Como escrevi na análise dos sambas do Grupo Especial, assim que tivesse os sambas em mãos dos demais grupos faria também a sua análise. Hoje é o dia do Grupo de Acesso A, a segunda divisão do samba carioca.
A Lesga, entidade organizadora deste desfile, ainda não liberou a capa do cd, que deve trazer a “campeã” de 2010 São Clemente na capa, e a inacreditável vice-campeã Inocentes de Belford Roxo – escola do presidente da entidade – na contra capa.
Entretanto, já tenho em mãos as faixas, que o leitor pode ouvir abaixo. Mas é fundamental que se compre o original assim que ele chegar às lojas.
De forma geral, diria que a safra deste ano é de razoável para boa. Temos um grande samba e outros sambas bastante interessantes para o desfile do dia 05 de março, sábado de carnaval.
Escola a escola, vamos analisando os sambas pela ordem de desfile:
1 – Alegria da Zona Sul

Samba de temática afro costuma ser bom. Este da Alegria da Zona Sul, campeã do Acesso B em 2010, embora não fosse o melhor da disputa da escola de Copacabana é daqueles que a gente gosta mais a cada audição.
Para uma escola que abre o desfile, é samba envolvente e que deve permitir uma boa evolução à escola. Gosto muito do refrão central, bem defendido pelo bom intérprete Edmilton de Bem:
“Os alabês vão tocar
Para os doze obás no xirê
Agô meu povo da gira
Rei Xangô na cangira
Kaô Kabecilê”
2 – Renascer de Jacarepaguá
O samba não era o melhor da disputa – os das parcerias de Cláudio Russo e Gabriel Carqueijo eram melhores – mas está bem gravado e não é dos piores do ano. Deve permitir um bom desfile à agremiação ascendente de Jacarepaguá.

Destaque para a batida “soul” da bateria no início da faixa. É uma composição que está bem gravada, mas que deverá ser levada em um andamento inferior ao do cd. O enredo é sobre as cidades do “circuito das águas” paulista.

Curiosamente, devo desfilar pela escola. Na Ala de Compositores….

3 – Unidos do Viradouro

É um bocado estranho ver a agremiação de Niterói no Grupo de Acesso após 20 anos consecutivos no Olimpo do samba. Com diretoria nova, comandada por um compositor multi campeão pela escola, a Viradouro tenta se reerguer das cinzas.

O samba é meio estranho à primeira audição, mas vai ganhando substância à medida em que o ouvimos. Tem dois versos que acho muito bons:

“Quando a solidão me abraçou, pediu por favor
Me deixa ficar”

4 – Santa Cruz

Conhecida por seus desfiles extremamente corretos – e chatos – a verde e branca vem com mais um samba de Fernando de Lima muito semelhante aos de anos anteriores. Melodia conhecida e letra simplória, desperdiçando um dos grandes enredos do ano.

Destaque para o verso que resume a essência da escola:

“O meu sonhar te conquistou”

5 – Império da Tijuca

A agremiação do morro da Formiga, na Tijuca, vinha apresentando bons sambas nos últimos anos, mas para 2011 traz uma composição abaixo do bom padrão assumido pela escola. É uma samba correto, mas abaixo dos últimos anos da verde e branco.

6 – Inocentes de Belford Roxo

Tenho sérias restrições a este enredo – já tratei disso antes – e gerou um samba animado, mas que não foge dos lugares comuns deste tipo de tema.

A introdução é interessante, mas é outro samba que na avenida irá ter seu andamento diminuído a fim de permitir ao componente cantá-lo. Diria que é apenas razoável.

7 – Acadêmicos do Cubango

A agremiação de Niterói tem o mesmo senão de sua irmã tijucana: uma composição abaixo do bom padrão dos últimos anos. É correto, mas nada mais que isso.

8 – Estácio de Sá

“Samba de pegada”. É esta a definição que daria ao samba da campeã de 1992. O tema – mais que enredo – sobre rosas ganhou uma canção com melodia guerreira, com a cara da escola, respeitando sua característica.

Para o desfile o andamento terá de ser diminuído, mas a pioneira dos desfiles está muito à vontade. Vai dar trabalho.

9 – Império Serrano

O samba do ano. O enredo sobre o “poetinha” Vinícius de Moraes é representado com brilhantismo, com uma melodia sinuosa e letra valente. Os puxadores Vítor Cunha e Carlinhos da Paz – filho e pai – trazem com maestria o grande samba.

Destaque para a introdução com a bateria da escola, com a competência habitual da “Sinfônica do Samba”. E para um verso que é a tradução da escola: “cantar, é preciso cantar”.

Ao contrário de 2010 (foto), não devo desfilar pela escola – não gostei das fantasias – mas é sempre bom ver o grande Império com um samba destes.

10 – Rocinha

Atravessando um momento de transição – a escola perdeu seu presidente e mecenas e está com nova diretoria – a escola aposta em um enredo patrocinado sobre o vidro. Um samba correto, com destaque no refrão de exaltação à agremiação.

Uma curiosidade é que a escola repatriou o puxador Anderson Paz, que possui a incrível marca de cinco rebaixamentos em onze anos como primeiro intérprete, em várias escolas.

11 – Caprichosos de Pilares

A reedição de 2010 fez bem à escola, que volta às suas características e tem como enredo o subúrbio carioca, o “locus” da escola – baseado na música “Gente Humilde”, de Garoto, Vinícius de Moraes e Chico Buarque.

Especialistas apontam que o samba tem vários clichês, lugares comuns, mas particularmente acho o samba delicioso. Dá vontade de soltar a voz e cantar, cantar, cantar… Além disso, é bem superior aos últimos sambas inéditos da azul e branca, bastante fracos.

É a outra escola onde desfilarei em 2011 neste grupo.

Também gosto deste samba pois na final da escola ele derrotou a parceria “vencedora” na Portela.

Meu ranking neste grupo seria o seguinte:

1 – Império Serrano
2 – Caprichosos de Pilares
3 – Alegria da Zona Sul
4 – Estácio de Sá
5 – Viradouro
6 – Renascer
7 – Rocinha
8 – Cubango
9 – Império da Tijuca
10 – Inocentes
11 – Santa Cruz

2 Replies to “Sambas do Grupo de Acesso A 2011 – Uma Primeira Análise”

Comments are closed.