As eleições cariocas vem se manifestando por uma previsibilidade espantosa nas eleições para Governador e por algumas boas e possíveis surpresas no pleito para o Senado.

O atual Governador Sérgio Cabral vem navegando em mares tranquilos desde o início da campanha. Ele reeditou no Estado a mesma coligação que sustenta a candidatura de Dilma Roussef no plano federal, composta pelo PMDB, pelo PT, PDT, PSB, PC do B e outros partidos menores.

Tenho restrições ao primeiro mandato – as quais escreverei abaixo – mas parece claro que a avaliação da população é de que os êxitos superaram amplamente os fracassos. Como principais pontos positivos, destacaria:

1) O excelente relacionamento com o governo federal

Depois de oito anos sendo tratado a “pão seco” pelo Governo Fernando Henrique Cardoso – o estado era o último colocado em repasses federais – verificou-se um entendimento constante entre o Governador e o Presidente Lula. Com isso, diversas obras e projetos com recursos federais foram desenvolvidos e iniciados, culminando com a conquista da fase final da Copa do mundo e, em especial, os Jogos Olímpicos de 2016.

Também deve-se ressaltar que estes investimentos tiveram um efeito indutor na criação de empregos no estado.

2) O bom desempenho da economia

Após anos de estagnação, o Rio de Janeiro foi o estado com o maior número de empregos criados no período, bem como aumento da massa salarial real constante. Novos investimentos, alguns ajustes na estrutura do ICMS e um bom relacionamento com a Petrobras, além da situação da economia brasileira como um todo permitiram a expansão econômica do estado de forma consistente neste período.

Ressalto o papel da Petrobras neste processo. A petroleira possui um peso fundamental na economia do estado, e sua recuperação empreendida pelo Governo Federal teve uma influência muito grande na economia do estado. Basta lembrar que a decisão de nacionalizar ao máximo as compras da empresa revitalizou a indústria naval carioca, permitindo a geração de empregos e o renascimento de uma tradicional atividade econômica do Rio de Janeiro.

Lembro ao leitor que o Comperj, complexo petrolífero a ser instalado em Itaboraí, irá proporcionar aproximadamente trezentos mil novos empregos, o que trará uma nova dinâmica econômica àquela região.

3) As UPPs

As Unidades de Polícia Pacificadora, em que pesem as várias ressalvas que eu faço, proporcionaram ao cidadão – em especial o formador de opinião – uma sensação de segurança que se revela agora nos índices de voto. Consideraria que a expansão do emprego e da renda também trouxe um efeito indutor da redução dos números de criminalidade, mas sem dúvida alguma as UPPs se converteram em eficientes instrumentos de propaganda.

4) UPAs

As Unidades de Pronto Atendimento trouxeram à saúde um efeito parecido com o produzido pelas UPPs. Avalio que estas unidades diminuíram a superlotação nos hospitais gerais e isto trouxe à população uma sensação de melhor e maior atendimento.

Negativamente, ressalto:

1) A Polícia e a Política de Segurança.

Os leitores assíduos sabem o quão crítico sou tanto da política de segurança quanto da Polícia. Prevalecem o extermínio, a força bruta e as execuções sumárias, muitas vezes de inocentes. Não se prendem bandidos a fim de não complicar para pessoas consideradas acima de qualquer suspeita. Mata-se.

Ressalto também uma certa complacência com o problema seríssimo das milícias, apesar do bom trabalho empreendido pela CPI da Assembléia Legislativa presidida pelo deputado Marcelo Freixo.

A Poícia, hoje, é uma questão seríssima, que só poderá ser resolvida com sua refundação. Matança, corrupção e “jogo duplo” são a constante hoje.

2) O PMDB

Os políticos que dão sustentação política ao governador são, no mínimo, polêmicos. Próceres como Jorge Picciani e Paulo Melo podem ser considerados verdadeiros “gênios financeiros”, pois adquiriram um patrimônio considerável depois da entrada na política. Picciani, hoje, é um dos maiores empresários do ramo de reprodução bovina do Brasil, dono de bois que chegam a valer na casa dos milhões.

O “rolo compressor” do governador na Assembléia Legislativa abafou muitas das denúncias contra os políticos em questão, mas esta é uma seara onde claramente há problemas. O padrão moral não é dos maiores, para se dizer o menos.

3) Educação

Em poucas palavras, muito pouco foi feito. Pode melhorar, e acredito que um retorno à idéia do Professor Darcy Ribeiro para os Cieps possa melhorar a questão com o ensino em tempo integral. Uma maior valorização dos professores também se faz necessária.


4) As blitzes de IPVA e “Lei Seca”

Muita pirotecnia e pouco resultado. Transtorno ao cidadão, que perde muito tempo na madrugada e se sujeita a arrastões como os verificados na Avenida Brasil. Blitzes de IPVA na hora do rush.

Chama a atenção o fato de quase 95% dos carros apreendidos nas operações de Lei Seca serem devido a problemas com IPVA e multas vencidas, não por causa de consumo excessivo de álcool.

Por outro lado, as demais opções são tíbias, para se dizer o menos.

Fernando Gabeira é um pastiche do político que tem a história de vida que representa. Se a eleição fosse para prefeito do Leblon se elegeria facilmente, mas sua plataforma elitista e excludente não encontra muito eco. Ele representa aquela fatia do eleitorado que advoga que pobre deve ser tratado pela Polícia, mendigo afogado no Rio Guandu, que a praia passasse a ser paga e que deveria ser erguido um muro entre as Zonas Sul e Norte. Gabeira jogou sua história no lixo ao aderir ao conservadorismo “neocon” mais deslavado.

Lembro também aos leitores que os filhos do ex-Governador Marcello Alencar seriam uma espécie de “eminência parda” em um eventual Governo Gabeira. Particularmente tenho calafrios só de imaginar estes dois sujeitos de novo com as chaves dos cofres públicos estaduais…

Seu xará Peregrino é uma espécie de “laranja” do ex-Govarnador Anthony Garotinho. Acho que não preciso escrever mais nada, o leitor compreende. E os demais candidatos representam propostas políticas muito particulares e não são representativos do quadro eleitoral carioca.

Confesso que este é o único voto em que tenho dúvida. Estou entre anular ou dar um “apoio crítico” ao atual governador, esperando que se dê uma guinada mais representativa à esquerda em seu segundo mandato – certo segundo as pesquisas de opinião.




A grande novidade está na eleição para o Senado.

Como vêem pela pesquisa acima (Ibope – 24/09) as esquerdas estão próximas de conquistar a primeira eleição majoritária no Rio de Janeiro desde 1998, quando Roberto Saturnino Braga se elegeu Senador pelo PSB. Da forma como havia previsto na série de artigos sobre a política carioca que escrevi em março, Lindberg Farias se mostrou um nome novo e com maior fôlego eleitoral para enfrentar a concorrência.

Confirmando sua eleição, Lindberg se torna um nome apto e com densidade eleitoral para suceder Sérgio Cabral no Governo do Estado em 2014. Parece que as esquerdas, e em especial o PT, finalmente irão começar a romper o predomínio da direita no quadro político carioca.

E isso pode ser medido de outra forma. De maneira surpreendente, e alvissareira, tudo indica que o ex-czar carioca Cesar Maia não se elegerá ao Senado, tendo, possivelmente, a carreira encerrada. Isto é uma grande notícia pois significa a queda do maior líder da direita carioca nos últimos quinze anos. Não parece haver um nome forte o suficiente para sucedê-lo – seu filho Rodrigo só deverá se reeleger deputado federal devido à saída de Índio da Costa do páreo, e Gabeira está no ocaso de sua vida – e este fato pode significar a criação de um vácuo de poder no estado.

A segunda vaga está mais perto do atual Senador Marcelo Crivella. Em que pesem suas ligações com a Igreja Universal do Reino de Deus, foi um fiel apoiador do Governo Lula e conseguiu passar incólume por diversos escândalos legislativos. O já citado Picciani cresce na reta final com o apoio maciço da máquina estadual, e não será uma surpresa se ele desbancar Crivella na reta final.

Voto em Lindberg e em Crivella, muito mais contra Cesar Maia e Picciani que a favor do Bispo. Seria interessante ver o atual Presidente da Assembléia Legislativa sem mandato, a fim de se destrancar os vários processos parados contra ele.

Finalizando, um panorama para as eleições proporcionais.

Estas são mais difíceis de se prever pois metade do eleitorado só define voto nas vésperas da eleição. Segundo estimativa do deputado Chico Alencar (PSOL), o quociente eleitoral exigido para um partido eleger um deputado deverá ser de 185 mil votos para deputado federal e 125 mil para estadual.

Isso cria problemas para o próprio PSOL, onde Alencar e Marcelo Freixo devem ter expressivas votações mas correm sério risco de não se reelegerem – a chapa restante não tem nomes expressivos eleitoralmente. No caso de Freixo, isso significaria risco de vida, devido à sua atuação contra as milícias.

Por outro lado, o ex-governador Garotinho deverá ser o mais votado para federal, e seus estimados 400 mil votos devem eleger mais um ou dois deputados pela sua coligação.

Last not but least, Dilma Roussef deverá ter uma votação expressiva no Rio de Janeiro. Os tucanos paulistas são odiados aqui – não sem motivo – e a propalada ‘onda verde’ não passa de minguadas seções eleitorais da Zona Sul. Dilma Roussef deverá ter algo entre 60 e 65% dos votos válidos no estado.

2 Replies to “Panorama das Eleições Cariocas”

  1. Grande análise, faz falta pensarmos a política regionalmente, e como faz! A propósito, muito boas as aspas quanto ao “apoio crítico”. A verdade é que ou se apóia no voto ou não sei apóia. “Apoio crítico” é justamente o duplipensar que nos conforta… de qualquer forma, é melhor errar com o seu campo político (Lula-Dilma-base aliada) do que acertar sozinho.

    Abraços!

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