A notícia da semana passada na área política foi um anúncio duplo: o de que Guido Mantega (foto) será mantido no Ministério da Fazenda (oficial) e que provavelmente Henrique Meirelles não continuará no comando do Banco Central – este, ainda oficioso.

As notícias indicam uma inflexão importante na política econômica a ser desenvolvida no mandato da Presidente Dilma Roussef. Explico.

Os meus 113 leitores sabem que venho criticando a atuação do Bacen aqui neste espaço, principalmente pelo aumento dos juros básicos sem qualquer justificativa que não aumentar a remuneração dos agentes do mercado financeiro – que, em última análise, são aqueles que empregarão os diretores do Banco Central após o término de seus mandatos na instituição. Estes aumentos da Taxa Selic determinados agravaram a questão do câmbio, conforme escrevi recentemente, e necessitam de uma correção a fim de tornar mais adequada à política macroeconômica.

O anúncio da manutenção de Guido Mantega veio com o intuito de esfriar pressões observadas tanto no mercado financeiro quanto na grande imprensa pela nomeação de um nome mais afeito à chamada “ortodoxia econômica” – notadamente, o ex-Ministro Antonio Palocci. Antes que tais pressões se tornassem insustentáveis, a presidente eleita tratou de jogar “água na fervura” e indicar a manutenção do Ministro atual, que vem efetivando uma política macroeconômica chamada “anti-cíclica”.

Parêntesis: uma política “anti-cíclica” reside no uso de instrumentos a fim de contrabalançar eventuais crises econômicas – como a vivida atualmente por grande parte do chamado mundo desenvolvido. No caso atual brasileiro, significa políticas de promoção de emprego e renda a fim de fortalecer o mercado interno e diminuir a dependência da economia brasileira do mercado externo.

Entretanto, a sinalização de que Henrique Meirelles não continuará no comando do Banco Central pode representar o fato de que a Presidente eleita irá enfrentar as pressões do mercado financeiro e trazer o Bacen de volta a seu papel original, o de ser guardião da política monetária em consonância com a macroeconomia do país. Por este motivo é que, como expus em outras ocasiões, sou radicalmente contrário à independência do Banco Central.

Ao contrário de outros economistas de esquerda e centro-esquerda, não ‘demonizo’ o atual ocupante do cargo máximo da autoridade monetária. Henrique Meirelles tem uma carreira pessoal brilhante e foi extremamente importante no período de transição de políticas, atuando como uma das âncoras do processo. Não custa lembrar que ele abriu mão por duas vezes de mandatos parlamentares a fim de se instalar na função pública, tendo sido até prova em contrário um servidor público bastante eficiente dentro do que se propôs. Prestou bons serviços ao país, mas agora o momento é outro e necessita de um nome mais afinado com as necessidades macroeconômicas brasileiras.

Contudo, a Presidente eleita sinaliza que o momento é de inflexão. Em especial para atender à questão do câmbio, que necessita obrigatoriamente de uma diminuição da taxa de juros real a fim de diminuir a atratividade para os capitais externos advinda da diferença entre taxas de juros doméstica e internacional. Esta correção de rumos é impossível com a diretoria atual da instituição, muitas vezes mais preocupada em atender a seus futuros patrões que em estabelecer seus papéis na definição da política monetária.

Obviamente que ainda é muito cedo para vaticínios, mas o que se sinaliza é uma correção no câmbio – não nos níveis desejados pelo agronegócio, mas de forma a minorar a questão da sobrevalorização da moeda – e o estabelecimento de uma política industrial a fim de se estimular a empresa nacional e fazer com que estes principais conglomerados ganhem musculatura para a competição na arena externa. Claramente a estratégia será a de fortalecer o mercado interno através da promoção de políticas de emprego e renda.

O leitor mais conservador, entretanto, pode ficar sossegado: Dilma Roussef não levará o Brasil ao caminho do socialismo ou ao comunismo. O que provavelmente iremos observar é uma política econômica tipicamente keynesiana, com toques de social-democracia. Traduzindo do economês: uma economia capitalista, com o Estado atuando em alguns setores e com o estabelecimento e consolidação de políticas sociais a fim de reduzir a miséria, as disparidades sociais e simultaneamente estabelecer um efeito indutor sobre o crescimento da economia.

Finalizando, vale ficar atento ao nome que será indicado para presidir o BNDES, braço fundamental do financiamento de longo prazo e do desenvolvimento industrial. Uma boa aposta seria a manutenção do atual presidente, Luciano Coutinho, ou a indicação de outro nome afinado com as teses keynesianas para a economia. Também é fundamental aguardarmos o nome do substituto de Henrique Meirelles que, acredito eu, deverá ser um nome de fora dos quadros da instituição.

Aguardemos.