A revista Carta Capital desta semana traz uma matéria bastante interessante sobre uma reforma agrária “feita ao avesso” em Tocantins.

Resumidamente, a história é a seguinte: em conluio com o Judiciário local, políticos do estado – capitaneados pelo então Governador Siqueira Campos e pela então presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Tocantins, a hoje senadora Kátia Abreu – simplesmente desapropriaram terras ocupadas há décadas por pequenos proprietários familiares.

As terras ‘desapropriadas’ foram repassadas a políticos e juízes ao preço irrisório de R$ 8 o hectare. A maior beneficiada foi a hoje senadora Kátia Abreu, notabilizada no Congresso Nacional por sua defesa intransigente dos interesses ruralistas e latifundiários, bem como da monocultura de exportação e da cadeia para aqueles que defendem o direito democrático à terra.

Como resultado da desapropriação – que a matéria define como “grilagem de Estado” – substituiu-se a agricultura de subsistência pela monocultura de soja, com já comprovados danos ao meio ambiente. Desalojaram-se pequenos agricultores de suas terras obtidas legalmente para o benefício de uns poucos. A Senadora em questão foi a maior beneficiada pela manobra de desapropriação e posterior revenda das terras.

Ressalte-se que os agricultores desalojados possuíam títulos legais de propriedades, declarados nulos após uma manobra do Poder Judiciário local.

Este caso dá bem a medida de como as instituições ainda são frágeis no interior do país e de como impera a “lei do mais forte”. Verdadeira “Terra de Marlboro”.

Outra faceta que temos de ressaltar é o patrimonialismo das classes dirigentes, que enxergam o Estado como sua propriedade e estando a seu serviço. Ultimamente, o verdadeiro desprezo por aqueles que deveriam ser a razão de existir do Estado e da Justiça, tratados que são como espécies indesejáveis a seus propósitos. A intransigente defesa da “lei e da ordem” só serve quando atende a seus interesses; caso contrário, rasgue-se a lei. Juízes existem para isso.

Isso, sem contar nos danos ao meio ambiente causados pela cultura da soja.

Lamentável.

(Nas fotos, a hoje senadora Kátia Abreu e Siqueira Campos, ex-governador do Estado)

5 Replies to “Reforma Agrária às avessas em Tocantins: uma vergonha”

  1. Henrin, a matéria traz alguns documentos judiciários e depoimentos.

    Eu conheço um pouco a situação de Tocantins, lá a situação é bem estranha mesmo nestes aspectos.

  2. “A senadora Kátia Abreu (DEM) não engoliu a reportagem da revista Carta Capital sobre suposto esquema, envolvendo a senadora, de apropriação de terras no município de Campos Lindos, Tocantins. Em nota oficial enviada à imprensa, a senadora afirma que em razão de sua defesa em favor da propriedade privada tem sido vítima de acusações caluniosas e difamatórias, como é o caso do conteúdo do artigo constante na referida revista.

    Sobre as denúncias, Kátia afirma que “é proprietária de terras no município de Campos Lindos, devidamente escriturada, registrada e quitada, tendo a posse mansa e pacífica da mesma desde a sua aquisição. No que diz respeito ao senhor Juarez Reis deve ser destacado que o mesmo é invasor contumaz de terras alheias naquele município e municípios vizinhos, fato esse atestado por todos que lá residem bem como pela delegacia de polícia do município”, disse Kátia na nota.

    Por fim a senadora informa que entrará na justiça conta a revista e que “continuará defendendo a instalação da CPMI para apurar doações de recursos públicos para movimentos que têm como objetivo a invasão de terras privadas”.

    http://www.ogirassol.com.br/pagina.php?editoria=Politica&idnoticia=11398

    Olha aí a Senadora se defendendo…

  3. Os movimentos de invasão que a senadora diz, são movimentos sociais. E esses movimentos só se tornam ilegais porque o poder judiciário com o alvará do poder governamental, legitimam a propriedade privada em benefício de poucos. Portanto, a luta pela terra é conflituosa a medida que esses movimentos coincidem com os interesses políticos e econômicos do Estado.

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