O vídeo:

Módulo 1

Julgador: Rafael Barros Castro

  • Porto da Pedra – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 10
  • Grande Rio – 10
  • U. da Tijuca – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mocidade – 10
  • Portela – 9.9
  • Vila Isabel – 10
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 10
  • Viradouro – 10

Apenas duas notas abaixo de 10 – ambas 9,9. Na Porto da Pedra ele apontou que a fantasia usada pela bateria abafou o som produzido por ela, especialmente das caixas e isso atrapalhou o resultado. Aqui, nada a comentar, pois foi notado ainda na Sapucaí quando a bateria passou.

Já na Portela (acima, a apresentação na íntegra para os dois primeiros módulos) ele escreveu que a afinação grave das marcações dos surdos de primeira e segunda favoreceram o enredo afro, mas que isso acabou causando perda de destaque para os de terceira – isso teria causado uma defasagem da timbragem da bateria.

Aqui, a discussão já ganha certo escopo. Não se duvida que as baterias precisam estar equalizadas a ponto que nenhum dos naipes “sumam” do resultado sonoro completo da bateria. Porém, a Portela tem como tradição, desde os tempos de Mestre Betinho, afinar seus surdos de marcação de forma extremamente pesada, grave. 

Isso inclusive dificultava a aceleração da bateria, que passou a ser exigido a partir do fim dos anos 90. Justamente pelo surdo ter uma afinação muito grave e ser muito potente (o famoso surdo “treme-terra” como o próprio nome já diz) ele precisa de um certo “espaço” entre duas batidas.

Isso só foi resolvido justamente quando o mestre Nilo Sérgio assumiu em 2006 e mudou alguns detalhes técnicos dos surdos da Portela, os trazendo para uma zona menos grave e possibilitando uma aceleração do ritmo mais limpa.

Acredito que junto com este samba, no qual Nilo trouxe várias bossas típicas dos terreiros das religiões afro (e muito bem encaixadas na mensagem de cada trecho do samba), ele também aproveitou para retornar a Portela às origens e devolveu uma afinação mais grave aos surdos.

Escrevi isso tudo apenas para externar meu receio de que, mesmo sem querer, uma justificativa dessa acabe desrespeitando as características históricas de uma bateria, como foi muito comum na década passada com a bateria da Mocidade. 

Pela própria justificativa do julgador, os surdos de terceira estavam lá; só não estavam devidamente “equalizados” em relação aos outros dois surdos. Mas até que ponto essa diminuição dos surdos de terceira não são parte dessa tentativa de retomada de um toque tradicional da bateria?

Não estou dizendo que a justificativa está certa ou errada, mas acredito importante o estímulo à discussão, até estabelecermos o que se quer do julgamento deste quesito.

Nas considerações finais o julgador fez três comentários para o aprimoramento do desfile:

  • A manutenção regular da cadência do samba do momento inicial ao final permite aos brincantes e, principalmente, ritmistas, uma execução aprimorada das bossas e do próprio samba
  • Os instrumentos musicais complementares ou adicionais permitem explorar novos timbres e recursos sonoros sem afetar a formação tradicional das escolas
  • É preciso uma atenção especial aos materiais das fantasias da bateria pois podem prejudicar o resultado sonoro.

Especialmente quanto ao primeiro ponto, também saí da Sapucaí com a sensação que muitas escolas começaram jogando o samba muito para frente para depois cair bastante de andamento à medida que o desfile prosseguia. Em alguns casos a queda foi tão grande que o samba começou a arrastar.

Módulo 2

Julgadora: Mila Schiavo

  • Porto da Pedra – 9,8
  • Beija-Flor – 9,9
  • Salgueiro – 10
  • Grande Rio – 10
  • U. da Tijuca – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mocidade – 10
  • Portela – 9,9
  • Vila Isabel – 10
  • Mangueira – 9,9
  • Tuiuti – 10
  • Viradouro – 10

Depois de ser a primeira julgadora a dar nota 10 para todas as escolas em 25 anos, mesmo que com motivo justificado no caderno, Mila deu apenas oito notas 10, o que para o padrão recente de Bateria é baixo.

Nas justificativas como vocês verão abaixo a julgadora escolheu um critério de julgamento específico fazer um comparativo mais minucioso neste a fim de tentar criar algum ponto para conseguir descontar mais escolas.

Dessa forma, lá se foi um décimo da Porto e da Portela porque os chocalhos não tocaram em uníssono o mesmo padrão, outro da Beija-Flor porque as caixas não teriam tocado com precisão a bossa do trecho “tem mironga” e mais um da Mangueira pelo mesmo motivo nos ganzás.

O único décimo dos cinco que foge a essa regra, é o segundo décimo da Porto da Pedra que foi embora pelo sempre polêmico e incompleto “pouca criatividade e versatilidade em comparação com as outras escolas”.

Mais uma vez voltamos a discussões já longamente travadas nesta Justificando em anos anteriores. O que seria criatividade para a julgadora? Por que na visão dela a bateria da Porto teve pouca criatividade? O que a Porto não apresentou que todas as outras onze baterias apresentaram para não perder esse décimo? Tudo isso ficou faltando nessa justificativa curta e incompleta.

Em suas considerações finais a própria julgadora explicou com mais detalhes o que descrevi acima: “O foco da julgadora foi analisar as baterias do ponto de vista técnico, realizando assim um comparativo entre as escolas, sempre respeitando a característica de cada escola e pontuando com base no Manual da LIESA no que se refere ao item ‘perfeita conjugação dos sons emitidos pelos vários instrumentos’ foi analisado, em cada naipe, a execução dos ritmistas tocando em uníssono e se era possível escutar com clareza cada naipe.” 

Módulo 3

Julgador: Phillipe Galdino

  • Porto da Pedra – 9,9
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 10
  • Grande Rio – 10
  • U. da Tijuca – 10
  • Imperatriz – 10
  • Mocidade – 10
  • Portela – 10
  • Vila Isabel – 10
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 10
  • Viradouro – 10

Apenas uma nota diferente de 10, logo só tem uma justificativa para analisar. No caso a da Porto da Pedra que perdeu o décimo porque a execução das duas rufadas de caixa após “conselheiro imortal” foram prejudicadas pelo andamento acelerado da bateria ficando sem “espaço” para uma execução. Além disso, a segunda rufada se choca com uma intervenção dos surdos de terceira embolando a sonoridade da bateria.

Se pouco escreveu nas justificativas, o julgador entrou no “modo pistola” nas considerações finais. No domingo, escreveu um recado ríspido para Mestre Pablo, da Porto da Pedra: “Prezado Mestre Pablo, como o sr. bem deve saber, bossas complexas precisam de ‘espaço’ para serem bem executadas. A bossa da primeira do samba é muito boa mas ‘sofreu’ por conta do andamento acelerado. Muita informação, não dando tempo aos ritmistas para executá-la organicamente, dando uma percepção de afobamento na execução.”.

Além disso, elogiou a bateria do Mestre Fafá por ser a bateria mais cadenciada da noite.

Já nas considerações de segunda-feira, ele deixou claro que só não descontou Portela e Vila Isabel porque ele só pode julgar a execução em frente ao módulo porque ambas teriam tido uma queda profunda em seu andamento durante o desfile. 

Além disso também pontuou:

  • Que a sonoridade dos surdos de terceira tende a “sumir” na massa sonora e solicitou aos mestres uma atenção especial a isso para tentar minimizar o desequilíbrio de som
  • Anotou que a bateria da Viradouro foi a mais cadenciada da noite
  • Parabenizou os Mestres Rodrigo e Taranta da Mangueira pelos arranjos criativos e bem executados

Módulo 4

Julgador: Ary Jaime Cohen

  • Porto da Pedra – 9,8
  • Beija-Flor – 10
  • Salgueiro – 9,9
  • Grande Rio – 10
  • U. da Tijuca – 10
  • Imperatriz – 9,9
  • Mocidade – 9,9
  • Portela – 10
  • Vila Isabel -10 
  • Mangueira – 10
  • Tuiuti – 9,9
  • Viradouro – 10

Cohen deu apenas sete notas 10, a menor quantidade em bateria desde 2020. Normalmente costumo reclamar que ele dá justificativas incompletas, mas esse ano isso melhorou. Apenas senti falta de um complemento na justificativa da Mocidade quando ele escreveu apenas que “na passagem do módulo houve uma flutuação da pulsação rítmica”. Foi em que momento? Essa flutuação foi para cima, para baixo? Foi curta, longa? Aqui acredito que faltou informação até para a escola entender o momento exato da ocorrência.

Algo bem parecido ocorre na Porto da Pedra, por mais que saibamos que isso realmente ocorreu em mais de um momento na apresentação para o módulo como ele bem apontou.

As outras justificativas estão bem claras: imprecisão em alguns tamborins na convenção da primeira do samba na Porto, aceleração súbita na marcação do surdo-pedal na última convenção saindo do módulo na Imperatriz e “convenções complexas não foram apresentadas no módulo” para Tuiuti e Salgueiro.

Justamente quero aproveitar essa última justificativa para jogar luz na única alteração que houve em todo o Manual do Julgador de 2023 para 2024. 

Até o ano passado havia uma indicação expressa em Bateria para não penalizar “o fato de qualquer bateria não parar em frente às Cabines de Julgamento, desde que em condições normais de deslocamento durante o seu Desfile, tendo em vista não ser obrigatória essa parada”.

Para 2024 essa indicação foi totalmente retirada do Manual e a explicação dada era que a bateria continua não obrigada a parar para se apresentar no módulo, mas que a não parada e, consequentemente, uma apresentação com menos bossas, convenções e afins poderá sim ser descontada em comparação com as outras baterias que apresentaram essas convenções. É uma questão lógica que consegue apresentar mais convenções a bateria que consegue ficar parada em frente ao módulo por uma passada inteira do samba.

Acredito que essa justificativa de Tuiuti e Salgueiro seja a primeira aplicação desta alteração.

Em suas considerações finais, o julgador também pediu uma atenção para a dificuldade da audição da cabeça dos médios nas baterias que usam surdo muito pesado/grave. Além disso, ele reclamou que o som da avenida está muito alto (mesmo desligando as caixas de som em frente ao módulo) e por isso sugere que a parada das baterias no módulo seja o máximo possível em frente a cabine do julgador.

Fechando o quesito bateria em sua totalidade, mais uma vez não vou comentar a chuva de notas 10. Como escrevi nos últimos anos, o nível está bem alto e eu prefiro deixar ocorrer altíssima quantidade de notas 10 do que começar a ver baterias perdendo décimos por causa de suas características históricas. Não vou negar que fiquei preocupado com o foco nos surdos de marcação muito grave dado neste ano.

Recomendação para a LIESA em Bateria:

  • Tentar resolver o eterno problema do som da Sapucaí. Nos últimos anos sempre está havendo julgadores reclamando que problemas no som dificultaram o trabalho de avaliação das baterias.
  • Permitir a utilização do critério comparativo nas justificativas, desde que o julgador deixe claro o que “faltou” na comparação das escolas que perderam ponto em relação às que receberam 10, com exemplos se possível. Isso talvez facilite o trabalho de julgamento das baterias.

Imagem/Vídeos: Pedro Migão – Blog Ouro de Tolo

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