Nesta quarta feira, conforme antecipei ontem, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, discorre sobre o papel da imprensa nestas eleições municipais que se encerraram no último domingo, torcendo e distorcendo os fatos para se chegar a conclusões previamente estabelecidas – e, a meu juízo, sofísticas.
O Fantástico Mundo dos ‘Analistas’ Políticos
Na minha adolescência – bota tempo nisso – minha diversão dominical era assistir às mesas redondas que dominavam a programação noturna, marcando a transição do descanso para a volta à escola. Quase sempre uma coletânea de bobagens.
Nunca me esqueço do programa logo a seguir a autorização da CBF (ou será que ainda era CBD?) para que os clubes exibissem propagandas nas suas camisas. Um comentarista de porte (está aí até hoje, embora com menos glamour) vaticinava que a televisão iria se recusar a transmitir jogos, para não fazer propaganda gratuita. Sabichão, não é mesmo?
O domingo, mundialmente conhecido como o Dia do Flamenguista, não teve futebol graças ao segundo turno das eleições municipais, mas nem por isso as mesas redondas foram menos divertidas do que as da minha adolescência. E nem menos fartas de asneiras como a previsão acerca da relação da TV com a propaganda estática.
Na verdade, a diversão começou antes: eu gastei mais de 1 hora do meu tempo ocioso e não criativo para assistir um programa humorístico.
A revista Veja, moderninha como ela só, anda fazendo experimentos em multimídia. Todo dia onde há sessão no STF julgando o Mensalão, o folhetim hebdomadário junta uma patota no estúdio para tecer loas às condenações e descer a lenha na turma do PT.
Infelizmente, alguma coisa deu errado no calendário e o novo herói da Nação precisou interromper o julgamento para ir à Alemanha. Logo, à falta de melhor assunto, os cronistas se dedicaram a fazer previsões sobre os futuros prefeitos.
O programa era dividido em dois blocos: nas cidades onde candidatos oposicionistas lideravam, como Salvador ou Belém, os debatedores vibravam com as projeções e enfatizavam a inexorável derrota de Lula. Já em São Paulo, onde até os ETs sabiam que o candidato petista liderava por ampla margem, a ênfase era lembrar erros históricos dos institutos de pesquisa e dizer que “as ruas” mostravam uma eleição muito disputada.
Eu sinceramente fiquei estarrecido como três pessoas podem mudar de opinião tão rapidamente em algo que está sendo gravado, mas isso não parece incomodar os fãs da Veja. Estes escutam o Reinaldo Azevedo da mesma forma que os vascaínos ouviam o Áureo Ameno no Canal 9: os fatos e a opinião em si são meros detalhes, o que conta é o ódio ao Flamengo – ou, no caso, ao PT.
Abertas as urnas, desconfio que perdi o melhor da festa. Eu liguei a TV na Globo News antes mesmo da eleição acabar e o Imortal Merval já estava por lá, prontinho para explicar a essa gente tola que nada sabe que o resultado das urnas não é tão simples como se poderia pensar.
Por exemplo: a eleição do pedetista Gustavo Fruet em Curitiba não poderia ser encarada como uma vitória dos ministros petistas que bancaram sua candidatura. Afinal, o pedetista eleito, em 2005, foi um empedernido inquisitor de Lula na CPI dos Correios. E o candidato derrotado, Ratinho Jr, é filho do famoso apresentador, esse sim, amigo de longa data do Lula.
Logo, em Curitiba, onde todo mundo pensa que o PT e Dilma venceram, eles, na verdade, perderam. Ah, tá!
Por mim, que sou dado a uns gostos estranhos, ficaria o resto da noite grudado na telinha vendo aquela gente falar das eleições, mas tive uma festinha de criança no meio e fui expulso do sofá para cumprir minhas obrigações de pai.
Não sei bem a que horas voltei, mas já passava muito das 22 horas e o Merval ainda estava lá. Tive a sorte de chegar bem na hora onde ele arrotava indignação pela presença do Maluf na festa do Haddad.
Caramba, o Merval deve ter passado mais de 5 horas ao vivo, falando mal do PT e ensinando aos telespectadores que a Arena, ops, o eixo Demo/Tucano, venceu por ampla margem.
E olha que eu tinha achado que na tal festinha do meu compadre eu tinha presenciado o diálogo mais surreal do ano.
Tinha um palmeirense por lá. Se flamenguista já é raro em Porto Alegre, imagina palmeirense: é o terceiro que conheço, em mais de cinco anos de auto exílio.
O cara perdeu um tempão, para espanto de uns, gargalhadas de outros, tentando nos convencer que a partida entre Inter e Palmeiras seria anulada pelo STJD. Tudo porque o árbitro invalidou um gol de mão do atacante palmeirense, mas só o fez depois de muitas reclamações dos colorados e ouvindo a opinião do quarto árbitro.
Notaram bem o raciocínio?
O juiz anulou um GOL DE MÃO, mas como tinha validado de início, não poderia corrigir o erro. Como o fez, a partida precisa ser jogada novamente, em nome da lisura.
Pena que só tive a ideia agora, mas se há leitores palmeirenses aqui, façam a sugestão chegar aos ouvidos do presidente Arnaldo Tirone: que tal contratar o Merval Pereira e o Reinaldo Azevedo para defender esta causa no STJD?
Não pode haver gente mais habilitada para essa missão inglória,
Primeiro, porque depois de passarem tantos dias comentando o Mensalão, ambos falam de temas jurídicos com muito mais propriedade do que meus antigos professores na Faculdade de Direito.
Segundo, porque ninguém vai ter a cara de pau deles. Pode passar o replay do lance um milhão de vezes mostrando o Barcos fazendo o gol com a mão, mas eles arrumarão um jeito de dizer que o gol foi legal.

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