A onda cristã que toma conta da campanha presidencial brasileira, fomentada em grande estilo pelo beato José Marcelino Pão e Vinho Serra, vem lembrando os melhores momentos dos desvarios moralistas do regime militar. Não duvido que, em breve, alguém lance a sugestão de que o documento necessário para que o cidadão vote seja o registro de batismo ou o atestado de Primeira Comunhão.

Mas vamos aos tempos moralistas da Redentora. Na cada vez mais esquisita cidade de São Paulo, durante a prefeitura do brigadeiro Faria Lima (1965/1969), aconteceu um fato inusitado. O prefeito, tido por seus correligionários como a reserva moral da família cristã, resolveu proibir imagem de mulher em anúncios publicitários.  O brigadeiro considerou que a exposição da mulher em propagandas e reclames atentava contra o mais alto valor da condição feminina: a castidade.
Apoiado entusiasticamente por membros da TFP – que saiam às ruas com vestes de cruzados medievais do século XI e consideravam o feminismo um movimento comunista – Faria Lima foi além. Não se contentou em proibir mulheres em anúncios e manifestou o desejo de que as propagandas fossem ilustradas apenas por imagens de vultos históricos da nacionalidade, tais como Tiradentes, D. Pedro II, o Duque de Caxias e o bandeirante Borba Gato.
Admitamos que a ideia de Faria Lima era no mínimo curiosa. Imaginem, por exemplo, o Barão de Mauá fazendo propaganda de caderneta de poupança, D. Pedro II raspando a barba num anúncio da Gillete, Tiradentes lavando as madeixas com creme rinse, D. Pedro I passando Minâncora nas espinhas, Raposo Tavares vendendo desodorante e o padre José de Anchieta anunciando a nova bicicleta da Monark.
Insuflados pela cruzada moral do brigadeiro, os membros da juventude da TFP iniciaram épica jornada para queimar em praça pública calendários com a mulherada em trajes de banho – verdadeiro clássico nos borracheiros e oficinas mecânicas do país inteiro e material de forte inspiração para os cavaleiros de uma ordem bem diferente da Tradição, Família e Propriedade – a Imortal e Venerável Ordem de Onan.

Os valorosos moços da TFP ainda colocaram no mesmo index das folhinhas de datas com mulheres seminuas o clássico infantil Peter Pan e os anúncios de bronzeadores Coppertone, em que um cachorro safado e comunista ameaçava despir uma menina.

Os cruzados  da moral afirmavam, sabe-se lá por que diabos, que a fada Sininho e o óleo de bronzear tinham o poder maligno de erotizar as crianças e destruir a cristandade ocidental – destruição que fora prevista pela aparição de Nossa Senhora de Fátima a três criancinhas portuguesas em 1917.

A cruzada moral do prefeito Faria Lima e dos varões da TFP fracassou. Os empresários quatrocentões da paulicéia convenceram o alcaide a desistir da medida patriótica com um forte argumento: enfiar Pedro Álvares Cabral em um anúncio de gelatina não teria grande apelo comercial e prejudicaria as vendas.

É mole?

Abraços

5 Replies to “EM DEFESA DA MORAL FEMININA”

  1. Olá, sou leitor do blog e em outros posts vc já mencionou essa tal Ordem dos cavaleiros de Onan. já em falaram disso e, inclusive, que eu era um desses, mas a “pessoa” não entrou em detalhes, parou por ai.
    que diabos seria isso??
    Abraços

  2. Lula
    Na nossa comunidade da Igreja da Gloria é proibido usar qualquer coisa com relação a politica, porem padres e demais mebros da igreja já conversaram com os jovens e idosos sobre a necessidade de votar na DILMA, inclusive foram taxativos nós vamos votar no PT na DILMA. Beijos. Faltam 08 dias para eu te dar um forte abraço.

  3. Na década de 70 eu era estudante e via, abismado, jovens e senhores de terno, gravata e estandartes vermelhos (como os da foto deste post) pregando contra tudo o que eu acreditava. Anti-comunistas, eram bancados pela ditadura militar e seus aliados.
    40 anos depois vejo o Serra ressuscitar essas bestas iracundas. Nem eles mesmos poderiam imaginar que, em pleno século 21, teriam seus folhetos distribuídos em plena reunião de cúpula dos tucanos (fartamente noticiado) e pior, sendo reimpressos pelo partido e espalhados.
    Espero que no dia 31 possamos transformar essas bestas em bolinhas de papel. Pena que não se prestarão nem para reciclagem.
    frank

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