Excepcionalmente nesta sexta feira, último dia útil do ano, mais uma edição da coluna “Orun Ayé”, do compositor Aloisio Villar.
Tenho a dizer que eu é quem agradeço por ter a presença do compositor entre os colunistas, com um público fiel a cada domingo. E também pela honra de ser seu parceiro de samba na Acadêmicos do Dendê.
E saiba que estarei cantando seu samba na avenida em 2012, mais uma vez tendo a honra de desfilar a convite na mítica Ala de Compositores da agremiação. O leitor sabe que não sou torcedor da escola, sou portelense apaixonado e que se Deus quiser irá participar da redenção azul e branca em fevereiro, mas a União da Ilha me recebeu bem e está dentro do meu coração também.
Rasgação de seda à parte, vamos ao texto. E adianto que a coluna do domingo que vem, dia 08, terá como tema “O Barcelona dos Sambas”. Será imperdível.
Tempo de Retrospectiva
Começo a coluna com uma curiosidade. 
Já notaram que há palavras que só ouvimos ou lemos em alguns momentos do ano? Por exemplo, a palavra “próspero”. Só ouvimos no Natal quando alguém deseja “Feliz Natal e um próspero ano novo”. No carnaval temos a palavra “genitália”. 
E na virada de ano a palavra “retrospectiva”. Sejamos sinceros: alguém usa essa palavra em alguma outra época do ano? 
Nem eu. 
Mas todo mundo adora fazer quando chega a semana entre o Natal e a virada de ano. Essa semana que eu considero ao mesmo tempo a mais chata do ano, pois, não acontece nada (graças a Deus temos o Adriano imperador pra movimentar esse mundo monótono) e também é a última semana daquele período monótono entre a quarta-feira de cinzas e a virada de ano [N.do.E.: vem para a minha gerência que verá que não foi nada parado (risos)]
Como eu disse, não há nada pra se fazer nesse período. Os melhores programas de televisão estão de férias, os jogadores de futebol estão de férias, Papai Noel já voltou pro Pólo Norte e o décimo terceiro também já foi embora – então as pessoas tiram essa semana pra refletir. 
E quase sempre a reflexão sobre o ano é péssima. Amaldiçoam o ano que está terminando, culpam o coitado por todas as mazelas e desejam que o ano seguinte seja melhor. Aí chega o fim do ano seguinte e fazem as mesmas reclamações, esquecendo que o que ocorre é apenas uma mudança de data no calendário. Um ano não tem poder de mudar nossas vidas, só a gente. 
E assim como todo mundo, tiro o fim de ano pra fazer reflexões. 2011 pra mim foi um ano positivo. Um ano que posso dizer que cresci, evoluí, botei molho inglês na feijoada. 
A conquista na União da Ilha foi o simbolismo de um ano vitorioso. Uma vitória sonhada, buscada e esperada por muitos anos. Uma grande campanha que fizemos nos dois meses de uma disputa impecável onde mostramos a todos a nossa força. 
E no final a sensação do dever cumprido e que somos realidade. 
Um bom ano no samba, que também trouxe minha sexta vitória no Acadêmicos do Dendê, outra junção, mas outra disputa onde saímos de cabeça erguida e sabendo que fomos vitoriosos. Virei assim o maior vencedor da história da agremiação e tive a honra de dividir mais uma conquista com o Pedro Migão. 
Mais uma vitória na Unidos do Aquarius de Cabo Frio e no bloco Unidos de Tubiacanga, aqui na Ilha do Governador. Experiências como compositor na Mocidade de Aparecida de Manaus e Unidos do Peruche de São Paulo e um samba despretensioso que quase surpreendeu no Boi da Ilha [N.do.E.: o “pombo” só foi abatido na finalíssima… risos]
Conquista de novas amizades no samba. Novos parceiros agregados como Lobo Jr, Neco do Banjo e Violinha no Dendê, Boi e Tubiacanga. Talentos novos no samba. 
Mas sem dúvidas os grandes momentos foram proporcionados pela União da Ilha. A campanha vitoriosa, acompanhar a gravação do samba, a festa de lançamento de cd, o reconhecimento. A cada ensaio na AA.Portuguesa uma emoção diferente, uma emoção maior ainda na volta à nossa casa agora em dezembro, com a inauguração da quadra. 
E me sentir como uma criança ao ganhar uma bicicleta quando chegou o meu cd das escolas de samba do grupo especial: peguei correndo uma tesoura a fim de tirar o plástico e ver meu nome no encarte. 
Termino meu ano no samba de 2011 imaginando para fevereiro de 2012 a maior emoção da minha vida de compositor. 
A União da Ilha na avenida com um samba meu. 
Escrevi muito em 2011, mas não foram só sambas. Fiz músicas, escrevi livros e desde abril virei colunista desse blog. Com essa foram trinta e seis colunas em pouco menos de nove meses. Nove meses ininterruptos. Todos os fins de semana com uma coluna inédita. 
Agradeço ao Migão pela oportunidade. 
Escrever nesse blog ajudou muito no meu desenvolvimento como escritor. Vejo as primeiras colunas e as atuais e noto uma melhora – e o Ouro de Tolo foi fundamental para que eu pegasse o jeito como cronista. 
Foi um dos meus melhores anos escrevendo, onde me senti mais maduro ao escrever e acho que no geral escrevi coisas boas. 
Em muitas delas tive inspiração. Como todo escritor, poeta, as mulheres me serviram de inspiração. Para o lado bom ou lado ruim acabei usando as minhas experiências com elas para escrever: seja uma música, um capítulo de um livro ou uma coluna. 
Conheci mulheres maravilhosas em 2011 que me proporcionaram momentos inesquecíveis. Com algumas convivi algumas horas, outras dias, semanas. Algumas entraram e saíram da minha vida, outras chegaram para ficar – e tem o grupo que ainda não sei. Mas todas elas serviram como motivação para um amadurecimento meu, experiências de amadurecimento. 
Como aquela pessoa especial que passei o ano inteiro entre idas e vindas, melhoras e pioras, aproximações e afastamentos, amor e mágoas, despedidas e poesias. Cada vez que a sentia perto de mim me inspirava, que se afastava também. Sorrisos e lágrimas se transformavam em letras e palavras. 
E assim fui construindo um ano em versos. 
Minha vida foi construída e moldada por mulheres e 2011 não foi diferente. 
A maioria das minhas amizades são femininas, da minha família são mulheres, ficantes e namoradas passam pela minha vida e permanecem pra puxar minhas orelhas, dar conselhos e também receber. 
Fui criado por mulheres (mãe e avó) e hoje crio uma. Bia cresceu muito em 2011. Falante, com sorriso que mostra que seus dentes de leite já estão todos lá, bem humorada, dançarina, comunicativa, carismática e já criou em Patati, Patatá e Dora aventureira seus primeiros ídolos. 
De todas as boas relações que tenho com as mulheres posso dizer com orgulho que a mulher que me dou melhor hoje é minha filha. É nítido o quanto ela me ama e a cada dia amo mais também. 
Reforcei boas amizades fora do samba e sementes profissionais foram plantadas para belos frutos serem colhidos em 2012. Vejo esse bom ano de 2011 como um ano preparatório para um grande 2012. 
Mas principalmente minha maior vitória em 2011 foi virar um homem de verdade. 
Ano que reconheci erros e me expus na frente de pessoas com as quais errei, ano que reatei amizades, que procurei pessoas importantes pra mim e que estavam afastadas. Ano que mostrei pra algumas pessoas que amava e amo que não sou infalível, tenho defeitos e erro muito. 
Mas em 2011 aprendi que reconhecer falhas, erros e pedir desculpas não são sinais de fraqueza ou vergonha e me senti feliz e orgulhoso com essa descoberta. 
O fim do ano se aproxima e nele vem nostalgia de outras viradas de ano, retrospectiva de outras retrospectivas. Tive viradas de anos importantes como a de 2005, quando estava brigado com a minha mãe e me ‘deu uma louca’ indo a seu quarto antes de meia noite lhe dar um abraço. Quando entrei no quarto faltando um minuto ela começou a chorar e me abraçou forte. 
Foi seu último reveillon. Ela faleceu quatro meses depois e se eu não tivesse ido até ela guardaria pra sempre esse remorso. 
Não sei o que me reserva o próximo reveillon. Se terá algo marcante como esse ou outros que tive, nem sei como será o próximo ano, o meu destino será como Deus quiser. 
E espero que seja bom, não só o reveillon como o ano de 2012. Não vou deixar que a data aja por mim pra depois culpá-la se não der certo. Vou fazer meu 2012 acontecer como fiz em 2011. Um ano quase perfeito, o “quase” tem um peso muito grande pra atrapalhar, mas não posso e nem tenho o direito de me lamentar. 
Até porque 2012 taí pra consertar nossos erros de 2011 e confirmar os acertos. 
Vamos usar o ano de 2012 pra amar, viver, realizar, até porque se os Maias acertarem e o mundo acabar pelo menos tudo terá valido a pena. 
E que as retrospectivas sejam sempre histórias com final feliz. 
Porque a história de nossas vidas somos nós que escrevemos, não mudanças de anos. 
Feliz 2012 !! Orun Ayé!