Quarta feira devido a mais uma manifestção sindical na porta da refinaria o trãnsito gerado pelo fato levou o ônibus que me levava até lá dar uma volta de aproximadamente quarenta quilômetros para contornar o problema e o engarrafamento gerado.

Com isso, tive a oportunidade de ver ao vivo cenários que me fizeram pensar. Isso ainda próximo à capital baiana.

Fiquei impressionado como ainda convivem no mesmo espaço, próximo aos grandes centros a Casa Grande e a Senzala. Casas imensas ao lado de choupanas. A pobreza permeia os ambientes e a quantidade de terras improdutivas que se avistam é quase infinita. Um boi aqui, outro ali para enganar o Incra e a terra incultivada unica e exclusivamente por falta de interesse. Terra que poderia estar gerando alimentos, emprego e renda no campo.

Para mim também ficou clara a importãncia que programas como o Bolsa Família possuem neste tipo de região. Mitigam a desigualdade ancestral e permitem ao nordestino, que não pode viver do plantio, viver e não passar fome. Em sua visão pequeno-burguesa critica-se tal programa direto de suas salas refrigeradas dos grandes centros, sem conhecer a realidade daqueles que são auxiliados pelo programa. Recomendo a estes uma visitinha ao nordeste.

Nesta região existem duas atividades econômicas básicas: uma é a velha agricultura e pastoreio quase feudal e a outra a atividade econômica representada pelas instalações da Petrobras na região. Candeias e São Francisco do Conde, de onde escrevo, são cidades bastante pobres e que não tiveram revertidas à população os benefícios do petróleo. Acredito que tenham servido apenas para reinventar a oligarquia local, pois não é exagero dizer que as cidades citadas, em especial Candeias, são dois grandes “favelões”.

Porém, fazendo o desvio que fiz na quarta nota-se a velha estrutura presente: grandes fazendas com um pouco de gado, choupanas com no máximo uma ou duas cabras para fornecer o leite à criançada. As fotos deste post mostram bem este quadro. A desigualdade e a pobreza saltam, gritam aos olhos e provam que o brasileiro médio não conhece seu próprio país.

Ficou claro para mim que as políticas públicas não podem visar apenas o cidadão das grandes cidades do Sudeste. Também temos de dar oportunidade ao brasileiro do Nordeste tirar o seu pão de cada vida e crescer em suas existências. O país melhorou, mas ainda há muito a ser feito. Olhar menos para Paris e mais para Candeias se torna imperativo.

Outro ponto que queria ressaltar é que nós cidadãos que mal ou bem somos privilegiados fazemos muito pouco de realmente útil. Levamos nossas vidas entretidos com a rotina e as contas para pagar, sem saber ou querer saber que um gesto nosso pode fazer a diferença. Não serei hipócrita de dizer que tenho sentimento de culpa por ter um bom padrão de vida – até porque venho de família pobre e lutei muito para chegar onde cheguei – mas precisamos fabricar mais cidadãos que possam superar e vencer a pobreza. Como cidadãos isto faz parte de nosso dever.

Adicionando ao quadro fica claro que não há como se opor à reforma agrária. Tanta gente querendo ter terra e produzir e tantas extensões com meia dúzia de cabeças de gado só para a fazenda não ser declarada improdutiva pelo Incra. É um potencial de emprego e renda absolutamente desperdiçado. Ainda ressalvo que não estive no sertão baiano, onde o quadro é ainda mais dramático.

O Brasil não conhece o Brasil.

P.S. – As fotos não estão muito boas porque foram tiradas do Blackberry e em movimento, mas dá para se ter uma idéia.