O leitor deve estar estranhando o fato de haver duas colunas “Bissextas” com um intervalo tão curto de tempo. Mas tendo em vista o tema e a autoridade do colunista Walter Monteiro no assunto, temos duas edições em 48 horas. O colunista elenca uma série de sugestões para diminuir a violência nos estádios e os episódios de brigas como o ocorrido no último domingo.

Ao texto – com o qual concordo – acrescentaria apenas que deveria haver algum tipo de investigação sobre os dirigentes e sua relação com os líderes destas organizadas. Há casos de líderes com “escritórios” na ante sala de Presidentes de clubes, o que me parece, no mínimo, de uma promiscuidade assustadora.

Passemos ao post.

Torcidas Organizadas – Enfrentar o Monstro com as Armas Certas

Cada vez que um conflito entre torcidas organizadas ganha uma proporção a ponto de chamar atenção da grande imprensa surgem “especialistas” de todas as estirpes prontos para dar as mais diversas soluções para estancar para sempre o hooliganismo e “trazer de volta as famílias aos estádios”.

Soluções, quase sempre, estúpidas.

Não sou especialista em nada (exceto, quem sabe, em falar mal dos Oficiais de Justiça), mas ao contrário de todos esses palpiteiros, tenho uma longa trajetória nas arquibancadas – e bota longa nisso. São décadas de convívio com líderes de torcida organizada, desde aqueles que hoje são quarentões como eu até a geração mais nova.

Talvez – insisto, talvez – esse tempinho perdido no duro cimento do Maracanã (e há cinco anos no Beira-Rio/Olímpico) me dê mais chances de falar sobre o tema do que esse povo das redações e dos gabinetes das autoridades.

Assim, orgulhosamente proponho:

1) Liberar a venda de cerveja nos estádios

O objetivo declarado por 11 entre 10 especialistas não é “trazer de volta as famílias”?

Então tudo o que associa futebol à violência deve ser abolido, sob pena de se passar uma mensagem contraditória. Vende cerveja no cinema, vende cerveja no Carnaval, vende cerveja na praia, vende cerveja na festa junina da igreja e do jardim de infância. Por acaso alguém briga nesses lugares por conta da cerveja? Ou, por acaso a estúpida proibição de venda de cerveja impediu os hooligans de se enfrentarem?

Se jogo de futebol é algo lúdico, proibir a venda de cerveja não faz o menor sentido;

2) Acabar com a limitação à torcida visitante

Outra idiotice que só fez afastar os homens de bem das canchas foi essa maluquice de limitar o espaço da torcida visitante a 5% do total do público.

Imagine um Palmeiras x Corinthians com 40 mil ingressos à disposição, com mando de campo palmeirense. Serão apenas dois mil corintianos no estádio. Não precisa ser gênio para deduzir que espécie de corintiano se sujeita a esse grau de exposição. Mas nada é tão ruim que não possa piorar – e está aí o jogo de uma torcida só para confirmar a regra.

Pois transformar um clássico em um jogo de torcida única é confinar a torcida adversária em seus locais de reunião (bares, sedes e sub-sedes das organizadas), prontas para arquitetar emboscadas bem mais elaboradas, longe do controle das polícias;

3) Compreender que as brigas pouco tem a ver com paixão clubística

Um conhecido meu foi preso recentemente em Porto Alegre e agora cumpre uma etapa no Presídio Central. Ele era o líder da maior torcida do Internacional. Seu crime? Bom, dentre outros, esfaqueou em pleno Beira-Rio inimigos seus que fundaram uma dissidência da torcida.

Além do Inter, só nos últimos três anos houve brigas entre torcidas do Flamengo, Fluminense, Botafogo, Grêmio, Palmeiras, São Paulo, Corinthians – e aqui só cito as que me lembro de cabeça. Mas nada supera o que houve (ou ainda há) no Vasco. A maior torcida do clube rachou ao meio e os dois grupos desde 2006 se enfrentam ferozmente, a ponto de ser comum a PM montar cordão de isolamento dentro da própria torcida.

4) Proibir subsídios às torcidas brigonas

Torcida organizada, se é que alguém ainda duvida disso, custa dinheiro, bastante dinheiro.

É preciso fazer muitas bandeiras (ao custo de uns R$ 400,00 cada uma), faixas, comprar instrumentos, custear inúmeras viagens pelo Brasil ou até pelo exterior e, sobretudo, sustentar os dirigentes da torcida que se dedicam exclusivamente a ela – prática que, antecipo, não condeno e até considero correta, porque dá trabalho cuidar da torcida.

E como a torcida se sustenta? É fácil responder: o monstro se alimenta de ingressos gratuitos, venda de camisas e demais souvenirs e incentivos para organização de caravanas, entre outros. Em todos esses itens (e mais especialmente na questão dos ingressos), os clubes apóiam suas principais torcidas.

Alguns clubes são mais generosos, outros menos (o Flamengo, garanto, joga nesse segundo grupo), mas de um modo ou de outro TODOS os clubes brasileiros subsidiam os brigões. Portanto, um bom caminho é um pacto do bem entre os clubes, se comprometendo, todos eles, a cortarem as fontes de financiamento dessas organizações – e o dirigente que descumprir que seja processado por associação ao crime;

5) Incentivar as torcidas “de festa”

No jargão típico das torcidas, há uma clara divisão entre elas: as que são “de pista”e as que são “de festa”.

Essas últimas são muito mal vistas nesse mundinho particular, mas a solução para amenizar a violência passa justamente por sua valorização – inclusive porque muitas dessas torcidas acabam precisando se envolver esporadicamente em confusões, nem que seja para se defender.

Algo que nunca consegui compreender é qual o motivo delas receberem bem menos incentivos dos clubes do que as torcidas declaradamente violentas;

6) Punir para Valer

Quem frequenta os estádios está cansado de saber: quem manda na arquibancada é a PM.

Diante de um episódio dessa gravidade, a PM não deveria se limitar apenas a proibir a entrada de bandeiras, instrumentos ou até camisas da Mancha e da Gaviões. Deveria impedir que a aglomeração de seus membros nas arquibancadas, forçando a dispersão dos mesmos.

Em paralelo, medidas adicionais deveriam ser adotadas: fechar todas as sedes das torcidas, proibir a venda de qualquer artigo alusivo às mesmas, obrigar as escolas de samba que usam seus nomes a escolherem outros – sem qualquer vinculação. E, claro, decretar a prisão preventiva de muitos de seus diretores e processá-los por associação criminosa ou coisa que o valha.

Algumas dessas medidas parecem ilegais? Talvez sejam. Mas não custa tentar – tem tanta coisa ilegal colando por aí que pode até vingar.

É provável que eu seja ridicularizado caso algum desses jornalistas e/ou promotores tão inteligentes se dê ao trabalho de ler minhas nada humildes sugestões, porque vou na contramão de tudo o que eles pregam há anos. Mas, convenhamos, nada do que eles estão fazendo vem dando certo, né?

Então, quem sabe, não está na hora de tentar algo diferente?

4 Replies to “Bissexta – "Torcidas Organizadas – Enfrentar o Monstro com as Armas Certas"”

  1. Eu não sei a quantas anda essa questão da organizada do Vasco, como está agora e tal. Realmente houve muitas brigas, mas essa do cordão de isolamento dentro da própria torcida não existe. Pode ter existido em um ou outro jogo que eu não tenha visto, já que não tenho ido muito a estádios nos últimos meses, mas com certeza não é “comum” como o escritor sugeriu.

    1. O leitor pode ter razão. Eu sou torcedor do Flamengo, logo não vou a jogos do Vasco. Mas há imagens circulando na Internet com cordão de isolamento da PM separando a Força Jovem em dois grupos distintos que se enfrentam desde 2006, com alguns períodos de trégua. Ambos possuem até denominação própria, Resgate da História e Unida e Forte. Acrescento que, naturalmente, isso não é uma exclusividade dos vascaínos – a própria Gaviões da Fiel possui dois grupos rivais, a Rua São Jorge e o chamado pessoal “da quadra”. O caso do Vasco apenas me chamou mais atenção por ser mais explícito.

  2. A dissidência existe e os grupos da Força ainda estão separados. Ultimamente, não tenho visto o cordão de isolamento, mas basta prestar atenção, e olhar de fora pra dentro, que dá pra perceber facilmente que os grupos ficam separados dentro da mesma aglomeração.

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