Algo de novo e bom no momento político atual é que as crises congressuais e mesmo políticas a cada dia menos interferem na vida econômica brasileira. A economia brasileira segue pujante independente de crises como a provocada pelas “relações perigosas” de políticos e juízes com o bicheiro Carlinhos Cachoeira ou mesmo o julgamento do “Mensalão” que se aproxima no STF.
Nem sempre foi assim. O leitor há de se lembrar do período final do Governo Sarney, quando a política econômica manteve-se paralisada à espera da escolha do sucessor. Ou ainda do processo de impeachment do ex-presidente Collor, que interferiu em toda a atividade econômica e levou a inflação a patamares ainda maiores – de 458% em 1991 a 1.175% (ao ano) em 1992.
Eram tempos de consolidação democrática e então nos habituávamos ao jogo político livre. A economia era mais dependente dos humores governamentais porque as regras não tinham estabilidade e não havia um mercado interno consumidor de massa. A incerteza econômica era maior.
O contrário também já ocorreu, quando da crise cambial ocorrida no início de 1999, que quase resultou em uma crise bancária de proporções e consequências imprevisíveis. A vida política e institucional brasileira sofreu um abalo devido às acusações de que a desvalorização do dólar foi artificialmente postergada para ocorrer após as eleições, gerando um ruído significativo.
Com a maturidade democrática as crises políticas dissociaram-se da normalidade econômica. O ex-Presidente Lula em 2002 foi eleito especialmente devido à estagnação e ao desemprego ocorridos naquele momento (14% ao ano), o que gerou o desejo de mudança na população brasileiro. Foi reeleito em 2006 apesar da crise do Mensalão devido aos bons números econômicos e sociais.
Ressalte-se neste processo de fortalecimento da economia brasileira o efeito indutor causado pelo programa “Bolsa Família”, que injetou recursos na economia especialmente em lugares onde a atividade econômica era mais fraca. Esta renda proporcionou o surgimento de comércios e até pequenas indústrias, com um efeito multiplicador bastante interessante.
Em 2010 a oposição baseou a campanha eleitoral no combate à corrupção, mas os bons números da economia e os bons indicadores sociais acabaram por manter o projeto político de Lula no poder. Há claramente uma percepção na população de que a corrupção independe de partidos, e que a economia tem de seguir sua vida independente dos problemas políticos – que precisam ser atacados.
Por outro lado é demonstração de maturidade o fato de escândalos políticos pouco afetarem a atividade econômica, como vemos agora.
Finalizo lembrando que nem tudo é totalmente ruim: o tão execrado Collor foi quem iniciou a abertura de mercado, ou seja: a indústria de automóveis dinâmica que temos hoje deve-se um pouco à atitude tomada por ele no início da década de 90.
P.S. – o leitor não estranhe o artigo um pouco mais curto que o habitual. Este texto foi escrito para o jornal “Brasil Peças” – www.jornalbrasilpecas.com.br. – para sua edição de julho e teve de se adaptar à limitação de espaço determinada pelo meio impresso. A princípio terei uma coluna mensal na publicação.