Hoje teremos um segundo texto a ser repercutido aqui.
Mais uma vez o amigo Marco Aurélio Mello, do excelente “Doladodelá” – ao qual recomendo uma visita mais detida ao leitor – publicou esclarecedor texto, que republico aqui.
Acredito que os atores deste não sejam tão difíceis de determinar. É estarrecedor o que é narrado, e bom alerta para as pesquisas eleitorais de 2010.
Deleitem-se.
“Da série se perguntar, eu nego. Estamos em 2001. O diretor de programação vaidoso e exibicionista entra na redação de São Paulo, a maior do país, saca o celular de última geração e faz uma discagem rápida. Testemunhas ouvem o seguinte diálogo:
– É o Mont Blanc? (nome fictício, em homenagem às canetas que foram moda entre os emergentes, tempos atrás).
Do outro lado da linha, alguém responde e o tal diretor logo emenda:
– Oh Mont Blanc, assim não dá cara. Em terceiro lugar não dá. O Rio tá me enchendo o saco com essa história. Você precisa dar um jeito nisso.
O interlocutor parece argumentar, quando subitamente é interrompido:
– Não quero saber! Você precisa dar um jeito nisso! É ou não é por amostragem? Então, não tem probabilística coisa nenhuma. Do jeito que está não dá para ficar. Você vai ter que mudar isso! E desliga.
Curiosa, nossa testemunha, primeiro, quer saber se o tal Mont Blanc é quem está pensando e, em segundo lugar, se o diretor de programação da emissora teria mesmo poder para interferir no trabalho do homem que é avalista dos índices de medição de audiência, num sistema até hoje nebuloso, cuja a fórmula jamais foi bem explicada. A testemunha conseguiu confirmar a identidade do sujeito, mas não se aquele telefonema tinha mesmo a implicação que suspeitou-se na época. E qual seria?
Naquele ano, outra emissora de televisão levou ao ar um programa que, aos domingos, batia recordes de audiência. Artistas foram confinados numa casa e monitorados 24 horas por dia. O animador era o próprio patrão e a atração fez dos participantes celebridades da noite para o dia. Aos domingos, quando havia as eliminações, não raro a emissora líder amargava um terceiro lugar, fato inédito até então. Coincidência ou não, depois daquele telefonema, os números da atração foram deixando a pujança de lado até que o segundo programa naufragou e o projeto foi engavetado. O próprio patrão, desconfiado, estava decidido a mudar as regras do jogo e criar um instituto autônomo de medição. Foi quando o monopólio entrou no ‘reality show’. Numa ação intimidatória, enquadrou as agências de publicidade e o assunto do instituto independente logo caiu no esquecimento ‘por pressão do mercado’. A lógica se mantém a mesma até hoje. E pior, todas as decisões são pautadas por esses números, tanto pela emissora líder, quanto pelas concorrentes e até, pasmem, pelos patrocinadores, entre eles estatais e Governos. Portanto, nas próximas eleições, vale tomar todo o cuidado com aspectos como: metodologia, série histórica, margem de erro e, principalmente, os interesses ocultos. Aí residem todos os sortilégios da manipulação. “

One Reply to “Institutos de pesquisas, empresas jornalísticas e anunciantes”

  1. Se perguntar eu nego.

    É conhecido dentro da maior emissora do país que os votos para eliminação de conhecido reality show se utilizam de pesos para se estabelecer o percentual de votação para a eliminação de determinado concorrente. Mais peso para os votos que rendem dinheiro à empresa pelo compartilhamento de produto (as empresas de telecom paga um percentual à empresa pelas ligações e SMS enviados) e menos aos que lhe rendem apenas audiência (Internet).

    Só que tais pesos NUNCA foram deixados claros, o que nos leva a pensar que em tal programa se pode manipular a eliminação de um concorrente. Basta que os pesos MUDEM a cada votação.

    Eu particularmente já não gostava desse programa. Agora, gosto menos ainda…

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