Meus 69 leitores sabem que sempre gostei de automoblilismo e em especial de Fórmula 1. Este ano não vinha comentando muito porque não tinha ainda visto na íntegra nenhum Grande Prêmio devido a compromissos.
Ontem acabei não indo ao casamento de uma querida amiga devido a um pequeno imprevisto e sentei-me para assistir à corrida da Alemanha. Acabei tendo a oportunidade de ver ao vivo a palhaçada que foi a decisão da equipe Ferrari de fazer jogo acintoso de equipe e manipulando o resultado da corrida a favor de Fernando Alonso.
Nem vou comentar a palhaçada a que assisti, onde todos estavam errados. Alonso por dar um ‘piti’ no rádio exigindo que a equipe ordenasse a Massa que o deixasse passar. A Ferrari por ter decidido quem venceria interferindo na disputa esportiva. E Massa por ter jogado sua dignidade no lixo e acatado sem reclamar as ordens.
Ressalvo que o jogo de equipe é até admissível na última ou na penúltima rodada, quando o título está em jogo. Normal. Mas na metade do campeonato e sem qualquer chance de conquista é manipulação de resultado.
Entretanto, queria chamar a atenção para duas coisas.
A primeira é o comportamento do piloto espanhol. Mais uma vez ele deixou claro que não mede esforços para vencer, mesmo que tenha de atropelar a ética, as regras ou seus semelhantes. Tal e qual Cingapura, ele não se importou de utilizar de estratagema ilegal para alcançar a vitória. Ressalto que achei patético, digno de criança mimada o ataque de pelanca que ele deu no rádio exigindo que a equipe mandasse inverter as posições. Infelizmente, foi atendido.

O segundo é a punição que a equipe recebeu, uma multa de US$ 100 mil – irrisória para os padrões da categoria. O recado é claro: pode combinar resultado a vontade, trapacear a vontade, que não haverá nenhuma punição mais dura. Ou seja, na Fórmula 1 o crime compensa.
No mínimo, mas no mínimo mesmo, Alonso e Massa deveriam ter sido desclassificados. O ideal seria isso acontecer e mais a Ferrari ser suspensa por duas ou três etapas, mas a lógica – torta – é de que a ética não pode atrapalhar os negócios. E a marca Ferrari é muito forte, né ?
E esta constatação leva a outra reflexão: o quanto o conceito de “sucesso” está desconectado de valores como ética e dignidade. Para ser bem sucedido e ganhar dinheiro vale tudo, vale atropelar a ética, jogar a dignidade no lixo, reduzir o semelhante a pó.
Mais grave ainda é perceber como estes comportamentos são replicados na sociedade, por serem arquétipo reproduzido pelos meios de comunicação e pela publicidade. Se Fernando Alonso se comporta como uma criança mimada e chorona e é atendido, a tendência é de que as pessoas tendam a se comportar assim para alcançar os seus objetivos. É necessária uma contrafação muito forte por parte de educadores e pais de forma a não tornar este comportamento um padrão.
Infelizmente, pelo o que observo, estamos perdendo a guerra. Cada vez mais a sociedade é mais individualista, menos ética e menos digna. Preocupante.
P.S. – “Momento Tostines”: a Ferrari que aprendeu com o carnaval ou o carnaval que aprendeu com a Ferrari?

2 Replies to “Quando o crime compensa”

  1. Nem um nem outro: a Ferrai sempre foi assim e Alonso só fez o que sempre fez, inclusive na Renault, onde Briatore mandou Piquet bater para quem mesmo ganhar?

    E o carnaval? Antes do Alonso já havia isso, não?

    O que deveria ser feito era banir todos. Mas, como você disse, vale a marca, né?

Comments are closed.