Neste sábado, temos mais uma edição da coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro. Uma vez mais, o assunto é algo recorrente nestas páginas, seja nos textos de minha autoria, seja nos de colunistas: a inépcia da gestão do CR Flamengo, em especial de seu departamento de marketing.

Hoje o exemplo é a nova Arena Grêmio, em construção em Porto Alegre (projeto acima), e seu marketing de venda de espaços. Vamos ao texto.

Ah, que Inveja! O Grêmio e o Flamengo

Já disse aqui que eu moro em Porto Alegre, não disse?

Disse sim, dezenas de vezes, mas repito, porque a maioria por certo já se esqueceu disso. Eu dirijo a filial gaúcha de um escritório de advocacia carioca. Ontem pela manhã me ligou uma empresa de quem eu nunca tinha ouvido falar. Em casos assim eu sempre atendo, a esperança é a última que morre, vai que é um conglomerado monstruoso querendo trocar de advogado…

Como sempre, não era. Era uma empresa de pesquisa. Eu adoro responder pesquisas, não me intimidei nem quando a moça me alertou que iria demorar uns 15 minutos. Me voluntariei e autorizei que ela seguisse em frente. Ela estava trabalhando para a Grêmio Empreendimentos, empresa que está construindo o novo estádio dos tricolores gaúchos.

Ela foi me perguntando: costuma ir a jogos, conhece o Olímpico, esteve lá nos últimos 12 meses, etc. Eu respondendo: sim, sim, sim, sim. Ela me perguntou para que eu time eu torcia, eu quase gritei: Flamengo, Flamengo, sou Flamengo, porra! Pensei que a brincadeira fosse parar ali.

Me enganei. Redondamente.

O time pelo qual eu torcia era só um detalhe. Foi aí que a pesquisa de verdade começou: a sua empresa tem quantos funcionários? Fatura quanto por ano? Você já esteve em algum estádio a convite de uma empresa? O que você achou dessa experiência? Você já quis proporcionar essa oportunidade aos seus funcionários e clientes?

Só aí eu entendi onde ela queria chegar e como teve a ousadia de ligar justamente para o Embaixador do Flamengo em Porto Alegre para cogitar vender algo relacionado ao Grêmio, time que eu consigo odiar quase tanto quanto o Vasco (ou talvez até mais, vai saber). Ela não estava nem aí para que eu time eu torcia ou até se eu gostava de futebol.

Os gestores do futuro estádio perceberam que o sonho de consumo de uma empresa é poder ter um camarote para poder convidar clientes estratégicos e funcionários graduados para assistirem a uma partida de futebol na maior mordomia. Só que essa é uma aventura para empresas muito grandes, bancos, montadoras de veículos, indústrias de bebidas, gente desse naipe.

Então, para fazer caber o sonho dentro do orçamento de empresas com mais de vinte funcionários e faturamento anual de pelo menos R$ 1 milhão, os gremistas imaginaram um setor ultravip, uma espécie de mega camarote compartilhado.

Cada empresa compra alguns assentos individuais, que serão personalizados. Em troca, além da chance de assistir aos jogos e outros eventos no estádio, é agregado um pacote de mimos: estacionamento exclusivo, alimentação incluída, uso do estádio em horários comerciais para reuniões empresarias, acesso a restaurantes diferenciados, etc.

Como o produto ainda não está à venda, ela ia me perguntando que nota eu dava, de 0 a 5, para os tais benefícios adicionais: pelada de funcionários de fim de ano no campo oficial? Possibilidade de fazer uma convenção no estádio? Levar clientes para reuniões almoço no restaurante exclusivo? Bebidas incluídas durante os jogos?

A brincadeira não será barata. Ela não deu os preços finais, foi só me perguntando o que eu achava que seria adequado ou não. Mas pelo que deu para sentir cada assento vai custar uns R$ 400,00 por mês. Se você for pensar no preço do ingresso, é uma fortuna. Mas se você for pensar em quanto custa uma ação de marketing, já começa a fazer sentido e talvez fique até barato.

E para o Grêmio é simplesmente o melhor negócio do mundo. Se eles venderem mil cadeiras dessas, a manutenção do estádio está inteiramente paga, toda e qualquer receita adicional é lucro puro.

Mesmo com todo ódio do time da Azenha (bairro que abriga a sede atual do clube), disse a ela que poderiam me procurar quando do lançamento, que o escritório iria pensar em adquirir o produto.

Fiquei simplesmente fascinado ao ver um clube vendendo ingressos como uma modalidade de marketing, podendo cobrar muito mais caro do que um simples torcedor estaria disposto a pagar. Fiquei imaginando o quanto não valeriam esses ingressos em uma final da Copa Libertadores e o quanto eu poderia agradar gente estratégica para o negócio que dirijo.

Depois caí na real e me lembrei que na Série B, que é onde espero que esses cidadãos estejam tão logo o estádio fique pronto, até os gremistas mais chatos que conheço vão ter vergonha de frequentar a nova arena. Libertadores? Conta outra!

Ok, mas que inveja da sofisticação e profissionalismo do planejamento gremista. Enquanto isso, o Flamengo está aí, vendendo (mal e porcamente) tijolinhos para terminar um mero Centro de Treinamento.

Ah, que inveja…

4 Replies to “Bissexta – "Ah, que Inveja! O Grêmio e o Flamengo"”

  1. Sem falar das milhares de empresar milionárias que tem em São Paulo e no Rio de Janeiro. Que fizeram com que o Flamengo tivesse o Ronaldinho, por exemplo. Parabéns ao Grêmio por essa jogada.

  2. é triste ver um clube tão grande quanto flamengo panquado no passado e tão distante do futuro.

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