Neste domingo eleitoral, a coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloísio Villar, faz um histórico pessoal da relação entre PT e PSDB, além de falar da recém encerrada novela “Avenida Brasil”.
Ainda eleições e “oi oi oi”
Algumas semanas atrás escrevi sobre eleições e sobre como a política influenciou minha vida. Tentarei, como leigo que sou, fazer uma análise mais técnica. Mas não sou especialista em nada: apenas tentarei escrever sobre o que sinto e vejo.
Aqui no Rio não tem segundo turno, haja visto que o prefeito Eduardo Paes conseguiu sua reeleição. Todavia, hoje em muitos lugares do país há segundo turno e em novembro tem uma eleição que embora pareça distante influencia nas nossas vidas, que é a eleição americana.
Começando pelas nossas.
Existe desde a queda de Fernando Collor em 1992 claramente uma disputa entre dois partidos. Oriundos do mesmo lado de política, os dois já foram aliados em algumas situações e se afastaram com o tempo e as ambições, tornando-se grandes inimigos, apesar de em alguns pontos parecerem.
Falo de PSDB e PT.
Na queda de Collor o PSDB decidiu aceitar virar governo e o PT continuou na oposição. O presidente Itamar Franco nomeou o Senador peessedebista Fernando Henrique Cardoso seu Ministro das Relações Exteriores e algum tempo depois ele ganhou o Ministério da Economia.
Na passada de Fernando Henrique na pasta foi criado o “Plano Real”, o até hoje mais bem sucedido plano econômico para combater a inflação.
A quem tem menos de vinte e cinco anos e talvez não saiba, o Brasil vivia um problema sério de hiperinflação com a inflação mensal beirando os 100% mensais. Quer dizer, o produto que você comprava hoje já tinha outro preço amanhã, depois de amanhã; o salário ficava defasado e a moeda cada vez mais fraca.
Inúmeros planos econômicos foram feitos, a moeda brasileira mudou de nome diversas vezes até o surgimento do Real e com ele a tão sonhada estabilidade econômica.
Essa estabilidade foi o carro chefe da campanha de Fernando Henrique à Presidência da República e levou o ex Ministro ao cargo, vencendo em primeiro turno o candidato petista Luis Inácio Lula da Silva.
Também venceu na eleição seguinte tendo base a estabilidade econômica e a facilidade do poder de compra da população.
A ambição do PSDB era bem clara: vinte anos no poder. Para tanto usou até de estratégias pouco claras, como o episódio da votação para aprovação da reeleição ao cargo de Presidente, Governadores e Prefeitos. Há muitas suspeitas de compras de votos de congressistas até hoje não provadas nem descartadas, fora outros escândalos que marcaram o governo como o Sivam.
[N.do.E.: sobre a compra de votos para a reeleição de FHC, há gravações telefônicas. Não sei porquê isso não foi levado à Justiça.]
Com o tempo e o aumento do desemprego, Fernando Henrique foi se desgastando com a população dando margem ao crescimento de Lula. Isso culminou com sua vitória na eleição presidencial de 2002, derrotando o candidato do PSDB José Serra.
Lula mudou seu discurso adotando um estilo “paz e amor” e parece que seu partido mudou junto. O partido que tinha como primazia a ética e a transparência afundou no que muitos consideram como o maior escândalo de corrupção da história desse país, denominado “Mensalão”. Seria a compra de votos de congressistas em troca de aprovação de itens importantes para o governo. 
Esse escândalo corroborou para a queda de muita gente importante do partido, entre eles José Dirceu. Homem forte do presidente Lula, Dirceu provavelmente seria hoje o Presidente da República caso o escândalo não estourasse. O Ministro chefe da Casa Civil que no fim dos anos sessenta pegou em armas para tentar libertar o país de uma sangrenta ditadura militar era tachado de corrupto.
José Dirceu é o retrato vivo dos versos de Cazuza “E aquele garoto que ia mudar o mundo/Agora assiste a tudo em cima do muro”.
Nessa ocasião o PSDB e a oposição erraram. Em vez de buscar o impeachment de Lula quiseram sangrá-lo até a morte e humilhar em público o presidente. Mas Lula é um sobrevivente da fome, da miséria, saiu do sertão pra ser o homem mais poderoso do país e não seria tão facilmente derrotado.
Não foi.
[N.do.E.: ressalte-se a conduta do então vice presidente José de Alencar, que quando procurado por políticos da oposição deixou claro que iria com Lula até o fim e não assumiria o cargo de presidente em caso de impeachment. Esta história é contada nas duas biografias do político, ambas resenhadas neste blog.]
No mar de corrupção em que se transformou o governo do PT veio também a onda de esperança. Um governo voltado para o social que tirou milhões da linha de pobreza e levou a classe C ao paraíso. Sua popularidade, carisma, a melhora da condução social e principalmente a falta de provas contra ele não só impediram o impeachment como lhe reelegeram em 2006.
E Lula deixou o governo em 2010 para outra petista, Dilma Rousseff, conseguindo o que FHC não obteve: fazer o sucessor e deixar o governo com popularidade recorde.   
E Dilma vem fazendo um bom governo. Mantendo a política social de Lula com mais austeridade e o projeto do PSDB de vinte anos de poder parece agora pertencer ao PT.
PT e PSDB, os inimigos que se parecem, duelam em 2012 pelas prefeituras. Um ganha em alguns lugares, outro também e tem em São Paulo a grande disputa. Aquela que pode mostrar o futuro dos dois partidos e da eleição presidencial de 2014.
José Serra, candidato do PSDB, é um político experiente. Já foi Prefeito, Governador, Ministro, Senador e duas vezes candidato a Presidente. Fernando Haddad, do PT, foi Ministro e é pouco conhecido da população. Chamado pelos oposicionistas de “poste”, assim como Dilma era chamada.
Haddad começou muito atrás nas pesquisas e foi aos poucos galgando simpatizantes com a ajuda de Lula e Dilma ao mesmo tempo em que ocorria o fenômeno Celso Russomano. Jornalista candidato de um partido pequeno que pegou a liderança das pesquisas.
Mas no fim deu a lógica e os candidatos dos dois inimigos foram ao segundo turno.
Uma vitória de Serra é uma imensa derrota da dupla Lula e Dilma e um fortalecimento do candidato do PSDB dentro do partido. Ele promete não largar a prefeitura como fez uma vez, mas mesmo não largando fica com o poder da escolha do próximo candidato do partido a Presidente. São Paulo dominaria o PSDB enquanto o PT perderia terreno justo no lugar que jogou todas suas fichas.
Uma vitória de Haddad é provavelmente o fim político de José Serra e o enfraquecimento do PSDB de São Paulo, com o poder partidário passando para Minas e o Senador Aécio Neves. Lula e Dilma ficariam ainda mais poderosos. O PT teria o poder em São Paulo e sua aliança no Rio, as duas principais capitais e isso faria que Dilma nadasse em mar de brigadeiro pra sua reeleição em 2014.
[N.do.E.: “nadar em mar de brigadeiro”? Essa para mim é nova, sempre ouvi “voar em céu de brigadeiro (risos)]
Hoje saberemos para qual lado irá o poder. Até as últimas pesquisas antes do fechamento dessa coluna Haddad liderava, mas se tem uma coisa que não podemos confiar é nas pesquisas eleitorais.
Nem aqui nem nos Estados Unidos. Os partidos Democrata e Republicano representam lá o que hoje são aqui PT e PSDB. O colunista Rafael Rafic de forma brilhante já contou durante a semana como é feita a eleição presidencial por lá e embora eu tenha entendido, graças a sua explicação, acho complicada demais.
Não entendo como a maior democracia do mundo pode eleger alguém que teve menos votos e ainda usar cédulas enquanto aqui a votação já é cem por cento eletrônica desde o século passado. Mas eles devem saber o que fazem, apesar de numa dessas ter elegido George W. Bush.
Não tenho pretensão de ditar preferências nas eleições americanas, quem acho que deva ganhar. Não tenho essa arrogância, mas de longe me parece que para o Brasil e o mundo livre Obama é melhor. Parece que ele deixou falhas como presidente, não tratou bem a economia, mas só de pensar nos republicanos com seu estilo texano, chapéu de cowboy, cigarro no canto da boca querendo guerrear e impor sua democracia na base da porrada me dá calafrios.
Lá a coisa ta mais apertada ainda. Na última pesquisa que vi estava 46% a 46% e como lá o voto não é direto e sim por delegados eleitos a coisa fica mais nebulosa ainda. Vamos torcer para que os americanos escolham certo até porque, vamos falar o português correto, eles estão elegendo o presidente do mundo. 
OI OI OI
Se teve algo que não deixou dúvidas nas pesquisas foi o sucesso da recém terminada novela “Avenida Brasil” (já citada em uma coluna minha sobre novelas). A novela transformou seu último capítulo em uma espécie de Copa do Mundo, deixando as ruas vazias, obrigando bares e restaurantes a colocar telões e criando um frenesi nos lares brasileiros e televisões durante toda a sexta-feira 19 de outubro.
O sucesso da novela fez com que a presidente Dilma adiasse um comício em São Paulo junto com seu candidato Fernando Haddad. A novela foi notícia dos principais veículos de imprensa do mundo, sendo manchete da Forbes como o programa de televisão mais lucrativo da história da América Latina – angariando dois bilhões de dólares.
A rádio Globo transmitiu ao vivo o final da novela com comentaristas e repórteres parados em frente à churrascaria que os atores e diretores assistiam o capítulo. Emissoras rivais se renderam e só falavam nela quando até um programa esportivo como o SportCenter da  ESPN Brasil enalteceu a subida do Divino, time fictício da novela, para a primeira divisão e terminando com o “congelamento” tão comum no fechamento de capítulos da novela. 
Graças a ela jogador que perde pênalti agora será chamado de “chupetinha” porque o personagem Adauto, que usava chupetas, foi chamado assim na hora de bater um pênalti e perdeu.
Avenida Brasil terminou sua história com share de 86% no último capítulo. Isto é: de cada 100 televisões ligadas na sexta feira 86 estavam na novela e em tempos de mais emissoras na tv, TV a cabo e internet é muita coisa.
Muito do sucesso da novela pode ser creditado ao que disse no começo da coluna. A subida da classe C, que se viu retratada na novela com seu jeito de falar, seu dia a dia e jeito de ser. Grandes atores, personagens carismáticos, direção cinematográfica e roteiro ágil ajudaram naquele que é o maior fenômeno desse século em telenovelas.
Parabéns a todos os envolvidos, em especial aos magistrais João Emanuel Carneiro, José de Abreu, Marcello Novaes e Adriana Esteves.
Que venham outros Prefeitos, outros Presidentes, outra novela e a vida siga seu curso, se possível melhorando. Porque precisamos sim de pão e circo, assim como governantes que nos respeitem.
oi oi oi. 
Orun Ayé!
(Foto: Veja, via Google Imagens)


One Reply to “Orun Ayé – "Ainda eleições e ‘oi oi oi’"”

  1. Agradeço a menção aos meus artigos sobre a eleição americana.

    Quanto a sua coluna, qualquer tucano (como eu) que pense a longo prazo, não deverá ficar triste com a provável derrota de Serra mais tarde.

    Pode ser um baque para o partido a curto prazo, mas será uma libertação a médio e longo. Serra já passou do prazo, mas não percebe e força o partido a tomar sempre as piores decisões políticas.

    Já passou da hora da tucanagem se renovar. Nomes existem, apenas não são revelados pelo bloqueio imposto pelos atuais cardeais.

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