totalmente “merchan” como energia (2005). Em 2013 falará sobre Cuiabá, com contribuição generosa do governo local. E, em 2008, a escola deixou de homenagear o centenário de Cartola para cantar o frevo. Com aporte financeiro, claro.

[N.do.E.: vale lembrar que a Mangueira preteriu o centenário do grande Jamelão para 2013. O magistral intérprete será enredo da Unidos do Jacarezinho, na Série Ouro, escola que é uma espécie de “filial” da verde e rosa.]

 
A Portela, a grande Portela, ano passado renasceu com o enredo sobre as festas da Bahia e, em 2013, levará a história de Madureira para a avenida. Muito bacana! Só que, mesmo tendo estes enredos mais culturais, nos anos anteriores também repetiu esta forma de enredos patrocinados. 
 
Ainda que tenha havido esta mudança de orienrtação, são enredos abaixo de momentos clássicos da Majestade do Samba, que infelizmente não faz um desfile épico desde 1995. O desfile de 2012 foi empolgante, mas ainda aquém do que a Portela pode pela sua grandeza, mesmo indo na contramão dessa tendência mercantilista.
 
A Vila Isabel também é outra que vem alternando bons e maus enredos. Chegou a exaltar o centenário de Noel Rosa, mas fez enredos pagos sobre a Venezuela, sobre cabelos e sobre Angola, embora este último tenha proporcionado um belo desfile porque a escola foi muito competente e tem tradição em falar das raízes africanas
Outras escolas como Salgueiro, Tijuca, São Clemente, Mocidade, entre outras, também vêm alternando boas e más escolhas de enredos, motivadas por dinheiro ou não.

O que temo (e por enquanto vai acontecendo) é que esse decréscimo da importância dos desfiles de escola de samba cresça a cada ano. Afinal, se os enredos já são natimortos, os sambas na maioria das vezes também não atraem o público (ou telespectadores) para o desfile e o Carnaval vira meramente um concurso de escola de samba e não uma confraternização popular, o que seguraria a atenção do público?
 

[N.do.E.: tanto eu quanto o colunista Aloisio Villar, compositor de samba enredo, divergimos em parte. De 2010 para cá começa a haver um tímido renascimento do gênero samba de enredo.]
 
Será que apenas a grana, seja dos ingressos, da TV ou dos patrocinadores, será suficiente para manter o Carnaval do Rio no imaginário popular?

Ou ninguém está aí para isso?

P.S.: na semana que vem comentarei os sambas de 2013 do Grupo Especial do Rio.

2 Replies to “Sabinadas – "Enredo Complexo"”

  1. Me inclua na divergência junto com o Migão e o Villar. Dá para se notar uma melhora dos sambas-enredo desde “Mar de Fiéis” e de Noel Rosa na Vila em 2010.

    1. Concordo em parte. De fato, nos últimos anos os sambas até melhoraram, sim. Mas ainda falta um longo caminho. Torçamos para que siga nessa evolução e, daqui a alguns anos, comemoremos aqui o resgate definitivo do gênero.

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