Leio no jornal O Dia de ontem que a prefeitura está instalando pedras embaixo de viadutos e divisórias de ferro nos bancos de praça para impedir que moradores de rua durmam nestes locais. É uma medida antipática e que requer uma análise aprofundada.

Dentro da política atual da Prefeitura do Rio de massacrar aqueles que trabalham e “maquiar” a figura da cidade para que os turistas não vejam é algo perfeitamente coerente. A questão é que este tipo de medida não passa de paliativo, não resolvendo a questão social do morador de rua.

Tal e qual a política das UPPs, o objetivo é afastar os moradores de rua do eixo Centro-Zona Sul, confinando-os às regiões das Zonas Norte ou Oeste. Estas não fazem parte do mapa da cidade para efeito de políticas públicas, servindo apenas como dejeto de tudo que não é adequado às áreas nobres da cidade. A finalidade é deixar a população de rua junto com os traficantes em algum lugar isolado como Piedade ou Santa Cruz.

Obviamente, impedir que pessoas durmam embaixo dos viadutos ou em bancos de praça não irá resolver o problemas destas. Apenas deslocar, o que parece atingir à necessidade dos órgãos da prefeitura. Entretanto, faz-se necessária uma política de reinserção destes indivíduos na sociedade organizada, primeiro através de ações sociais e posteriormente por meio de medidas que permitam a absorção destes pelo mercado de trabalho.

Não custa lembrar que muitos destes “moradores de rua” são catadores de latinhas ou de papelão – desempenhando um papel importante não somente na economia quanto no meio ambiente. Muitas vezes são pessoas que possuem suas casas, mas a distância e o trabalho de sol a sol impedem que retornem todos os dias para seus lares. Estes demandam um tipo de medida diferente do requerido pelas populações típicas de rua.

Na prática, a medida tomada equivale a uma versão amenizada do famoso episódio do Guandu, onde mendigos teriam sido afogados às dezenas por ordem da então secretária de estado Sandra Cavalcanti. Infelizmente, mais de quarenta anos depois repete-se esta desagradável faceta de nossos governantes.

Que fique claro que não sou a favor de mendigos e assemelhados, mas sou a favor de políticas que os permitam sair desta situação. Varrer o problema para debaixo do tapete não adianta rigorosamente nada, apesar do prefeito atual professar a velha crença do início do Século XX de que “a questão social é caso de polícia.”

Entretanto, como o alcaide da cidade acha que foi eleito para governar a Zona Sul somos obrigados a ver este tipo de atitude elitista, paliativa e que não resolve rigorosamente nada.
Ou seja, lamentável.