O leitor deste blog deve ter visto ontem o post com os finalistas da Portela. Também deve ter visto que o resultado estava indefinido, ou pelo menos sem um vencedor claro.
Pois atendendo ao clamor de portelenses, da crítica e do público especializado o Presidente Nilo Figueiredo decidiu levar para a avenida o ousado, revolucionário e antológico samba da parceria de Wanderley Monteiro, Luis Carlos Máximo, Toninho Nascimento e Naldo.
A pareceria foi a primeira a se apresentar na final, disputada na quadra da Caprichosos de Pilares. Ainda sofreu com a falta de luz ocorrida na quadra, mas sua torcida e os segmentos seguraram com muita garra o samba e mostraram que este deveria ser o escolhido.
O resultado e as articulações até se chegar a ele também mostram que o atual Presidente Nilo Figueiredo, que quase foi retirado do cargo após o carnaval deste ano ainda detém considerável fatia de poder dentro da agremiação. Como escrevi ontem, o samba do Diretor de Carnaval,figura ascendente de poder, era outro, e  esta escolha demonstra no mínimo que se buscou uma saída que agradasse a todo mundo. O portelense agradece.
Meios e caminhos à parte, o que realmente importa é que a Portela levará um grande samba para a avenida, o melhor desde pelo menos 1998 – descontada a reedição de 2004. Também mostra que há sim possibilidade de se derrotar o “Samba Enredo S/A” e suas estruturas milionárias. A parceria gastou cerca de R$ 25 mil – pouco para os padrões atuais de Grupo Especial – com apoios vindos de todos os lados, seja financeiro, seja material, com a presença, para encher bolas e com o canto na quadra – inclusive com a humilde ajuda deste blogueiro.

Também contribuiu o fato da disputa na Portela este ano ter sido bem mais curta que o habitual, com eliminatórias de quinze em quinze dias.
A expectativa é de que o samba “levante” a avenida, passe com qualidade e signifique sacudir um pouco este marasmo que o gênero samba de enredo vive. Em que pese a posição ruim de desfile da escola -segunda de domingo – a composição escolhida certamente irá proporcionar um grande desfile à escola e deverá elevar o nível dos sambas das escolas que ainda não escolheram seus hinos oficiais.
Por meu turno, é uma grande alegria para este coração portelense, tão decepcionado nos últimos tempos. Em onze anos que acompanho a disputa da escola com mais atenção – 2004 teve reedição e em 2007 não acompanhei – esta é apenas a segunda vez em que meu samba favorito chega à vitória. E desde o samba de 2002 que não via uma escolha que agradasse tanto os portelenses.
Tenho de ressalvar que sou crítico feroz do presidente da Portela, mas temos de ser justos: nesta ele acertou. Aliás, a preparação para 2012 parece bem melhor que 2011, em que pese a escola estar sem quadra e sem barracão.
Na semana que vem o Ouro de Tolo irá entrevistar Luis Carlos Máximo, um dos compositores do samba, para a coluna Jogo Misto. No momento, o que posso escrever é que a Família Portelense está feliz. E eu idem, com a possibilidade de soltar a voz neste sambaço na avenida.
Vamos à letra do samba que tem tudo para entrar para a antologia do carnaval carioca.

MEU REI
SENHOR DO BONFIM ALUMIA
OS CAMINHOS DA PORTELA
QUE EU GUARDO NO MEU PATUÁ
EU VIM COM A PROTEÇÃO DOS MEUS GUIAS
COM CLARA GUERREIRA À BAHIA
CHEGUEI, EU CHEGUEI PRA FESTEJAR
DEIXA LEVAR, NOS ALTARES E TERREIROS
TEM JARRO COM ÁGUA DE CHEIRO
VOU JOGAR FLORES NO MAR

NO MAR
PROCISSÃO DOS NAVEGANTES
EU TAMBÉM SOU ALMIRANTE
DE NOSSA SENHORA IEMANJÁ

VOU NO GONGÁ
BATER TAMBOR
REZO NO ALTAR
LEVO O ANDOR
VEM CHEGANDO OS BATUQUEIROS
DESCE A LADEIRA MEU AMOR
QUE A PATUSCADA COMEÇOU
EU VIM PRA RUA
QUE O SAMBA DE RODA CHEGOU

IAIÁ
DE SAIA RENDADA EM CETIM
BOTA O TEMPERO NA FESTA
OI, TEM ABARÁ E QUINDIM

PORTELA CHEIA DE ENCANTOS
ACOLHE A BAHIA EM SEU CANTO
DE FESTAS, REZAS, RITUAIS
VESTIDO DE AZUL E BRANCO
EU VENHO ESTENDER O NOSSO MANTO
AOS MEUS SANTOS DO SAMBA QUE SÃO ORIXÁS

MADUREIRA SOBE O PELÔ…TEM CAPOEIRA
NA BATIDA DO TAMBOR…SAMBA IOIÔ
ROLA O TOQUE DE OLODUM…LÁ NA RIBEIRA
A BAHIA ME CHAMOU

One Reply to “E Madureira subiu o Pelô!”

  1. A reação da escola no momento do apagão pode ter sido determinante na escolha do samba naquela noite. Nunca tinha visto aquilo e acho que nunca mais vou ver novamente o que aconteceu na escuridão daquela quadra. E me contaram que no momento do apagão ao mesmo tempo em que os torcedores do Wanderley cantavam dentro da quadra, do lado de fora torcedores do samba concorrente mandava ver no atabaque. Uma curimba histórica.

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