A vida continua, hoje é terça feira e dia da coluna “Samba de Terça”.
Hoje, por sugestão da leitora Tânia Tgart, vamos falar de veha e boa Manga, 1983: “Verde que Te Quero Rosa, Semente Viva do Samba”.
A verde e rosa vinha em uma fase de resultados magros. Seu último título havia sido em 1973 e a escola havia passado até por risco de rebaixamento em 1980, quando obteve o oitavo lugar com o enredo “Coisas Nossas” – o clássico desfile onde doparam o grande Garrincha para que ele pudesse desfilar.
Para o carnaval de 1983, a Mangueira optou por uma volta às suas origens. Cinco anos após cantar seu cinquentenário, a Estação Primeira optou por um enredo onde relembrava seus últimos quatro carnavais campeões: “Reminiscências do Rio Antigo” (61), “O Mundo Encantado de Monteiro Lobato” (67), “Samba, Festa de um Povo” (68) e “Lendas do Abaeté” (1973).
Max Lopes, que vinha de um excelente trabalho na União da Ilha (o inesquecível “É Hoje”) foi contratado para desenvolver o enredo, cujo título foi retirado de um dos discos de Cartola.
A Mangueira foi a quinta escola a desfilar na noite de domingo de carnaval, 13 de fevereiro de 1983. A escola trazia um carro “pede-passagem” com o nome da escola e do enredo (foto ao alto), iniciando seu desfile com 3 mil componentes e mais de 50 alas.
Seu primeiro setor mostrava a comunidade da escola e trazia um trem como carro alegórico, que soltava fumaça. O setor sobre o Rio Antigo se valia de figuras de Debret, com alegorias de mão em suas fantasias.
Após vinha o setor dedicado a Monteiro Lobato, focado nos personagens do “Sítio do Pica Pau Amarelo” – que era um grande sucesso na TV Globo aquele momento. Tripés, palha e motivos africanos relembravam o desfile de 1968.
“Lendas do Abaeté” trazia a ala das baianas em branco e rosa. No final do desfile, tripé trazia um destaque representando Mestre Cartola.
Infelizmente, a escola patinou em problemas de Harmonia com abertura de pequenos claros no final da escola, bem como a costumeira invasão de pista que havia naquela época. Além disso, a bateria desfilou sem chapéu, o que prejudicou o julgamento da escola.
Na apuração dos resultados, a escola obteve o quinto lugar, com 193 pontos. Em um resultado muito contestado, a beija Flor mais uma vez se sagrou campeã do carnaval. Deve isto especialmente às notas do jurado Messias Neiva, que deu nota dez somente para a escola da Baixada e outras muito baixas para as suas concorrentes. Estranho…
Vamos à letra do samba, que pode ser ouvido, em sua versão de estúdio, aqui. Seus autores são Heraldo Faria, Flavinho Machado e Geraldo Neves. Os dois primeiros, multicampeões em Niterói – Heraldo Faria é autor de “Afoxé”, que abriu a nossa série.
“Amor, vem agora
Ver o esplendor do luar
A noite é linda senhora
Que o poeta vai acordar
Desperta Cartola
Vem pra avenida
Se a Mangueira é uma porta aberta
Você é a razão da sua vida
Você plantou, viu germinar
E a semente cresceu formosa
Deu Mangueira verde de manga rosa
Seus frutos de alegria e tristeza
Afagaram o pranto
Acendendo a chama da beleza
Seu nome é poesia
Nasceu da Primeira Estação
As suas pastoras, estrelas de um novo dia
É forca, é raça, é coração
Cantar, cantar, brincar, brincar
Deixa a brisa da euforia nos levar
Para reviver de novo
Tradições do Rio antigo
Monteiro Lobato, samba festa de um povo
Lendas do Abaeté
Mangueira é um canto de fé
E leva o samba na poeira e no pé”
Abaixo, um vídeo do desfile.

A coluna dará uma parada nestas festas de final de ano, e retorna dia 12 de janeiro com mais um samba de uma escola do Grupo Especial: Unidos de Vila Isabel, 1990, “Se Esta Terra Fosse Minha”. Sugestão do leitor Paulo Renato Vaz.
Relembro que o blog segue normalmente, com atualizações diárias, neste período de festas.

4 Replies to “Samba de Terça – "Verde que Te Quero Rosa, Semente Viva do Samba"”

  1. Mangueira já teve horrível. Para cair para a “Segundona” diversas vezes. Mas..sempre recebe a “Nota amiga” para se safar.

  2. Este enredo era sobretudo uma homenagem ao grande Cartola enfatizando a seu melhor momento de inspiração: a criação da Estação Primeira de Mangueira.

    O carnavalesco foi até muito infeliz em enfatizar alguns desfiles da escola. Leia a letra e constatarão: o enredo fora Cartola e o seu maior momento de inspiração e não tais desfiles campeões como cita nosso grande colega em seu blog. Cartola foi enredo de Mangueira e este foi um dos maiores argumentos na tentativa de se fazer dele novo enredo de Mangueira em ano de seu centenário aliado ao fato de Mangueira rejeitar homenagens pós-morte. É lema da escola homenagear em vida!!! Embora, venha ocorrer exeções.

  3. Migão, a Mangueira, assim como a Portela, são as escolas de maior tradição do samba carioca. E, ainda, as de maior torcida, creio. Infelizmente, desmandos de diretorias já deixaram nossas escolas em situações pra lá de delicadas. Mas ambas merecem ser reverenciadas por tudo o que já fizeram pelo carnaval da Cidade Maravilhosa.
    Quanto ao fato da ajuda em notas de jurados, isso sempre existiu, infelizmente, com a Manga, com a Portela e com várias outras.
    Na verdade, a gente sabe que tem “efeito bastidores”, mas a paixão continua mobilizando, não?
    “Verde que te quero rosa” foi um bom samba, trazendo uma homenagem mais do que justa. Foi emocionante ouvi-lo novamente na avenida, há dois anos, com a Mangueira do Amanhã.

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