Nesta quinta feira, último dia útil do ano para muita gente – para mim não é, aproveitando o recesso do Judiciário temos mais uma coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro. O tema de hoje é espinhoso, mas traz um bom exemplo: a dos filhos de políticos.
Vamos ao texto, lembrando que o leitor ainda pode participar das promoções do livro “A Privataria Tucana” e da camisa autografada de Ronaldinho Gaúcho.
Os Políticos, Seus Filhos e Uma Novidade
Do muito que (não) se falou sobre o livro proibido, “Privataria Tucana”, o que mais me impressionou foi a desenvoltura da filha de José Serra, Verônica, para fazer negócios milionários à sombra do pai. 
O curioso é que o livro foi lançado pouco depois da revelação das tramóias de Paulo Henrique Cardoso (filho, ora, vocês sabem de quem), atuando como “laranja” do grupo Disney no Brasil para burlar as restrições da lei de telecomunicações – PHC aparece como dono de uma emissora, que, afinal, pertence à turma do Mickey.

Mas não só os herdeiros tucanos adoram levar vantagem na proximidade com o poder. Lulinha (esse vocês também sabem quem é o pai) arrendava um canal de televisão e vendeu sua empresa por uma pequena fortuna para uma concessionária de serviços públicos. Esperto esse Lulinha, hein?

Roseana Sarney, Clarissa Garotinho, Rodrigo Maia, ACM Neto, é um monte de herdeiros a nos ameaçar por aí. Tem até aqueles que a gente acaba simpatizando, como Brizola Neto [N.do.E.: em quem votei e com excelente trabalho na Câmara de Deputados], Eduardo Campos e, vá lá, Aécio Neves – não posso falar mal de um bon vivant que mesmo governando Minas Gerais fazia questão de morar na Cidade Maravilhosa para não perder o bronzeado.

Bom, esses, pelo menos se candidatam regularmente, nos dão a chance de saber o que eles andam fazendo. Pior são os que agem nos porões do poder e só emergem quando alguém produz uma reportagem bomba, geralmente por encomenda de adversários políticos dos pais.

Olhando para a Presidência da República, vou colocar a minha mão no fogo e garantir que Dilma pode cometer erros terríveis (até agora, praticamente só vejo acertos), mas desse mal a gente está livre até 2014, não haverá herdeiros agindo sorrateiramente ‘under the table’.

Curiosamente, vivemos com Dilma uma novidade em sentido oposto, pois sua filha  (acima, à direita na foto junto à esposa do vice presidente Michel Temer) única atua do outro lado do balcão: Paula Rousseff Araujo é membro, já há vários anos, do Ministério Público. Mais precisamente do Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul

Eu me mudei para Porto Alegre em 2007, bem antes de Dilma ser entronizada como candidata, embora já fosse, óbvio, uma figura de absoluto destaque na esfera federal. Naquela época um advogado amigo, que respondia pelo departamento jurídico de uma grande empresa, dizia que a “filha da Ministra” estava fazendo a empresa comer o pão que o diabo amassou, implicando com contratos de mão-de-obra terceirizada.

Como o rosto da filha de Dilma ainda não se tornara muito conhecido e ela preferia usar o sobrenome do pai – o que fazia todo sentido, pois o ex-marido da Presidenta, hoje aposentado, foi dono de um dos maiores escritórios de Direito do Trabalho do RS e é uma figura conhecidíssima no meio jurídico local – nem todo mundo tinha certeza de que aquela Promotora tinha uma vinculação tão estreita com a então Chefe da Casa Civil.

A posse de Dilma tornou Paula Rousseff Araujo conhecida pelo país inteiro, desfilando em carro aberto com a Presidenta e volta e meia aparecendo com o filho no colo.

Como eu não atuo diretamente na área, pensei que Paula tivesse sido transferida para Brasília depois que a mãe foi empossada. Nada mais razoável, natural e compreensível. Semana passada, em uma dessas tantas festas comemorativas de fim de ano, jantei com advogados que a conhecem e descobri que a filha da Presidenta simplesmente não quis ir para Brasília, nem tampouco mudar suas funções.

Continua lá, dando expediente no Ministério Público, parece que segue comandando suas investigações, cuidando dos seus processos. Só não dá para dizer que sua rotina não mudou porque a lei obriga que os parentes diretos da Presidenta sejam permanentemente monitorados por seguranças. Um desses conhecidos em comum me contou que um dia teve a brilhante ideia de ir jantar com Paula e seu marido e o restaurante simplesmente parou, tamanho era o aparato de segurança envolvido.

Confesso que, para meu gosto pessoal, teria sido mais adequada a transferência ou o remanejamento interno. Uma empresa que já tenha recebido uma notificação do Ministério Público sabe já é grave por si só, os fatos ali questionados normalmente estão no topo das contingências jurídicas a enfrentar. Quando essa notificação vem assinada pela filha da Presidenta da República o constrangimento só aumenta.

Mas deixa isso para lá, é só uma implicância de advogado, sempre aflito com os problemas de seus clientes. O importante é que o exemplo de Paula Rousseff é edificante. Tomara que seja seguido pelos filhos dos próximos presidentes.

Concluo desejando um feliz ano novo aos leitores e nos vemos na semana que vem, já em 2012.