Semana passada, após marchas e contra marchas, o PSDB finalmente definiu o nome para a vice presidência na chapa de seu candidato José Serra: o deputado federal pelo Rio de Janeiro Índio da Costa, do DEM.
O nome do deputado carioca foi definido após o PSDB tentar impor ao DEM o nome do Senador Álvaro Dias, do Paraná, alijando o DEM da chapa. Tal fato gerou um problema político de grandes proporções, com o ex-PFL ameaçando inclusive sair da coligação – o que roubaria preciosos minutos de tempo de televisão ao candidato tucano.
O leitor deve estar pensando como é que um deputado sem grande expressão eleitoral nem mesmo em seu estado de origem caiu de pára-quedas na chapa à Presidência da República.
Bom, expliquemos por vários ângulos. O primeiro é o fato de que nenhum dos grandes caciques sejam pefelistas ou tucanos se dispôs a encarar uma candidatura que, raciocinando friamente, tem poucas chances de sucesso – apesar dos números “amigos” de algumas pesquisas, mas esta é outra história. Políticos como o Governador de Minas Aécio Neves e mesmo a Senadora Kátia Abreu avaliaram que teriam mais a perder que a ganhar sendo candidatos a vice, mesmo em caso de vitória. Da forma como José Serra está conduzindo sua campanha, de forma centralizada, o vice escolhido teria pouco a influir.
A segunda questão é o interesse do ex-prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, em afastar um potencial concorrente do filho Rodrigo Maia à Câmara de Deputados. Índio da Costa tem um eleitorado semelhante ao de Rodrigo – a classe média elitista da Zona Sul carioca – e para proteger o rebento o ex-prefeito impôs o nome do deputado ao DEM.
Terceiro fator é o interesse do próprio Índio da Costa em se tornar um nome conhecido do eleitorado carioca e buscar uma candidatura a prefeito nas eleições de 2012. Lembro aos amigos que o prefeito eleito em 2012 terá a honra de conduzir os processos tanto da Copa do Mundo de 2014 quanto, especialmente, dos Jogos Olímpicos de 2016. O prefeito eleito terá imensa visibilidade nacional e, certamente, cacife para voos mais altos após o término do mandato.
Traduzindo, tivemos um desinteresse dos principais nomes somados a uma questão eminentemente paroquial da política do Rio de Janeiro.
E quem é o candidato a vice na chapa de José Serra ?
Índio da Costa foi vereador e atualmente é deputado federal pelo Estado do Rio de Janeiro. Também foi Secretário Municipal de Administração na gestão de Cesar Maia, com gestão marcada por uma CPI que indicou fraudes nas licitações de compra de merenda escolar – bem como diminuição na qualidade do alimento oferecido às crianças nas escolas municipais.
Abaixo, pode-se ler trecho do relatório final da CPI. Como pode-se ver a conclusão é de que o então Secretário teve no mínimo uma atitude omissa quanto aos problemas de tal licitação:
Sua atuação como vereador e deputado federal foi na defesa de interesses das classes altas, inclusive com uma proposição, em 1997, de lei que proibia dar esmola na cidade do Rio de Janeiro com multas para aqueles que o fizessem – iniciativa felizmente arquivada. Foi um dos relatores do Projeto de Lei denominado “Ficha Limpa” recentemente.
A indicação reflete o aumento do laço com a classe média/alta urbana, que já se encontra em maioria comprometida com os ideais excludentes do candidato da oposição. Não agrega significativamente votos, nem mesmo no Rio de Janeiro – onde a candidata da situação deve perfazer algo entre 60 e 70% dos escrutínios.
O candidato é ex-genro do banqueiro – atualmente preso – Salvatore Cacciola, envolvido no escândalo da desvalorização cambial no início de 1999.
Outrossim, atende ao desejo do candidato José Serra de ter um candidato a vice presidente sem grande influência sobre o comando de campanha, trazido com mão de ferro pelo candidato e parte do tucanato paulista.
Todo o processo de indicação do candidato a vice envolveu grande desgaste entre os partidos da coligação liderada pelos tucanos. O anúncio da candidatura do Senador Álvaro Dias, feito pelo Presidente do PTB (apesar de deputado cassado) Roberto Jefferson gerou uma verdadeira ‘rebelião’ no DEM, que sentiu-se preterido.
A solução encontrada satisfez as aspirações do DEM – e algumas demandas pessoais de um de seus principais líderes – mas tenho dúvidas sobre a real contribuição à campanha de José Serra. É um candidato inexpressivo, que não aglutina votos nem apoios políticos, sobre o qual pairam suspeitas de corrupção como vimos e que tem muito mais o que tirar do que oferecer à campanha.
Veremos o desenrolar dos fatos.
(Imagens: Site do DEM e Tijolaço.com)

2 Replies to “O vice de Serra”

  1. Tá na pauta, Bruno.

    Mas o picareta do Temer ainda dá para entender a presença dele na chapa. Agrega a capilariedade do PMDB, estrutura partidária e votos.

    Índio da Costa não traz um voto a mais para Serra, e ainda “rachou’ o DEM.

    abs

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