Domingo, confraternizações de final de ano se avolumando, e temos a coluna “Bissexta”, do advogado Walter Monteiro.
O tema de hoje é uma comparação entre o Flamengo e o Internacional, onde os tamanhos e expressões de um e outro são comparados bem como a liderança em gestão que o clube gaúcho tem e a desorganização lendária e habitual do clube da Gávea – sobre a qual já tratei em outras ocasiões.
Mas vamos ao texto, que ficará mais claro para o leitor. E informo que amanhã começa a promoção das camisas rubro negras aqui no Ouro de Tolo.
“A Cigarra e a Formiga
Um jornalista esportivo publicou em seu blog esta semana a informação de que o Internacional de Porto Alegre, mesmo sendo quase 7 vezes menor do que o Flamengo em número de torcedores possui muito mais dinheiro, patrimônio, infra-estrutura e facilidades para montagem do elenco. 
Eu participo de uma lista de discussão muito ativa de rubro-negros país afora (foi lá que eu conheci o Editor-Chefe do Ouro de Tolo e o ilustre redator da “Sobretudo”). Um amigo nosso estava de passagem por Patos de Minas em afazeres profissionais e foi lá que leu a notícia. Ficou tão indignado que largou incontinênti a doce companhia de belas patenses (para quem não sabe, além de milho, a terra é fértil em misses, fica a dica aí para o leitor solteiro) e pôs-se a teclar aquela conhecida ufania flamenguista, lembrando que o Flamengo é tão f… mas tão f…, que não apenas tem seis títulos brasileiros enquanto o Inter, coitado, só tem três e que ali mesmo, em Patos de Minas, ele ainda não tinha tido a chance de cruzar com nem um mísero colorado. Muito embora já tivesse tropeçado em dezenas de rubro-negros e em moças deslumbrantes (voltei ao tema das beldades, porque ao que tudo indica o local é de uma seriedade ímpar nesse quesito).
Como eu sou a maior autoridade da dita lista rubro-negra em Inter e Grêmio, por ser residente na terra deles, me senti impelido a retrucar. Eu disse a ele que não me levasse a mal, mas pensamentos como esses é que explicam a razão de um time minúsculo, de uma cidade que é apenas a 10ª do país, ser a maior arrecadação do futebol brasileiro. 
Além do mais, fez em 2010, a sua sexta temporada em alto nível, sempre brigando por títulos, enquanto o Flamengo vai do céu ao inferno em questão de meses, como aconteceu em 2007 (do inferno ao céu) e agora em 2010. Estranho não é o Flamengo ter torcedores em Patos de Minas e o Inter não ter. Estranho é o Flamengo, tendo tantos torcedores, ser tão menor que o Inter no item das receitas.
A forma de tratar o torcedor é uma das explicações. Se um dia o Flamengo for jogar em Patos de Minas, os jogadores vão chegar de cara amarrada no aeroporto, os dirigentes idem, a segurança vai fazer de tudo para afastar os torcedores do convívio com a delegação, a diretoria vai se refastelar de whisky e champagne no bar do hotel, protegida pelo olhar vigilante dos capangas que estão ali para afastar os chatos que insistem em tentar algum contato com o clube.
O Inter, ano passado, fez a sua estreia na Copa do Brasil em Rondonópolis. O Consulado Colorado da região organizou um jantar com os dirigentes do clube, a preços altos. Lotou. Veio gente de tudo quanto é lugar de Mato Grosso e Rondônia só para ter a chance de trocar umas palavrinhas e ouvir o discurso dos dirigentes presentes. Para ter esse privilégio uma vez na vida os gaúchos migrantes do Norte e Centro-Oeste aceitam pagar R$ 22,00 por mês para serem sócios torcedores, ainda que saibam que raramente irão a um estádio.
Eu sou o responsável pela “Embaixada” do Flamengo em Porto Alegre. Quando o time vem jogar no Sul, uma semana antes do jogo a PM me liga, eu entro em contato com o Inter ou com o Grêmio para cuidar dos ingressos e da segurança, cuido da festa, falo com a imprensa. Enfim, cada jogo aqui me dá um trabalhão.
Agora, se eu cometer a imprudência de ir ao aeroporto com meus colegas de arquibancada para receber o time e incentivá-lo, o aborrecimento é certo! A cena é sempre a mesma, o chefe da segurança, sai na frente, identifica a nossa incômoda presença e saem todos por um caminho alternativo. 
Se eu for ao hotel, nenhum dirigente me dirá nem obrigado pela preparação que fiz, que dirá permitir que eu chame alguns torcedores locais influentes para alguma tietagem. Aliás, se eu for ao hotel de camisa do clube, não vou chegar nem na recepção. É por isso que eu não vou. E eu sou o que eles chamam de “Embaixador”. Como o Flamengo espera que seus abnegados fãs gaúchos se animem a comprar tijolinhos se eles são repelidos nas poucas chances que têm de interagir com o clube?
Essa semana eu vi o Inter colocar 27 mil pessoas no Beira-Rio, pagando R$ 5,00, para dar tchau ao time e ver um filme no telão do estádio. Caramba, o time entrou em campo, acenou para a torcida e foi embora para Abu Dhabi. E o clube faturou uma fortuna com essa besteira, não apenas com os ingressos em si, mas com a quantidade absurda de vendas nas lojas oficiais – tem um tal pano árabe em vermelho para colocar na cabeça que está vendendo mais do que cerveja no bar da Fla Manguaça. [N.doE.: Fla-Manguaça é uma das torcidas organizadas do Flamengo. Tenho alguns bons amigos que fazem parte dela]
Enquanto o Inter vai contratar um CEO (executivo) de primeira linha para gerir o clube a partir de 2011, conselheiros do Flamengo se engalfinham por conta de um aluguel para um posto de gasolina – não sei e nem quero saber quem está com a razão, mas só o fato dessa discussão tomar o vulto que tomou no Clube de Regatas do Flamengo mostra o quanto o Flamengo anda pensando pequeno e o Inter, ao contrário, se agiganta.
Acabei respondendo diretamente a indagação do dileto amigo, para devolvê-lo o quanto antes ao convívio das patenses (desculpem a insistência, mas é para não deixar nenhuma dúvida acerca da qualidade do plantel local). 
É fácil saber o porquê do Flamengo ter mais títulos brasileiros do que o Inter: porque dos seis títulos que o Flamengo tem, cinco foram conquistados pela mesma geração, a dupla Zico/Junior, que hoje são dois respeitáveis avôs. E naquele tempo a gestão era muito mais simples, porque ninguém precisava prestar muita atenção no equilíbrio entre receitas e despesas.
O nosso amigo, diga-se de passagem, não se vangloriou à toa. Seu comportamento é absolutamente coerente com a, digamos, ideologia flamenga. Praticamente todo flamenguista que eu conheço pensa exatamente como ele – vá lá, eu também. Vamos todos na linha do “Mengão Fodástico Doutrinador Supremo do Universo”, para parafrasear o mais famoso blogueiro rubro-negro. Mas é nessa linha ‘wishful thinking’ que o clube vem sendo administrado há anos. Há uns 20 anos, pelo menos. Eu, torcedor, posso pensar assim. Um dirigente, jamais!
Pois o que deve preocupar a todos nós não são os títulos que o Flamengo tem a mais que o Inter (ou o Vasco, o Corinthians, o Cruzeiro,…) mas sim os que ainda seremos capazes de conquistar. Porque, como ficou provado, em 2009 o Flamengo foi campeão graças à mística, ao embalo da torcida e à sorte. Como o Inter não tem mística e tem uma torcida pequena, ele prefere não acreditar na sorte e se planeja. Quem dera o Flamengo fizesse o mesmo… 
Porque quem conta sempre com a sorte, acaba dando chance ao azar! 

5 Replies to “Bissexta – "A Cigarra e a Formiga"”

  1. Clubes ingleses cujos torcedores sentiram-se traidos pelos milionários que os compraram, estão no caminho de volta, através da redemocratização do clube comprando as ações do clube na bolsa e recolocando pessoas capacitadas e reconhecidamente identificadas com a paixão pelo clube na diretoria executiva. O Inter de Porto Alegre é o modelo mais seguido por eles. Eles vendem para as emissoras de TVs os direitos de cobertura das atividades e o monopólio das noticias do clube em primeira mão por um ano todo, sem contudo restringir a esses veículos o direito à crítica. Tudo é licitado. Até mesmo a notícia sobre a formação do time que vai a campo minutos antes do jogo é negociada hora antes para quem possa se interessar em da-la em primeira mão. Ganham as empresas de comunicação porque agregam grandes e caros patrocinadores, ganham os profissionais dessas empresas que recebem melhores salários, ganham os clubes que vendem suas notícias de primeira mão antes de chegarem aos aficcionados torcedores do clube além de aumentar a sua receita. Isso é modernidade. Chegará quando ao Brasil?

  2. Grande Walter! Interessantíssimo seu texto, sobretudo por falar, coincidentemente sobre o Mato Grosso, Estado onde nasci, cresci e vivi boa parte de minha vida. Hoje, dia 13 de Dezembro, é dia de comemorarmos a nossa Libertadores e o Mundial Inter-clubes. Sabe lá porque cargas d’água, Cuiabá, cidade onde nasci e moro atualmente amanheceu nublada, ventando muito, e com tendência para esfriar, justamente nesse dia! Em pleno dezembro, há alguma coisa errada, com certeza. Dezembro é sol rachando, chuva e mais sol. Aliás, em Cuiabá, se faz calor 367 dias por ano, só para se ter ideia. Até quando anoitece, o sol persiste. Incrível, não?

    Pois bem, tentando fazer analogias com clima, cidade (porto alegre faz frio, não tanto quanto Tókio), futebol, li o seu texto e pensei que São Pedro esteja tentando lembrar os rubro negros do passado recente do Flamengo: O gigante do maracanã venceu o Mundo, há exatamente 29 anos! EU nem era nascido para se ter ideia. Mas vivo uma nostalgia dum momento que não vivi. É incrível isso, como ser flamenguista supera qualquer tentativa de explicação ou “planejamento”. Realmente tem algo de muito místico na nossa torcida…

    Seja como for, é bom que se diga, o canto da cigarra não é pura e simplesmente “alegoria de festa”. Sorte ou azar, faz parte do ritual dela de morte. A formiguinha, que vive muito mais em comunidade que a cigarra, precisa “trabalhar” porque são pequeninas e, sozinha, por mais que consiga levantar 7 vezes o seu próprio peso, não tem condições e nem sabe viver deslocada do seu grupo. A cigarra é nômade, está em todos lugares, até na terra das misses, em MG, ou em Cuiabá, a capital rubro negra acima da média (23% da população), apesar de termos um reduto sulista (do RS, PR e SC) que ousam teimar em torcer para os times regionais vermelho e azul no interior de MT.

    Portanto, o trabalho da Cigarra é cantar até morrer, e nós meros mortais humanos rubro negros também. Devíamos, com certeza, olhar com mais carinho para o planejamento das formigas. Quem sabe, né? Porque ai, seremos grandiosos no canto, como as cigarras, e numerosos ORGANIZADOS, como as formigas.

    Saudações RUBRO NEGRAS de CUIABÁ!

    Julio Mangini – T.U.C e tb FLA-RS!

  3. Enquanto nossos dirigentes agirem com o coração, essa sempre sera a realidade do FLAMENGO, times “regionais” querendo se comparar com “gigantes”, com todo respeito ao inter, sua unica grandeza esta em sua administração, e esta imprensa gaucha que sempre acha que são os melhores e maiores que todos

    Saudações RUBRO NEGRAS da FLA RS!

    Wanderson

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