Tardiamente nesta segunda feira, a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro, joga novas luzes no intrincado quadro eleitoral do Flamengo.
A Eleição do Flamengo em dois turnos
Aqui em Porto Alegre teve eleição no Grêmio. Quase 14 mil sócios foram às urnas votar, sendo que uns cinco mil por correspondência e mais de oito mil lá na sede do clube mesmo.
Não gosto do Grêmio, mas estava de olho na eleição por conta de um candidato que conseguiu chegar ao segundo turno da eleição, um advogado relativamente jovem, Homero Bellini Junior, competindo com dois ex-presidentes, Fabio Koff e Paulo Odone.
Eu disse relativamente jovem com dor no coração, porque minha vontade era dizer jovem simplesmente, já que ele é pouca coisa mais velho do que eu.
Como no Flamengo quase ninguém vota, os clubes do Sul viraram referência em matéria de eleições, graças ao tamanho do colégio eleitoral. Mas se alguém tinha dúvida daquilo que venho repetindo há meses – que mais sócios votando não significa necessariamente uma decisão de mais qualidade – está aí a decisão soberana dos gremistas a esclarecer.
Uma das opções representava a renovação: um sopro de novidade. As outras duas eram a luta de dois (literalmente) velhos caciques da política interna, com anos de serviço prestados ao clube.
Mesmo tendo a chance de poder votar no amanhã, 94% dos gremistas se dividiram entre o ontem e o anteontem e acabaram elegendo Fabio Koff, com seus 80 e tantos anos de idade.
Ou seja, torcedor parece gostar mesmo é de cartola à moda antiga. Gestão profissional é coisa de intelectual, como provam os tristes 6% de Homero Bellini.
Mas essa longa introdução nada tem a ver com o tema desse artigo. É porque sempre que esses gaúchos vêm tirar onda comigo de que nos seus respectivos clubes há milhares de eleitores participativos, eu rebato dizendo que a eleição deles é semi-direta, porque primeiro há o ritual de aprovação nos conselhos.
Só se uma chapa não atingir a maioria qualificada ali dentro é que o associado é chamado a votar em segundo turno, em geral em duas ou três chapas que atingiram o quórum interno para passar de fase. No Flamengo não: na Gávea é voto na urna, direto e universal.
Deve ser praga da gauchada que eu zoei esses anos todos, mas o fato é que, de forma totalmente inesperada e por vias tortas, a eleição do Flamengo desse ano virou uma disputa em dois turnos.
A principal estrela do campo oposicionista, Wallim Vasconcellos, tem sua elegibilidade questionada por coisas que nem vale a pena se alongar, porque o assunto é chatíssimo e eu já me dei ao trabalho de esclarecê-lo.
O fato é que Wallim só colocou seu nome na pedra porque ano passado houve uma anistia financeira e, assim, gente que estava fora do quadro social teve a chance de retornar. Esse é o caso dele, em resumo bem resumido.
Só que um montão de gente acha que não é bem assim, que a anistia não dá direito de se candidatar, etecetera e tal. Se o leitor está acompanhando o julgamento do Mensalão, já deve ter percebido que em se tratando de temas jurídicos, a diversidade de opiniões sobre um mesmo fato é especialidade número 1 do mundo do Direito.
Logo, tem parecer jurídico de tudo que é jeito dizendo se Wallim pode ou não se candidatar. Não que isso faça alguma diferença, mas tem até o meu, dizendo que no Flamengo, sendo sócio proprietário, qualquer um que pode votar pode se candidatar.
Avante, Wallim.
Porém, amigos: não é com guerra de pareceres que se vai resolver essa contenda, até porque quem vai decidir não é um tribunal de especialistas em temas societários, mas sim os membros do Conselho de Administração do Flamengo. E quem são esses iluminados?
1) 48 sócios eleitos com a chapa vencedora em 2009 (ou seja, que então apoiavam Patricia Amorim);
2) 12 sócios eleitos com a chapa que chegou em 2º lugar em 2009 (ou seja, que então apoiavam Delair);
3) Os atuais Presidentes de Poder no Flamengo;
4) Os ex-Presidentes de Poder no Flamengo;
5) Os sócios Grande-Beneméritos;
O número certo de “eleitores” ninguém sabe de cabeça – até porque há uma superposição do tipo “d” com o tipo “e”. Mas é algo em torno de 100 votantes, disso não passa.
Em um colégio eleitoral tão pequeno dá para contar antecipadamente quem deve votar em quem. Eu andei investigando as quantas andariam as especulações, já que há uma intensa pressão de interessados no resultado. E quem entende do riscado (até porque é um dos “eleitores”) me passou o seguinte panorama:
1) Devem comparecer, no máximo, uns 90 conselheiros. Tem uns que não vão de jeito nenhum e, claro, sempre tem os imprevistos de última hora a afastar um ou outro;
2) Tem uma ótima notícia para o Wallim: cerca de metade dos membros indicados por Patricia Amorim em 2009 está disposta a votar a seu favor;
3) Logo, a mesma notícia também tem seu lado ruim: a outra metade segue disposta a barrar sua candidatura;
4) Mesmo Delair tendo declarado apoio à chapa do Wallim, seus 12 votos não estão garantidos, porque tem gente ali já comprometida com outras chapas e pronta para votar contra a aprovação da candidatura;
5) O placar atual, se todos estiverem presentes, indica que já há 40 votos firmes em favor da impugnação da candidatura – a maior parte deles, claro, vindo diretamente da “bancada” eleita em 2009 junto com a Patricia;
6) Logo, se tudo isso aí for verdade, faltariam seis votos para Wallim ser impedido de concorrer.
Não tenho a MENOR ideia se essa especulação toda é verdadeira ou não, mas ela permite nos lembrar de algo que parecia esquecido: a Patricia (ou melhor, a “situação”, seja ela quem for) tem um poder muito grande sobre esse Conselho de Administração.
Se ela tivesse a capacidade de obter a lealdade da “bancada” que indicou em 2009, acabou a discussão: a vontade dela prevaleceria sempre em questões eleitorais (nas demais, que passam pelo Conselho Deliberativo e seus mais de mil membros, a conversa é outra).
Tudo indica que não é bem assim, mas ela ainda tem uma capacidade muito grande de influenciar e direcionar o voto dos conselheiros que foram eleitos junto com ela. Isso nos permite, com o perdão da má palavra, uma inferência: a chance de Wallim ser candidato parece estar nas mãos da Patricia.
Se ela realmente quiser barrar o oponente já na largada, basta correr atrás de uns votinhos para somarem-se aos que já se declararam contrários à aprovação e pronto, fim de linha. Ao revés, se a ela interessar que Wallim concorra (para, por exemplo, aumentar a divisão no campo oposicionista), basta pedir aos seus aliados no Conselho de Administração que rejeitem a impugnação e se preparar para enfrentá-lo apenas nas urnas.
Sugiro aos candidatos que poupem seus níqueis e parem de encomendar pareceres jurídicos, porque essa decisão, agora, é puramente política: vencerá quem tiver mais garrafa para vender dentro do Conselho de Administração.
Gremistas e colorados antes provocados por mim, o dia da vingança chegou, podem me sacanear à vontade: a eleição no Flamengo acabou virando em dois turnos também.
E o pior, com dois agravantes: primeiro, são apenas 90 “eleitores” no “primeiro turno”; segundo, há uma grande eleitora nessa rodada preliminar, dando as cartas e com a faca e o queijo na mão.
Morro de rir quando vejo gente subestimar o potencial da Patricia Amorim. Enquanto tem gente ainda se preparando para ir comprar a farinha, ela já está com o bolo prontinho para servir.
(Foto: Mauricio Val – Vipcomm)

3 Replies to “Bissexta – "A eleição do Flamengo em dois turnos"”

  1. Excelente analise, colega. Faltou somente um ponto importante. Após as eleições municipais, a Patricia perdeu uma disputa no conselho administrativo. Era reivindicado por ela uma punição a um conselheiro que dirigiu palavras de baixo calão. Mas o mesmo conselho que, em tese, a apóia, negou o pleito.

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